O peso da mão do governo na definição da próxima Mesa Diretora da Câmara será sentido a partir de segunda-feira. Um dos retratos mais fidedignos da obediência que o novo Congresso ensaia oferecer ao Executivo deve ser o isolamento do atual líder do PR, Sandro Mabel (GO). Único a resistir às ordens palacianas de abortar as candidaturas dos oponentes de Marco Maia (PT-RS) à Presidência da Casa, o parlamentar terá de enfrentar uma guerra interna com seu partido, foi inviabilizado como líder da legenda e agora enfrenta o temor dos colegas de serem listados como apoiadores de uma candidatura alternativa à imposição palaciana.
O isolamento imposto a Mabel começou dentro do seu partido, com as ameaças de que poderia ser expulso por descumprir orientações da direção nacional e insistir em ser candidato. ;Não tenho medo de represálias. Outras legendas já me convidaram, caso eu seja mesmo expulso. Insisti porque não estou fazendo nada errado. Quero apenas evitar que a eleição da Mesa Diretora seja um ato simbólico para nomear um candidato escolhido pelo Executivo;, diz o parlamentar.
As dificuldades, no entanto, não devem se limitar ao partido. Deputados que sempre mantiveram conversas frequentes com ele e que eram assíduos em seu gabinete se afastaram nos últimos dias. Temem ser contabilizados como votos dissidentes da candidatura costurada pelo governo em torno do nome de Marco Maia. O Correio conversou com dois desses parlamentares. Ambos admitiram o que chamam de ;discreto afastamento; porque não querem correr o risco de aparecer na lista de apoiadores de Mabel. É que desagradar ao governo neste momento seria iniciar a legislatura com dificuldades de trânsito, diálogo e, claro, com distanciamento das indicações para cargos distribuídos nos diferentes órgãos do governo. Um risco que eles preferem não correr.
A cautela que os colegas demonstram durante os contatos que Mabel tem feito em busca de apoio foi sentida pelo deputado. ;Eles me ligam, dizem que vão me apoiar, mas frisam que é um apoio escondido, para não sofrer represálias. O importante é que eles saibam que meu nome foi mantido para os que não querem ficar de cócoras. Para os que preferem um Legislativo independente;, frisa.
Influência
Enquanto deputados mais afinados com as propostas de Mabel garantem a ele apoio às escuras, a tropa de choque do governo ataca a candidatura oponente alegando que a real intenção do deputado é tornar-se um nome de visibilidade. Seria uma tentativa de se tornar mais influente e entrar na lista de cotados para grandes cargos no Executivo. Por essa teoria, ao perceber que a estratégia não surtiria efeito, o deputado seguiu em frente com sua campanha e resolveu comprar a briga com o governo e com o partido. Posição diferente da que tiveram Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Nelson Marquezelli (PTB-SP). Ambos ensaiaram o enfrentamento, mas recuaram. ;Não era para ser assim. Essa eleição da Mesa tinha de ter uns seis deputados disputando a Presidência. Deveria ser um processo de democracia, um momento de independência do Legislativo;, diz Mabel.