Passados os primeiros testes do governo no Congresso, a configuração política de base aliada e de oposição deve sofrer modificações substanciais no período pós-carnaval. Depois dos desgastes iniciais com questões polêmicas como o reajuste do salário mínimo, Código Florestal e a sucessão nas presidências dos partidos, as legendas aproveitarão os dias depois da festa para acomodar parlamentares descontentes e definir o alinhamento ao Palácio do Planalto. Há uma lista de situações pendentes tanto na Câmara quanto no Senado. Antes oposição, o PV iniciou o governo como partido independente, mas apresenta uma parcela de deputados federais que cada vez mais se alinham à presidente Dilma Rousseff. Em via oposta, setores do PDT tentam se afastar das amarras que o partido impõe para manter alta a cotação com o governo.
A nova configuração eleitoral que surgirá depois do carnaval, segundo cálculo de especialistas, deve incluir até mudanças de partido ; mesmo com a Lei da Fidelidade Partidária em pleno vigor e que proíbe trocas para legendas já existentes. Existem pelo menos 50 políticos descontentes com seus partidos, em busca de espaço mais vantajoso em outra sigla.
São senadores, deputados, governadores e prefeitos que estudam saltar do barco atual rumo a novos partidos. ;Fosse a troca de legenda permitida agora, pelo menos 200 políticos mudariam de partido, uma quantidade que até a Lei de Fidelidade era comum a cada início de legislatura;, aposta o diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Queiroz.
Insatisfeitos
Além da legenda a ser criada pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, há pelo menos um novo partido em pauta, para agregar adversários do atual político do DEM, descontentes com sua movimentação recente. A lista dos insatisfeitos inclui Gabriel Chalita (PSB-SP) e Luiza Erundina (PSB-SP). Partido da base governista, o PDT é um exemplo de legenda que ainda busca acomodação na base aliada. Embora tenha como maior ponto de conflito o deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP).
No caso de Paulinho, o flerte com a oposição serviria para assegurar ao deputado o espaço de interlocutor principal dos sindicatos com o governo. ;Desde que começou o governo, o Paulinho e parte do PDT têm adotado uma postura de oposição. Acreditamos que é um caminho equivocado dele procurar o PSDB, mas apostamos que a atitude não ganhará muita adesão. O Giovanni Queiroz (líder do PDT na Câmara dos Deputados) sabe que o melhor para ele é permanecer no partido e no governo;, aposta o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP).
Outra legenda que patina para definir seus rumos é o PV. O partido iniciou a legislatura dividido entre ser governo ou oposição. Os lados carioca e paulista da legenda pretendem abraçar um discurso independente ; com um pé na oposição. Já os parlamentares mineiros e o líder na Câmara, Sarney Filho (PV-MA), são simpáticos ao Planalto. Prova da divisão interna foi a decisão de liberar a bancada na votação do mínimo e de não subscrever a ação da oposição pedindo a inconstitucionalidade do reajuste.