Mesmo afastado da Presidência do PMDB, caberá ao vice-presidente da República, Michel Temer, entregar à presidente Dilma Rousseff, na segunda-feira, a lista de postos que o PMDB conquistou no governo Luiz Inácio Lula da Silva e deseja manter na nova administração. A lista não separa os cargos indicados por senadores e nem por deputados. Pela primeira vez, as duas alas estão tratadas como um bloco único e coeso. No rol estão Furnas, Eletrobras, Transpetro, Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), Diretoria internacional da Petrobras, secretarias do Ministério da Agricultura, Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf) e até mesmo a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) ; cargo para o qual o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, já fez chegar ao governo a intenção de colocar alguém da sua mais estreita confiança.
O PMDB sabe que vai perder a Funasa. Nas conversas reservadas que os líderes mantiveram ao longo da semana, concluíram que o único lugar na Esplanada onde há um consórcio real entre as legendas é o Ministério de Minas e Energia e algumas estatais, como a Eletrobras. Nos demais órgãos públicos, a parceria deixa a desejar e o PMDB identifica uma ação para reduzir o seu espaço. Por isso, a crise.
O fato de a lista conter postos que o PMDB internamente dá como perdidos tem um objetivo claro: deixar escrito nos alfarrábios de Dilma que o cargo era do partido e lhe foi tirado para abrigar o PT ou um outro aliado. Assim, avaliam os peemedebistas, o partido fica ;no crédito;, ou seja, pronto para solicitar uma compensação pelo espaço perdido. E Dilma, em ;débito; com o PMDB.
Silêncio
Com a lista nas mãos de Dilma, a ordem dos peemedebistas é aguardar o chamado para discutir seus espaços. Ontem, o açodamento dos últimos dias, com cobranças públicas e diretas por parte do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves, foi substituído pelo silêncio da maioria dos caciques do partido. Até porque eles concluíram que, no caso do salário mínimo ; bandeira que o partido pretende continuar empunhando, mesmo a contragosto de seus ministros ; a votação não ocorrerá antes do carnaval. É que, antes desse projeto, há mais de uma dezena de medidas provisórias em pauta. Portanto, o governo tem algum tempo para resolver os espaços do PMDB antes de discutir o salário mínimo.
Ontem, mais calmos, os peemedebistas avaliavam que com Lula, em 2003, ainda houve um estremecimento. Naquela época, o presidente também não concedeu todo o espaço pretendido pelo partido. Houve inclusive um acordo desfeito antes da eleição. Dois anos depois, com a crise do mensalão, Lula se viu obrigado a estender o tapete vermelho aos peemedebistas, que seguiram em bloco para o apoio ao governo, conquistando Comunicações e, mais tarde, Integração Nacional ; ministérios tomados agora. A esperança do PMDB é recuperá-los ou ganhar uma compensação por espaços perdidos. Se não agora, quando vier a primeira crise.
Luiz Sérgio nega rusgas
; Enquanto os peemedebistas baixavam o tom, o ministro de Relações Institucionais, Luiz Sérgio, aproveitava para negar qualquer vestígio de crise entre os partidos aliados por causa da ocupação de cargos no governo federal. ;Este é um governo de coalizão. Num governo de coalizão, é normal que partidos queiram participar. Num primeiro momento, sempre há uma movimentação, o que pode dar uma sensação de crise. Na verdade, não há crise. Este é um processo natural;, afirmou.