ROMA - Manifestações contra a recusa do Brasil de extraditar Cesare Battisti foram realizadas nesta terça-feira em toda a Itália. O chefe de governo, Silvio Berlusconi, prometeu firmeza em relação ao caso, apesar de acrescentar que o relacionamento com Brasília não mudaria.
Em Roma, 300 pessoas se reuniram diante da embaixada do Brasil, na célebre Piazza Navona. Entre os manifestantes estava a ministra da Juventude, Giorgia Meloni, para quem "Battisti deve pagar, porque o fato de ter escrito alguns romances não é garantia de imunidade.
O chefe de governo, Silvio Berlusconi, ao se encontrar em Milão com Alberto Torregiani, filho de um joalheiro morto em 1979, durante um atentado atribuído a Cesare Battisti, prometeu dar continuidade à "batalha" junto à nova presidente brasileira Dilma Rousseff, para obter a extradição do ex-ativista de extrema-esquerda.
Berlusconi prometeu "mais firmeza e determinação", informou Torregiani, ferido aos 15 anos durante o assassinato de seu pai por um comando extremista de esquerda Proletários Armados pelo Comunismo (PAC). Ele usa desde então uma cadeira de rodas.
Berlusconi também anunciou que manterá junto com Torregiani uma entrevista à imprensa, em Bruxelas, na "terceira semana de janeiro, para divulgar a realidade dos fatos, que serão levados à justiça de Haia".
Qualificando Cesare Battisti de "verdadeiro criminoso que se abriga atrás de uma ideologia política", Berlusconi tentou, no entanto, acalmar a situação, sublinhando a "antiga e sólida amizade" que liga a Itália ao Brasil. "Este assunto não diz respeito ao relacionamento entre os dois países, é uma questão judiciária", acrescentou.
Em Roma, muitos jovens, alguns levando a bandeira italiana, participaram da manifestação ao lado de Torregiani. Palavras de ordem foram ditas diante do pórtico de entrada da embaixada brasileira tais como "Queremos a extradição agora" ou ainda "A Itália quer que seja feita justiça".
"Battisti assassino, Brasil cúmplice", dizia uma faixa.
Um protesto semelhante reuniu centenas de pessoas em Milão pela manhã e outras manifestações foram realizadas diante das representações brasileiras em Palermo (Sicília), Bari, Nápoles e Veneza.
Em Roma, os partidos de direita no poder e a oposição de esquerda, assim como todos os oponentes à recusa brasileira, preferiram manifestar-se separadamente.
Uma onda de indignação seguiu-se na Itália à decisão do presidente brasileiro Luiz Inacio Lula da Silva, anunciada no último dia de seu mandato, 31 de dezembro, de rejeitar a extradição de Battisti, condenado em 1993 à prisão perpétua por quatro mortes e cumplicidade em assassinatos cometidos nos anos 1970 - crimes dos quais se diz inocente.
Roma convocou seu embaixador Gherardo La Francesca para consultas e anunciou a intenção de apelar no Supremo Tribunal do Brasil e recorrer, eventualmente, à arbitragem da Corte Internacionale de Justiça (CIJ) de Haia.
O chefe da diplomacia, Franco Frattini, recebeu nesta terça-feira La Francesca "para examinar as consequências da ação judiciária a ser tomada pelo governo italiano referente ao caso Cesare Battisti e suas repercussões em nível europeu".
"Uma iniciativa europeia, promovida pela Itália, não está excluída para as próximas horas", afirmou o ministério.