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Politica

Livro relaciona o nascimento de Obama à peça de Vinicius de Moraes

O quadragésimo quarto presidente dos Estados Unidos bem que poderia se passar por brasileiro: tem traços que não o relacionam de imediato com país nenhum, é extremamente popular e de sorriso fácil, cativante. O jornalista fluminense Fernando Jorge, irrequieto e profícuo mesmo aos 81 anos, considerou as coincidências muito a sério, desde que pela primeira vez um afroamericano conquistou a maioria dos eleitores norte-americanos nas urnas e ganhou poltrona de chefia na Casa Branca. Tanto que, no segundo semestre do ano passado, lançou Se não fosse o Brasil, jamais Barack Obama teria nascido (Editora Novo Século), uma investigação analítica, histórica e cultural sobre o vencedor do prêmio Nobel da Paz de 2009. A teoria, que exigiu do biógrafo de Getúlio Vargas, Olavo Bilac e Santos Dumont leituras e pesquisas extensas, é simples: se o poeta Vinicius de Moraes não tivesse escrito a peça Orfeu da Conceição, adaptada no filme Orfeu negro (1959), Barack Hussein Obama II não teria nascido. ;Escrevi o livro levado pelo entusiasmo;, conta Jorge. A hipótese é delirante, mas curiosa.

Stanley Ann Dunham, mãe do presidente, era branca. Ainda jovem, foi ao cinema ver a novidade tecnicolor Orfeu negro ; filme realizado pelo irmão do escritor Albert Camus (de O estrangeiro), Marcel, e consagrado na temporada de premiações (Palma de Ouro em Cannes e melhor estrangeiro no Oscar e no Globo de Ouro). A trama, baseada em texto do poetinha, atualiza o mito de Orfeu e Eurídice: em vez do Olimpo, o cenário para a história de amor entre os dois é o carnaval do Rio de Janeiro. Ela saiu da sessão deslumbrada. Algum tempo depois, já morando no Havaí, Ann conheceu um certo queniano, Barack Hussein Obama, numa aula de russo. E deve ter saído da sala de estudos igualmente encantada. Para Jorge, a paixão da jovem do Kansas por Obama só aconteceu por causa das feições do ator Breno Mello, ex-atacante do Renner e protagonista do filme, que lembram características físicas do estudante africano. ;Meu livro não é um hino de louvor a ele. Apresentei uma tese que, na minha opinião, tem base lógica;, observa o autor.

Decepção

Fernando Jorge diz que está em negociações para publicar o livro nos Estados Unidos. As reações de uma possível leitura do atual presidente não o preocupam. ;Não sei se ele vai achar, ;o que esse Fernando está pensando, que minha mãe era fácil?;. Pode ser que ele se irrite com isso;, acredita. Mas o pesquisador está mais preocupado com o cumprimento de promessas de campanha de Obama do que com possíveis reprimendas sobre o conteúdo da tese. ;Estou meio desiludido. Ele está me dando a impressão de ser um político brasileiro. Prometeu coisas que não cumpriu;, lamenta. E, como bom polemista, vocifera: ;A nação que é considerada a mais rica se empobreceu. Para salvar os bancos da crise, ele prejudicou os serviços públicos do país. Afirmou que a prisão de Guantánamo seria fechada em um ano após a posse. Passaram-se praticamente dois anos. E nada;, aponta.

A vinda de Obama ao Brasil significa uma preocupação energética, segundo Jorge. ;Hoje, os Estados Unidos precisam mais do Brasil. Temos enormes reservas de matéria-prima e tecnologia em biocombustíveis. E, agora, os EUA, em decadência, estão de olho no nosso pré-sal. Seria de vital interesse para eles, ainda mais depois dessa crise no Oriente Médio;, acredita.