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Lula no fórum: não se pode trocar neoliberalismo por nacionalismo atrasado

Dacar (Senegal) ; O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou do Fórum Social Mundial uma postura firme diante da posição dos países ricos em relação à África. ;Penso que o fórum deveria tomar uma decisão: não é possível que o mundo rico não assuma um compromisso com o Continente Africano, exatamente no momento em que o preço dos alimentos sobe no mundo inteiro. Não pensem que o G20 tem sensibilidade para o problema da fome. Só fomos chamados para reuniões com os países ricos quando eles entraram em crise e precisavam do nosso apoio;, afirmou Lula.

Lula ganhou aplausos dos representantes dos movimentos sociais que lotaram o auditório, entre eles muitos brasileiros, ao dizer que acha que ;não faz sentido que FMI [Fundo Monetário Internacional] e Banco Mundial imponham ajustes que inviabilizem políticas públicas de incentivo à agricultura em países pobres;.

Também foi saudado ao afirmar que é cada vez mais forte a consciência de que fracassou o chamado Consenso de Washington (conjunto de medidas pactuadas em 1989 por organismos financeiros multilaterais, como FMI e Banco Mundial, que serviu de base para políticas de estabilização econômica de países em desenvolvimento). ;Quem, com arrogância, nos dava lições, não foi capaz de evitar a crise nos seus próprios países. Felizmente não vigoram mais as teses do Estado mínimo, sem presença reguladora. O mercado já não é mais a panaceia;.

Lula completou dizendo que não se pode trocar o neoliberalismo pelo ;nacionalismo atrasado, opção da direita americana e europeia, culpando o imigrante pela corrosão social;.

Lula participou de uma mesa sobre o peso geopolítico da África, ao lado do presidente de Senegal, Abdoulaye Wade. ;O Brasil não tem pretensão de ditar modelos para ninguém;. Mas, segundo ele, ;nosso êxito pode ser um estímulo para a construção de um caminho alternativo ao desenvolvimento sustentável e igualidade social;.

;É hora de colocar o desenvolvimento e a democracia no centro da agenda africana;, afirmou o ex-presidente. ;É urgente incorporar à cidadania milhões de africanos pobres, o que será importante também na recuperação da economia mundial;. A saída, segundo ele, é produzir alimentos. ;Não há soberania efetiva sem segurança alimentar;.

Lula disse que leva ao fórum a mensagem de quem governou o país com a segunda maior comunidade negra do mundo (80 milhões de pessoas), menor apenas que a da Nigéria. Repetiu o pedido de desculpas feito quando da primeira visita ao Senegal, em 2005, por causa do processo de escravidão ocorrido no Brasil até o fim do século 19. ;A melhor maneira de reparar é lutar para fazer desse Continente um dos mais prósperos e justos do século 21;.

Na sequência, o presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, afirmou ter ;profundos desacordos; com os participantes do fórum porque é ;um liberal, partidário da economia de mercado, e isso diz tudo". Entretanto, afirmou, o Fórum Social é importante porque ;o mundo espera pela ideia que o salvará do caos;.

Presidente desde 2000, Wade afirmou que o Senegal melhorou muito desde então. ;A renda per capita era de menos de U$ 1,5 mil em 1999. Hoje é de U$1,34 mil, duas vezes e meia o limite da pobreza;. O país também é autossuficiente na produção de alimentos. ;A aspiração à mudança é fundamental. E hoje a África está numa encruzilhada. A imagem é de continente pobre, mas é preciso corrigir essa ideia. Ela não é pobre - foi empobrecida;, sentenciou o presidente do Senegal.

Wade disse que apoia a proposta de taxação do fluxo de capitais em 20%, o que geraria recursos para combater a pobreza. E defendeu que a África tenha um assento com direito a veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU). ;70% dos temas tratados [no conselho] são relativos à África;, disse o presidente senegalês.