Entre os setores do agronegócio que mais atraem o capital estrangeiro, o sucroalcooleiro e o de papel e celulose foram os que mais investiram nas eleições gerais deste ano. Eles colocaram mais de R$ 42 milhões na campanha de centenas de candidatos a deputado federal, deputado estadual, senador e governador. Foram R$ 15,9 milhões para candidatos à Câmara e R$ 4,6 milhões para candidatos ao Senado, justamente os políticos que vão aprovar a nova lei sobre terras de estrangeiros.
Candidatos a governos estaduais receberam mais R$ 13,1 milhões. Eles têm controle sobre a maior parte de suas bancadas. A indústria de celulose doou R$ 15,7 milhões.
As empresas de açúcar e álcool e de bioenergia preferem o arrendamento à compra de terras, mas a AGU sustenta que aplicam-se no arrendamento as mesmas restrições impostas para à aquisição. A multinacional francesa Louis Dreyfus Commodities, que incorporou a brasileira Santelisa Vale para criar a LDC Bioenergia, conta com 340 mil hectares de terras arrendados no Brasil. Segundo a sua assessoria, a empresa entende que não é atingida pelas restrições impostas pela AGU. Com faturamento anual bilionário, a Louis Dreyfus do Brasil doou R$ 250 mil ao senador eleito Blairo Maggi (PMDB-MT). A LDC Bioenergia contribuiu com mais R$ 855 mil, sendo R$ 500 mil para o governador reeleito de Mato Grasso do Sul, André Puccinelli (PMDB).
Integrante da holding americana Bunge Limited, a Bunge Brasil é uma das maiores empresas do agronegócio no país. Produz e processa soja e trigo, produtos alimentícios e, desde 2006, atua no segmento de açúcar e bioenergia. No início do ano, comprou quatro usinas do grupo Moema, que tinha produção de cana estimada em 15 milhões de toneladas por ano. O seu faturamento é de R$ 27 bilhões. Nas eleições, doou R$ 2,8 milhões a candidatos de 10 partidos em 18 estados. As maiores contribuições ficaram entre R$ 40 mil e R$ 100 mil.
As maiores doações das papeleiras foram feitas pela Fíbria (R$ 4,7 milhões), empresa controlada pela Votorantim. A Fíbria é sócia da multinacional sueco-finlandesa Stora Enso na fábrica de celulose Veracel, em Eunápolis (BA). Em Mato Grosso do Sul, produz celulose para a fábrica de papel da International Paper, de controle americano. A maior contribuição foi feita ao governador Puccinelli (R$ 150 mil). A brasileira Suzano doou R$ 4,4 milhões, sendo a maior contribuição (R$ 1 milhão) ao candidato derrotado ao governo de São Paulo Paulo Skaf (PSB). As empresas procuradas pela reportagem indicaram a Abraf como porta-voz do setor.
A CMPC Celulose Riograndense, com controle de capital 100% chileno, também fez doações de campanha nas eleições deste ano. Foram R$ 846 mil, distribuídos a conta-gotas entre dezenas de políticos de diversos partidos. Questionada pelo Correio, a empresa não quis responder se pretende adquirir mais terras e como fará isso, já que pretende quadriplicar a produção da fábrica, atingindo 1,8 milhão de tonelada de celulose por ano. Afirmou que as doações foram legais, porque se trata de uma empresa ;constituída e regulada pelas leis brasileiras;. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não quis analisar o caso porque não há jurisprudência sobre o tema.