Jornal Correio Braziliense

Politica

Lula traça como meta reorganizar petistas em Minas Gerais e São Paulo

Estratégia passa pela reaproximação da legenda com a classe média

Inquieto com os limites da vida de palestrante vedete, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer retornar logo ao dia a dia da política e traçou como meta mergulhar no PT para reorganizar o partido nos dois principais redutos eleitorais do PSDB: São Paulo e Minas Gerais. Durante todo o governo, Lula queixou-se da incapacidade de o partido capitalizar as ações federais e deixar que os estados comandados por adversários engolissem a paternidade dos projetos.

O afastamento do PT agravou-se depois do escândalo do mensalão, em 2005, em parte patrocinada por Lula, que usou essa estratégia para manter o capital político e não se afundar na turbulência que arrastou o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu. Agora, a intenção é usar a popularidade construída para reaproximar a legenda da classe média ; o eleitorado mais ativo e influente nas campanhas paulista e mineira.

Nas classes C, D e E ; as mais beneficiadas pelas políticas públicas dos últimos oito anos ;, a meta é mostrar o PT como única legenda capaz de manter o legado de seu governo. A mais recente pesquisa do Ibope, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostrou que a presidente Dilma Rousseff já é identificada pela maior parte da população como a herdeira de Lula. O ex-presidente não quer que o distanciamento se mantenha na administração de sua sucessora.

Lula até agora se manteve distante do dia a dia partidário limitando suas aparições a palestras privadas. Ontem, discursou para um Fórum de Líderes patrocinado pela Microsoft em Washington (EUA). O ex-presidente centrou o discurso na educação e defendeu o governo de sua sucessora dizendo que ela não pode ser julgada pelos primeiros meses, mas pelos quatro anos. ;Em 100 dias a gente está aprendendo os corredores, as cadeiras e a abrir as gavetas;, afirmou Lula, que já palestrou no Catar, e tem na agenda um evento de banqueiros em Acapulco, no México, e de telefonia em Londres.

Prefeitos
Em São Paulo, a primeira tarefa de Lula será uma reunião com prefeitos petistas. ;Vamos colocar o Lula para conversar com os prefeitos, aproveitando que ele quer mergulhar na política do partido;, afirmou o prefeito de Osasco, Emídio de Souza. A reorganização tem como meta afinar o discurso com a classe média paulista, começando do zero por conta do fracasso das últimas estratégias eleitorais. A constatação é que o PSDB, do governador Geraldo Alckmin (PSDB), tem na ponta da língua os anseios dessa parte do eleitorado e o PT, não.

A meta imediata para 2012 é reconquistar a prefeitura de Santo André (SP), e tradicional reduto petista, que estava nas mãos da legenda desde 2000. A segunda é viabilizar um candidato forte na capital com chance de vitória em 2012. Os petistas avaliam que o único tucano imbatível é José Serra, que não pretende disputar a prefeitura.

Em Minas, a tarefa começa por uma harmonização das atuações da bancada federal governista com a estadual de oposição ao governador Antonio Anastasia (PSDB). ;Nós vamos buscar fazer mais por Minas mostrando quais são as obras e projetos do governo federal;, afirmou o deputado Reginaldo Lopes, presidente do PT estadual. Em Belo Horizonte, os petistas querem que o prefeito Márcio Lacerda (PSB) rejeite uma aliança com o PSDB. Uma das iniciativas de dar mais visibilidade para projetos federais em Minas, na visão de Lopes, é o gabinete presidencial que será aberto em Belo Horizonte.