Em seu aniversário de 31 anos, o PT se prepara para tentar resgatar os deputados que terminaram sugados pelo escândalo do mensalão. O primeiro movimento nesse sentido será a indicação do ex-presidente da Câmara e deputado João Paulo Cunha (PT-SP) para presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa. Internamente, o gesto vem sendo colocado como a ;redenção; do parlamentar, que, em 2005, foi acusado de receber R$ 50 mil da agência SMPB, do empresário Marcos Valério.
O retorno de João Paulo Cunha à ribalta é considerado crucial para os projetos do PT de, aos poucos, conseguir reduzir essa mancha na sua história. O objetivo do partido é, aos poucos, tentar mudar a imagem no que se refere ao mensalão. Em uma de suas últimas entrevistas, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o PT deveria enfrentar esse tema e mostrar que não houve o pagamento de mesada ou de vantagens para que seus deputados votassem a favor do governo. Para alguns petistas, Lula, com aquele gesto, estimulou seus correligionários a trabalhar no sentido de convencer o eleitorado de que não houve o mensalão.
Os petistas, entretanto, consideram difícil que o ex-presidente retome esse assunto hoje, um dia de festa. Será a primeira fala de Lula ao seu partido depois que transferiu a faixa presidencial para Dilma Rousseff. Por isso, ao contrário dos anos anteriores, a tradicional recepção numa suntuosa casa de festas da cidade ; onde a entrada de militantes era cobrada ; foi substituída por um ato político, que será no Teatro dos Bancários.
Reforma política
Assuntos para Lula conversar com o PT, aliás, não faltam. A expectativa dos parlamentares é a de que, como presidente de honra da sigla, Lula dê uma direção ao partido em temas como a reforma política. Esperam dele também um pedido formal de defesa intransigente do governo Dilma, especialmente no que se refere à votação do salário mínimo de R$ 545 no Congresso. Afinal, a direção partidária sabe que parte da bancada está com receio de segurar o apoio a esse valor e, depois, ficar desprestigiada se houver a negociação de valores mais generosos no calor das discussões.
Quanto ao mensalão, os petistas acreditam que o assunto venha a ser debatido em breve nas reuniões fechadas do diretório nacional, até porque o julgamento do processo no Supremo Tribunal Federal (STF), ao que tudo indica, deve ser este ano. A previsão do STF é apreciar o tema no segundo semestre. Será o maior julgamento da história do STF, com 38 réus. E também o maior da história do PT. Internamente, os parlamentares não têm dúvidas: para o bem ou para o mal, chegou a hora de o partido enfrentar esse debate.
Bandeira branca
O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), aproveitou o encontro com a presidente Dilma Rousseff ontem para hastear a bandeira branca da última batalha que ele travou em nome do partido em busca de cargos. Alves chegou ao Palácio do Planalto para acompanhar uma audiência que ele mesmo havia solicitado para a governadora do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini (DEM). Foi a primeira vez que os dois conversaram depois da discussão entre o líder e o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, por conta do veto às indicações da bancada do Rio para Furnas e o anúncio do nome de Flávio Decat para a Presidência da empresa. ;Furnas foi um caso pontual. Acabou. Disse à presidente que pode contar comigo e com o PMDB na votação do salário mínimo;, contou.
Na conversa, a presidente disse a Rosalba que o estado tinha um grande ;embaixador;, que, além de líder do PMDB, será o futuro presidente da Câmara. A declaração soou como música para os ouvidos de Alves, que pretende substituir Marco Maia (PT-RS) no comando da Casa daqui a dois anos.
Disputa
Os deputados, no entanto, estão convencidos de que os senadores do partido, em especial Renan Calheiros (AL), desejam disputar a Presidência do Senado daqui a dois anos. E sabem que o caminho estará mais livre se o PT conseguir eleger um dos seus para suceder o deputado Marco Maia. Daí a necessidade de enfraquecer Eduardo Henrique Alves.
Ciente do jogo dos senadores, Alves se reuniu na noite de terça-feira com o vice-presidente Michel Temer, Renan, o presidente do PMDB, Valdir Raupp, entre outros, e propôs o encaminhamento conjunto de todas as pendências do PMDB no que se refere a cargos no governo Dilma. A ideia da Câmara é não deixar os senadores no papel de ;bonzinhos; enquanto os deputados ficam com a fama de vilões que brigam pelos cargos. Agora, ou todos são classificados como aliados, ou todos levam a pecha de detratores. Essa definição dependerá do comportamento do governo e do próprio PMDB no decorrer das votações e do preenchimento dos cargos que restam. (DR)