Líderes petistas terão trabalho para acalmar a revolta de parlamentares da base após o anúncio dos cortes que levarão ao contigenciamento de 80% das emendas parlamentares. Às vésperas do envio do projeto de lei que estabelecerá em R$ 545 o salário mínimo ; valor ainda questionado por aliados e pela oposição ;, os líderes governistas terão que convencer os colegas a apoiar o Planalto, apesar da redução nos recursos do Legislativo. O corte nas emendas era esperado, mas o contingenciamento de mais de 80% ; R$ 18 bilhões dos R$ 21 previstos para 2011 ; surpreendeu até mesmo os líderes das Casas e foi considerado o fim dos recursos que os parlamentares encaminham para as bases eleitorais.
;Estamos assustados. Esperamos uma explicação factível. Não se pode jogar o ônus dos gastos só no Congresso. Emendas não são gastos, são investimentos que muitas vezes o próprio governo indica para serem feitos nos estados e municípios;, reclamou o senador Ciro Nogueira (PP-PI), quarto-secretário da Casa.
O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), afirmou que os cortes indicam que o governo não cederá no valor do salário mínimo. ;O contingenciamento se deu no que a gente chama de ;receitas ruins;. A área social foi preservada. É um sinal de que o governo não está blefando.; Já o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), disse que o contingenciamento é uma praxe anual, mas evitou comentar se os cortes prejudicarão as negociações para a aprovação do mínimo. ;Tem que ver como vai ficar;, resumiu. Líderes da base têm reunião marcada para terça-feira, quando debaterão a reação dos parlamentares.
Pressão
O contingenciamento, sem discussão com os aliados do Congresso, preocupou os parlamentares, que chamaram a ação de ;cartão de visitas; de Dilma para o Parlamento. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) elencou as ;explicações; para a ação do governo. ;Vejo apenas duas explicações. A mais provável é que o Brasil que o governo apresentou durante a campanha eleitoral não era o Brasil real. A situação fiscal não é aquela que nos apresentaram. Outra possibilidade é que o governo queira, com o anúncio dos cortes, pressionar sua base a votar projetos de seu interesse. Seja como for, é um péssimo presságio sobre o governo que se inicia.;
Nos bastidores da Câmara, integrantes de partidos da base admitem reforçar a oposição, especialmente na votação do reajuste do salário mínimo. Já as siglas não alinhadas com o Planalto atribuem os cortes aos gastos do Planalto no pleito de 2010. ;Houve uma gastança desenfreada na eleição. Concederam o que podiam e o que não podiam, agora têm de puxar para a realidade;, disse líder do DEM, ACM Neto (BA). O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), que havia defendido a imposição das emendas ao Executivo como bandeira de campanha, não se pronunciou sobre o corte. O líder do PT, Paulo Teixeira (SP), anunciou que o partido faria a interlocução com o Planalto para tentar manter a previsão orçamentária das emendas mais importantes.