Enquanto os parlamentares discutirão a proposta de reajuste do salário mínimo amanhã, uns sob a influência do Palácio do Planalto, que quer o valor de R$ 545, outros pressionados pelas centrais sindicais, que exigem ao menos R$ 560, cerca de 47 milhões de brasileiros que têm rendimento referenciado no piso estarão de olho no Congresso. A estimativa da quantidade de pessoas relacionadas ao mínimo é do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que prevê um incremento de R$ 211 bilhões na economia brasileira.
A maior parte das pessoas que recebem um salário mínimo por mês é beneficiária do INSS (quase 19,2 milhões). Pouco mais de 13,8 milhões são empregados e cerca de 8,7 milhões atuam por conta própria. Os trabalhadores domésticos que estão na conta do Dieese chegam a 5,1 milhões, muito acima dos 203 mil considerados pelo departamento como empregadores.
No setor público, o número de trabalhadores que ganha um salário mínimo é pouco expressivo nas administrações estaduais e na federal. Porém, nas esferas municipais, a participação é maior, principalmente na Região Nordeste. Por isso, o impacto do aumento do mínimo na massa de remuneração dos trabalhadores do setor público é superior nas administrações municipais do Nordeste e do Norte.
Polêmica
Nas ruas, a opinião sobre o reajuste ideal é dividida. Há quem pense que o aumento do salário mínimo poderia ter como espelho o contracheque de deputados, senadores, ministros e presidente da República, cujos vencimentos aumentaram em mais de 60% em alguns casos e passaram de 120% em outros.
A representante de vendas Lindonias Gorete, por exemplo, que recebe um salário mínimo por mês, diz que precisaria de pelo menos R$ 1 mil para viver bem, pagando as contas e conseguindo fazer alguma economia. ;Hoje, com um salário, a pessoa vai ao supermercado e passa fome. Tudo é caro. É muito difícil sobreviver com uma quantia dessas.;
Sem nódoa na imagem
Caso o governo vença a batalha no Congresso e consiga manter o valor de R$ 545 para o salário mínimo este ano, a imagem da presidente Dilma Rousseff não deverá ser afetada. Essa é a opinião dos cientistas políticos João Paulo Peixoto e David Fleischer, ambos da Universidade de Brasília (UnB). Segundo eles, a popularidade da petista não deverá sofrer impacto, porque ela está respeitando um acordo firmado entre o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e as centrais sindicais.
Quem perde, na visão de Fleischer, é o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), que defende o valor de R$ 580. ;A presidente Dilma está tentando conter as despesas para evitar a quebra dos estados e municípios mais pobres. Por isso, acho que ela não terá sua popularidade afetada. Quem perde força com a regulamentação dos R$ 545 é o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira;, acredita Fleischer, acrescentando que Dilma só terá problemas caso ocorram greves.
João Paulo Peixoto também considera que uma grande greve feita por trabalhadores por causa dos R$ 545 poderia desgastar a imagem da presidente e o governo petista. ;Outro fato que poderia abalar a popularidade dela é o aumento da inflação. Fora isso, ela estará respeitando o acordo existente para o mínimo;, diz o cientista político. (CK e LK)