Quando a senadora Marta Suplicy (PT-SP) cortou o microfone do colega Eduardo Suplicy (PT-SP) logo na primeira semana de mandato, o episódio repercutiu nos corredores da Casa e todos creditaram o gesto a uma espécie de represália ao ex-marido. ;Agora preciso obedecer à senhora vice-presidente;, acatou o senador, com quem Marta tem três filhos. Mas a reprimenda não se tratou de mero assunto doméstico.
Em três semanas à frente da Mesa do Senado ; posto que ocupa quando o senador José Sarney (PMDB-AP) está ausente ;, a petista já imprimiu o ;estilo Marta;, como classificaram alguns parlamentares, e se tornou o terror dos habitués da tribuna que não perdem a oportunidade de fazer um longo discurso.
Senadores da base e da oposição andam reclamando da nova ;cassadora de palavra;. ;Ela cassou a palavra do senador Suplicy no primeiro dia em que ele subiu na tribuna. Se cassou a palavra do Suplicy, também vai cassar a minha;, queixou-se Flexa Ribeiro (PSDB-PA), em discurso. ;O senhor ainda tem tempo, pode ficar tranquilo;, consolou Marta.
A novela, no entanto, continuou. E Flexa escalou o ex-marido de Marta como ;protetor;. ;Só estou me protegendo antecipadamente. O senador Suplicy, a meu pedido, veio me defender aqui.; E o tom doméstico criado graças à presença do ex-casal tomou conta da sessão. ;Ele não está defendendo nada. Veio aqui porque tem um papel que ele tem que assinar;, rebateu a senadora em plenário.
Se Flexa preferiu apelar para a piada como protesto contra o cerceamento, seu colega Mário Couto (PSDB-PA) não teve a mesma diplomacia. O tucano levantou a voz quando teve o discurso interrompido e reclamou que Marta privilegiou o colega de partido Jorge Viana (PT-AC) no tempo de discurso. ;Vou descer dessa tribuna certo de que não fui intimidado, certo de que, nesse Senado, ninguém vai cortar minha palavra, a palavra do meu povo;, protestou.
Via Twitter, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) também provocou a vice-presidente do Senado. ;Do jeito que a Marta corta o tempo dos pronunciamentos, daqui a pouco teremos que falar em 140 caracteres;, brincou, referindo-se ao limite de tamanho de cada mensagem publicada no microblog virtual.
Gramática
Os embates com Marta, senadora neófita na Casa, não têm sido privilégios do ex-marido ou da oposição. Até mesmo José Sarney precisou se manifestar para demarcar território. A petista interrompeu Sarney durante um pronunciamento para corrigir o peemedebista sobre o substantivo usado para se referir a Dilma Rousseff. ;Senhora ;presidenta;;, frisou Marta, após Sarney dizer ;presidente;. Membro da Academia Brasileira de Letras, Sarney retrucou: ;Muito obrigado a Vossa Excelência, mas sempre estou usando a fórmula francesa: madame le président. Todas as duas são corretas, senadora, gramaticalmente;.
Com o cartão de visitas da petista, os oradores têm subido à tribuna tensos quando Sarney não preside a Mesa. E sabem que a situação continuará assim, pelo menos nos próximos dois anos ; tempo em que Marta ocupará cadeira na diretoria do Senado.