Interessados em mudar a imagem do partido, um grupo de peemedebistas entregou ontem ao líder da bancada, Henrique Eduardo Alves (RN), um manifesto de três páginas em que critica a ;velha prática dos cargos pelos cargos, do poder pelo poder, com todas as deformações dela decorrentes;. Sem citar o PT, o texto fala da politização de setores do poder público, pede ainda um novo pacto federativo com fortalecimento dos municípios, a redução de juros e toda uma gama de projetos na área trabalhista. A resposta do líder foi positiva no que se refere às propostas, mas deixou a desejar no quesito luta por cargos. Alves afirmou aos deputados que continuará lutando por espaços para o seu partido dentro do Poder Executivo. ;Não buscamos o poder pelo poder. O PMDB quer participar e busca uma participação legítima. Até eu assino este documento que fala em resgatar a imagem do PMDB, em reforma política, em melhoria da qualidade do gasto público. Isso não significa deixar de buscar espaços;, disse Alves.
Ele rechaçou ainda qualquer movimento contra o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que tem sido alvo de denúncias envolvendo favorecimento na centrais elétricas de Furnas, cujo comando foi mudado na semana passada. ;As pessoas falam em Eduardo Cunha brigando por espaço, mas não é. A bancada do Rio é a maior do PMDB e tem que ser contemplada. Assim como a de Minas Gerais, a da Paraíba e de outros estados onde o PMDB tem representação e participou da campanha da presidente;, defendeu Alves.
Ainda ontem à noite, o PMDB faria uma reunião fechada no gabinete do vice-presidente da República, Michel Temer, para avaliar as suas chances de ampliar a participação no segundo escalão. Estavam convidados, além de Alves, o senador Renan Calheiros, líder no Senado, e o presidente em exercício do PMDB, Valdir Raupp.
A intenção era conseguir um lugar ao sol para o ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima. Derrotado para o governo da Bahia, Geddel foi lembrado pelo partido para presidir uma estatal, mas o mais provável é que termine numa Vice-Presidência da Caixa Econômica Federal, hoje um lugar de alta concentração petista.
15 pontos
O tema da reunião de cúpula do partido, ontem à noite, era um indicativo de que o manifesto, por enquanto, não foi tratado com toda a pompa pelos dirigentes peemedebistas. O documento elenca 15 itens ; propositalmente, o número do PMDB na urna. Além da reforma política, detalha pontos a serem defendidos na reforma tributária, como o fortalecimento do caixa dos municípios. ;Entendemos que essa reforma deve vir acompanhada obrigatoriamente de um novo pacto federativo, onde os municípios tenham duplicada a sua participação no bolo tributário nacional;, diz o texto dos peemedebistas.
Eles pedem ainda um enxugamento da máquina pública. ;O inchaço não é solução para o nosso desenvolvimento. Vamos estimular as parcerias público-privadas para crescer mais rápido. Como a vida já demonstrou, nem tudo o que é estatal é público, e nem tudo que tem função publica precisa ser estatal;, diz o documento, emendando com críticas à politização das agências reguladoras.
A corrente Afirmação Democrática, como se definem os autores do documento, defende a redução dos juros e uma política cambial mais favorável à retomada das exportações. Assinam o texto deputados como Osmar Serraglio (PR), Darcísio Perondi (RS), Eliseu Padilha (RS), Raul Henry (PE), Fábio Trad (MS), Mauro Mariani (SC); e senadores como Jarbas Vasconcelos, Pedro Simon, Luiz Henrique da Silveira (SC) e Roberto Requião (PR).
ANÁLISE DA NOTÍCIA
Fidelidade custa caro
Henrique Eduardo Alves nunca esteve numa situação tão difícil. Enquanto seu colega de Senado Renan Calheiros surfa nas nomeações e acena com alteração do mínimo de R$ 545, ele se mantém fiel ao valor do salário proposto pelo governo, mas recebe críticas da própria bancada que vê, na tentativa de colocação da bancada do Rio, uma defesa do deputado Eduardo Cunha, desgastado no Planalto por conta das denúncias envolvendo Furnas.
Há no PMDB quem diga que Henrique pode terminar comprometendo seu projeto de presidir a Câmara caso prossiga na defesa de espaços de poder para a bancada carioca. Ocorre que o grupo, o maior do PMDB, também conta e muito na hora de indicar aquele que será o candidato do partido a presidente da Câmara.
Da mesma forma como Cândido Vaccarezza terminou desgastado por defender o governo na hora de ser candidato a presidente da Casa ; um dos motivos que levou a bancada petista a escolher Marco Maia (PT-RS) ; Henrique pode ver surgir alguém do grupo Afirmação Democrática para concorrer a presidente da Casa. E esse candidato surgiria sem a sombra de Eduardo Cunha, um parlamentar dedicado, porém com fama de empreender negócios além do jogo político. Afinal, já começa a surgir um caldo de desconforto com o líder que briga, até o momento, mais pela bancada do Rio do que qualquer outra do partido (DR).