Ao fim da convenção nacional do Democratas, realizada na tarde de ontem, em Brasília, o crachá de participante do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, permanecia sobre a mesa de credenciamento. A ausência do paulista e as respostas pouco convincentes de alguns parlamentares quando perguntados se permaneceriam no partido foram sinais claros de que a sigla, na prática, não tem a unidade que tenta pregar. A eleição dos políticos que permanecerão na executiva nacional até o fim do ano e do senador José Agripino (RN) para um mandato-tampão como presidente foi recado direto à cúpula da legenda: o DEM ganhou um voto de confiança, mas com prazo de validade estabelecido.
Nomes cotados para acompanhar Kassab na empreitada do novo partido, o PDB, estiveram presentes na convenção. A senadora Kátia Abreu (TO), o ex-candidato a vice-presidente da República Índio da Costa (RJ) e o deputado Rodrigo Garcia (SP) afirmaram que continuam no DEM, mas as frases eram sempre acompanhadas da expressão ;por enquanto;. Na tentativa de evitar mais desgastes causados pelo assunto, Agripino minimizou a duplicidade presente nos discursos.
;Cabe a mim estabelecer a convivência entre os diversos segmentos do partido. Quem é que não sabe da existência de divergências no PMDB, no PT e em outras legendas? Eu sou um conciliador e a minha missão é promover essa harmonia e dar oportunidade a quem merece;, disse o senador, para, em seguida, alfinetar os possíveis desertores. ;Quem for detentor de mandato e optar por sair, o DEM tomará as medidas que a lei recomenda e, em muitos casos, exige.;
As declarações de Kátia Abreu, porém, foram na contramão das palavras de Agripino. De acordo com ela, a desfiliação não está descartada e mudanças na sigla são necessárias. A senadora classificou a gestão do deputado Rodrigo Maia (RJ) como desastrosa e não poupou críticas ao parlamentar, que integra um grupo dentro do partido que teve sérias desavenças com a corrente da qual ela faz parte, ao lado do ex-senador Jorge Bornhausen, um dos fundadores do então PFL.
;A administração de Rodrigo Maia foi terrível, uma decepção nacional. Sofremos uma diminuição violenta por causa de erros gravíssimos e, por isso, o partido chegou onde chegou. Nunca pensei que isso pudesse ocorrer;, disparou. Questionada sobre qual seria o erro mais grave cometido por Maia, ela foi direta: ;Foi uma sucessão de erros em termos de comando, mas se pudesse destacar um, diria que foi a falsificação da ata do partido. Foi imperdoável.;
Silêncio
Rodrigo Maia chegou à convenção acompanhado do pai, o ex-prefeito do Rio de Janeiro César Maia, e não quis entrar na polêmica. Sobre os ataques da senadora, respondeu somente que aceitava as críticas, mas que nada iria diminuir o que fez pelo Democratas. Ele aproveitou para destacar que os que compareceram ao evento são os que realmente querem ficar na oposição e que o DEM tem planos de um projeto nacional focando nas eleições de 2014.
Se de um lado as críticas foram muitas, de outro um elogio mexeu com o ex-presidente. Ao compor a mesa que comandou a convenção e a eleição por aclamação de Agripino Maia à Presidência do DEM, Maia foi homenageado pelo líder do partido na Câmara, Antonio Carlos Magalhães Neto (BA). ;Rodrigo Maia colocou o interesse coletivo acima dos individuais. Soube ser amigo dos amigos, correto com os companheiros e liderar o DEM como precisávamos;, declarou o baiano. Rodrigo Maia foi às lágrimas.
Estatuto alterado
O ex-presidente do DEM Rodrigo Maia foi acusado de adulterar trechos do estatuto do partido para fortalecer-se e minar adversários. A manipulação serviu como estopim para a guerra interna no Democratas. O documento aprovado por todos afirmava que a atribuição do Conselho do partido era ;decidir; sobre alianças e ;indicar; os candidatos. Maia alterou o texto e a nova versão afirmava que o órgão deveria ;recomendar; alianças e ;propor; nomes de candidatos. Em sua defesa, o ex-presidente afirmou que a alteração foi feita para adequar o estatuto à legislação trabalhista.