Marcada para amenizar as tensões internas do Democratas, a convenção nacional do partido ; que só ocorreria no fim deste ano e, portanto, terá caráter provisório até lá ; deve expor ainda mais as fraturas da sigla. O encontro agendado para hoje, em Brasília, será uma radiografia da desidratação iminente na legenda. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, um dos quadros mais importantes do DEM, não vai continuar na legenda e pretende arrastar com ele outros parlamentares para um novo grupo, o Partido da Democracia Brasileira (PDB) (veja Entenda o caso). As ausências de Kassab e de parlamentares que o acompanharão são dadas como certas e, juntando os cacos, os integrantes do ex-PFL tentam recuperar o fôlego na política nacional.
Cientes do momento instável, os grupos do ex-senador Jorge Bornhausen (SC) e do atual presidente da legenda, Rodrigo Maia (RJ), deixaram desavenças de lado e buscaram um arranjo na tentativa de estabilizar o partido. Assim, conduzirão o senador José Agripino (RN), um dos fundadores do então PFL, ao comando da sigla. O discurso está afinado. Os integrantes do DEM, independentemente do lado que defendem, garantem que o pior momento passou.
O líder do partido na Câmara, Antonio Carlos Magalhães Neto, diz que o dia é de festa e que não há espaço para constrangimentos. ;O prefeito Gilberto Kassab não confirmou presença, mas também não avisou que faltaria;, avisa o parlamentar baiano. ;Mais do que um acordo, o nome do senador José Agripino foi um consenso em torno de uma ideia;, completa ACM Neto.
Os esforços estão concentrados para que o DEM seja o protagonista do dia, apesar da possibilidade, ventilada ontem, de que Kassab pudesse anunciar a saída do partido ainda hoje. Pessoas próximas ao prefeito destacam que a chance de isso ocorrer é remota porque a notícia atrapalharia a divulgação da nova executiva nacional e Kassab criaria desgaste desnecessário com caciques da sigla, incluindo Bornhausen, padrinho político do paulista. De acordo com essas fontes, o anúncio oficial do adeus está previsto para o dia 23.
O coro ressaltando a agenda positiva do DEM é tão forte que até um jantar foi marcado, ontem, na casa da senadora Kátia Abreu (TO), para arrumar os últimos detalhes sobre o que será dito hoje. Kátia, aliás, é a integrante do Democratas no Senado mais cotada para seguir Kassab. A mudança, porém, não ocorrerá agora e ela participará do evento. A avaliação de dirigentes do partido é de que a presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária(CNA) ainda tem quatro anos até as eleições estaduais para se mover.
Reinvenção
Os parlamentares aliados de Gilberto Kassab reforçam a corrente de que o partido ficará bem mesmo com a saída do prefeito. O deputado mineiro Marcos Montes, um dos integrantes da legenda mais próximos de Kassab, foi escolhido para ser secretário-geral do DEM e defende a tese de que o problema está superado. Segundo ele, o partido passou por crises piores do que essa e precisa entender a posição do prefeito.
;Não adianta lutar contra o inevitável. Precisamos seguir em frente sem repetir os erros do passado. Lamentavelmente, quem dirigia o partido até agora abriu mão de quadros experientes. É claro que a juventude é fundamental, mas não faz sentido deixar de ouvir conselhos de quem criou o DEM;, pondera Montes. ;Temos de entender que não somos mais o partido pop que éramos. Agora, estamos em reconstrução;, conclui.