Oito anos e, no geral, a mesma foto. Em 1; de janeiro de 2003, Luiz Inácio Lula da Silva ocupou as manchetes do Brasil e ganhou pontos no plano internacional ao assumir o governo com a promessa de acabar com a fome e a miséria. Dizia que cada brasileiro deveria ter café da manhã, almoço e jantar. Terminou a sua primeira semana de trabalho tomando remédios para dor de cabeça. O PMDB da Câmara, então oposição e liderado por Michel Temer (SP), ameaçava derrotar João Paulo Cunha (PT-SP), candidato a presidente da Casa. Hoje, a foto só tem como diferente o pano de fundo. Dilma Rousseff, em 1; de janeiro de 2011, prometeu não descansar enquanto houver miséria e crianças abandonadas nas ruas. E, embora a presidente tenha dispensado remédios para dor de cabeça, calejada pela lembrança dos primeiros dias do governo Lula, enfrenta problemas semelhantes com o PMDB. Ainda que, desta vez, Michel Temer seja um aliado na tentativa de conter essa insatisfação e disposto a preservar a eleição de Marco Maia (PT-RS) para a Presidência da Câmara.
As diferenças na foto de 2003 e de hoje são mais de estilo. Dilma não trata diretamente desses problemas políticos como fazia Lula. O ex-presidente ; para irritação de dona Marisa Letícia ; dedicava as noites a jantares políticos no Palácio da Alvorada. Dilma, pelo menos na primeira semana, ainda hospedada na Granja do Torto, tem dedicado as noites aos familiares que ainda estão em Brasília. Em função disso, esses contatos que varam a noite foram delegados ao vice-presidente, Michel Temer, aos ministros do próprio PMDB e ao estafe político do Planalto, em especial, Antônio Palocci, o ministro da Casa Civil, e Luiz Sérgio, da Secretaria de Relações Institucionais, e, ainda, Paulo Bernardo, das Comunicações e José Eduardo Dutra, presidente do PT.
Além do modus operandi na seara política, a rotina do ex-presidente e de Dilma no Planalto também são substancialmente distintas. Ao assumir o gabinete de Fernando Henrique Cardoso, em 2003, Lula fez dois pedidos urgentes: trocar a cadeira utilizada pelo antecessor, adaptada aos problemas de coluna do tucano; e instalar uma máquina de café expresso. Dilma mandou trocar as poltronas clássicas por novas, de estilo moderno, e encomendou à curadoria do Planalto novos quadros.
Nesses primeiros dias, Dilma tem esticado o expediente, mas, ao contrário de Lula, que às vezes ficava horas conversando com o visitante, ela imprimiu uma velocidade controlada ao tempo presidencial disponível. O expediente oficial começa às 9h30. Cada audiência dura, no máximo, uma hora. Se o assunto for delicado, acrescenta-se meia hora. Em casos de crise ou discussão mais aprofundada de um projeto, pode-se demorar um pouco mais, desde que esteja previsto.
Agendas não previstas são raras. Na tarde de sexta-feira, por exemplo, a agenda oficial previa apenas um encontro com Giles Azevedo, o chefe de gabinete. Mas ela recebeu ainda várias pessoas, como a ministra da Pesca, Ideli Salvatti, e a da Cultura, Ana de Hollanda, embora não estivesse combinado recebê-las na sexta.
Humor
Até o momento, nenhuma crise tirou o humor ou fez Dilma atrasar sua agenda. A reunião de coordenação política, que já tem dia e hora marcados ; todas as segundas-feiras, às 18h ; começou pontualmente. Assim foi também com a reunião em que ela discutiu o PAC de combate à miséria com os ministros da área social e econômica.
Na primeira semana no poder, até o horário de almoço, para desgosto da família que se encontra em Brasília, foi dedicado às discussões governamentais. Os ministros que o digam. José Eduardo Cardozo, da Justiça, estava dia desses num restaurante começando a almoçar quando o telefone tocou. Era Dilma, chamando o ministro para o Planalto. ;Não tem comida no seu ministério, não?;, perguntou. Talvez por isso, Cardozo e outros ministros tenham adotado a rotina de comer no gabinete, assim como o da Saúde, Alexandre Padilha, que tem saído do ministério por volta de 1h da matina. Até colocar tudo nos trilhos e começar a apresentar resultados, como deseja e cobra Dilma, nenhum deles nem sequer pisca.
As rotinas
Saiba como costumava ser o dia a dia de Luiz Inácio Lula da Silva à frente do Palácio do Planalto e como tem sido o da nova chefe do Executivo federal, Dilma Rousseff:
Lula
Acordava às 6h e iniciava o primeiro encontro do dia às 7h30. De imediato, pediu para instalar uma máquina de café expresso no Palácio do Planalto e substituir a cadeira utilizada por Fernando Henrique Cardoso ; o móvel era adaptado para os problemas crônicos de coluna do antecessor. Costumava marcar jantares noturnos com políticos e autoridades internacionais, a maioria
regada a comidas pesadas.
Dilma
Levanta-se às 6h e inicia os trabalhos no Palácio do Planalto por volta das 9h ; antes, caminha e lê jornais. Ao assumir o cargo, decidiu trocar as poltronas de estilo clássico do gabinete por modelos contemporâneos. Também pediu à curadoria do palácio a substituição dos quadros que decoravam o espaço durante a gestão de Lula. Trabalha até cerca de 21h, quando volta para a Granja do Torto, pois ainda não se mudou para o Palácio da Alvorada. Não costuma marcar jantares políticos e tem maior preocupação com a área técnica da Esplanada.
A primeira semana de Lula
Confira como foram os dias seguintes à posse de Luiz Inácio Lula da Silva como debutante na Presidência da República:
1/1/2003
Lula toma posse com 150 mil pessoas nos gramados da Esplanada dos Ministérios,
prometendo combate à fome e pregando mudanças com ;coragem e cuidado;.
2/1/2003
Numa quinta-feira ; primeiro dia despachando do Palácio do Planalto ;, Lula recebeu
12 líderes internacionais e um representante da Organização das Nações Unidas (ONU).
Ofereceu ainda um churrasco para o então ditador cubano Fidel Castro na Granja do Torto.
3/1/2003
Ocorre a primeira reunião ministerial. Lula pediu aos ministros atenção redobrada para as demandas sociais e confirmou o cancelamento da licitação para substituição dos caças da Força Aérea Brasileira. Teve reuniões com Olívio Dutra (então titular do Ministério das Cidades), Miguel Rossetto (do Desenvolvimento Agrário), José Fritsch (da Pesca), José Graziano (da Segurança Alimentar), Ramez Tebet (presidente do Senado na época) e Rubens Barbosa (ex-embaixador em Washington).
4/1/2003
No sábado, Lula não
teve agenda oficial.
5/1/2003
Também no domingo
não houve compromissos oficiais.
6/1/2003
Reuniões com os então ministros da Agricultura,
Roberto Rodrigues; das Comunicações, Miro Teixeira; e da Saúde, Humberto Costa.
7/1/2003
Dia com agenda mais extensa que os anteriores, incluiu encontros com alguns ministros, como José Dirceu (da Casa Civil), Ricardo Berzoini (do Trabalho), José Viegas (da Defesa), Márcio Thomaz Bastos (da Justiça), Miguel Rosseto (do Desenvolvimento Agrário), Zeca do PT (governador de Mato Grosso do Sul naquele ano), Paulo Hartung (governador do Espírito Santo à época), Paulo Bernardo (deputado federal), Geraldo Magela (deputado federal), Tarso Genro (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) e o empresário Antoninho Trevisan.
A primeira semana de Dilma
Veja como foram os dias seguintes à posse da nova presidente da República:
1/1/2011
Dilma Rousseff toma posse com cerca de 30 mil pessoas presentes na Esplanada. Nos discursos
de posse, no Congresso e no Palácio do Planalto, promete erradicar a miséria no país.
2/1/2011
Encontra-se com sete autoridades internacionais.
3/1/2011
Trabalha para conter disputas por cargos na base aliada. Reuniões com Guido Mantega (ministro da Fazenda), Antônio Palocci (da Casa Civil), José Sarney (presidente do Senado), Marco Maia (presidente da Câmara) e Cezar Peluso (presidente do Supremo Tribunal Federal). No fim do dia, encontrou-se com integrantes da coordenação política.
4/1/2011
Teve na agenda encontros com os ministros Aloizio Mercadante (da Ciência e Tecnologia), Edison
Lobão (de Minas e Energia), Antônio Patriota (das Relações Exteriores) e Fernando Haddad (da Educação).
5/1/2011
Agenda inclui reuniões com os ministros Afonso Florence (do Desenvolvimento Agrário), Tereza Campello
(do Desenvolvimento Social e Combate à Fome), Fernando Bezerra (da Integração Nacional), Fernando Pimentel (do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) e Guido Mantega (da Fazenda).
6/1/2011
Volta a encontrar-se com a ministra Tereza Campello (do Desenvolvimento Social
e Combate à Fome), além de Izabella Teixeira (titular da pasta do Meio Ambiente).
7/1/2011
Em nova rodada de reuniões com ministros, conversa com Paulo Bernardo (das Comunicações),
Ana de Hollanda (da Cultura), Ideli Salvatti (da Pesca) e Helena Chagas (da Comunicação Social).
Ainda sem o traquejo político do mentor e antecessor
Os mais fiéis servidores da nova presidente, acostumados com o ritmo incessante de trabalho, afirmam que a maior vantagem dela hoje é conhecer os temas de que trata com cada ministro. É que, como coordenadora do governo Lula desde 2005, quando assumiu a Casa Civil, Dilma sabe os pontos fracos e os fortes de cada projeto do Executivo. Seu único calcanhar de aquiles hoje é justamente a política, seara na qual enfrenta seus primeiros percalços.
Nessa última semana, por exemplo, ela acompanhou a crise do PMDB certa de que é uma situação normal e faz parte do jogo que o partido demonstre insatisfação. Mas ainda não conseguiu enxergar os reflexos dessa crise e nem se antecipar a eles. Deixou tudo nas mãos dos coordenadores políticos.
A presidente gosta de trabalhar um assunto de cada vez e na presença de todos os interessados. Por enquanto, ela ajustou seu foco de luz no sentido de destravar tudo o que via dar trabalho ao presidente Lula. Colocou, por exemplo, a ministra do Meio Ambiente e o ministro de Minas e Energia juntos numa mesma sala para falar sobre a necessidade de licenciamentos ambientais não demorarem meses, às vezes até anos, atrasando cronogramas de obras. Na semana que vem, fará o mesmo com a área de transporte.
Ela gosta ainda de trabalhar com metas a serem atingidas e prazos para isso. Afinal, esse é o espírito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que, embora tenha sofrido alguns atrasos, tem esse objetivo. Dilma sabe que, se estiver bem junto da população e a economia a contento, não terá por que se preocupar muito com a crise do PMDB. E, para que isso ocorra, precisa ter o governo funcionando. Até o fim desta semana, pretende ter conversado com todos os ministros para, na reunião ministerial, apresentar algumas metas de cada área. E, assim, no mês que vem, começar a mostrá-las à população com viagens pelo país. (DR e II)