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Para deixar clara a insatisfação com o segundo escalão, PMDB vai boicotar

Interessado em manter os cargos que ocupa no segundo escalão de vários ministérios, o PMDB resolveu dar o exemplo. No Turismo, está fechada a manutenção de Mário Moyses na Presidência da Embratur e, ainda, a promoção do secretário nacional de Programas de Desenvolvimento do Turismo, Frederico Silva da Costa, à secretaria-executiva. ;O exemplo do PMDB é clássico. Se as pessoas estão trabalhando direito, por que mudá-las? Estamos agindo como se age numa coalizão: interagindo com partidos da base aliada. Afinal, vivemos numa democracia e não numa petemocracia;, afirmou o líder do partido, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). A cúpula peemedebista boicotou a transmissão de cargo do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, principalmente depois que soube da intenção do novo ministro de mudar a direção da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) sem consultar o PMDB, da mesma forma que trocou o secretário de Atenção Básica, Alberto Beltrame, sem comunicar os peemedebistas.

A área da Saúde concentra hoje o principal foco de insatisfação do PMDB. Mas há outras que podem se juntar ao setor. O PMDB trabalha para assegurar o comando do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), vinculado ao Ministério da Integração Nacional. Ontem, o novo ministro, Fernando Bezerra Coelho, avisou aos secretários da sua pasta que a ordem recebida do Planalto é de trocar a diretoria e manter os padrinhos. Henrique Eduardo Alves, que indicou o atual comandante do Dnocs, Elias Fernandes, avisa que não tem outro nome: ;Doutor Elias é um quadro técnico da melhor qualidade. Na Embratur, por exemplo, soube que o atual presidente será mantido por ser um bom técnico. Por que não fazer o mesmo em outras áreas?;, comentou o líder.

Hoje, a cúpula peemedebista se reúne em Brasília para analisar as indicações de segundo escalão. O vice-presidente da República, Michel Temer ; que ontem era o único de seu partido na primeira reunião de coordenação com a presidente Dilma Rousseff ; tenta acalmar os ânimos: ;A busca agora é por governar. O PMDB sabe do seu tamanho e está tranquilo. Há espaço para todos. Os conflitos atuais são naturais, mas passageiros;, afirma.

Prestígio
Enquanto os conflitos não passam, o PMDB arma o jogo e deixa clara a insatisfação. Eles não foram a várias posses petistas. Além da de Padilha, não compareceram à de Paulo Bernardo, novo ministro de Comunicações. Henrique Eduardo Alves, por exemplo, só prestigiou ontem quatro ministros, três peemedebistas: o primo Garibaldi Alves (Previdência), o deputado Pedro Novais (Turismo) e, ainda, o senador Édison Lobão (MA). Fez questão ainda de passar na posse do deputado Mário Negromonte (PP-BA) no Ministério das Cidades, uma das mais concorridas entre os políticos dos mais variados partidos. Hoje, o PMDB irá à posse de Moreira Franco na Secretaria de Assuntos Estratégicos (Sae).

Apesar das divergências políticas, o PMDB não pretende retaliar na reeleição de Marco Maia como presidente da Câmara. Até porque o partido considera essencial cumprir o compromisso de apoiar o PT e obter a reciprocidade daqui a dois anos, quando, por acordo, será a vez de o PMDB indicar o futuro líder da Casa. Mas essa avaliação será feita só na última semana de janeiro. Se até lá mantiver a intenção de não transformar Maia em bode expiatório, o PMDB adotará outros fronts de batalha. Uma das hipóteses é deixar qualquer ato de rebeldia ou vingança para os ministros das áreas que boicotarem o PMDB. No caso do novo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, já existe no PMDB quem fale em regulamentar a emenda n; 29, que aumenta os recursos destinados à Saúde, sem, entretanto conceder ao governo uma receita extra para permitir esse financiamento, no caso a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). E, sem o PMDB, dificilmente o governo terá sucesso em conseguir mais um novo imposto para financiar a Saúde.
Colaborou Ivan Iunes

Florence, escudeiro de Jaques Wagner
; A posse do novo ministro do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence, foi uma demonstração da força do governador da Bahia, Jaques Wagner, na composição do governo de Dilma Rousseff. Wagner, seu vice e o presidente da Assembleia Legislativa da Bahia estiveram no evento. Florence foi uma indicação pessoal do governador petista. O novo ministro coordenou o programa de governo de Jaques Wagner em 2006 e foi secretário de Desenvolvimento do governo baiano. Agora, como ministro do Desenvolvimento Agrário, promete ;manter o diálogo; com os movimentos sociais.

A equação do mínimo
O que não falta aos aliados são projetos importantes para votar em 2011, entre eles a medida provisória que aumentou o salário mínimo de R$ 510 para R$ 540. O atual presidente da Câmara, Marco Maia, que esteve ontem com a presidente Dilma Rousseff, avalia que pode haver um aumento desse valor quando o tema estiver em debate no Congresso. ;Vamos ter que ter calma e tranquilidade para produzir uma equação que não inviabilize as contas públicas e garanta um reajuste que dialogue com a sociedade. Aqui na Câmara o debate pode produzir alterações nos projetos e é legítimo. Faz parte do debate político que se faz no parlamento;, disse, ao chegar da audiência no Palácio do Planalto.

O valor do salário mínimo não chegou a ser discutido na conversa de 40 minutos de Marco Maia com Dilma, um encontro que contou ainda com a participação do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, e do de Relações Institucionais, Luiz Sérgio. Os dois estiveram ainda na audiência de Dilma com o presidente do Senado, José Sarney, que entregou à presidente a lista de projetos aprovados em 2010. ;Não temos pendências;, disse Sarney.

O mesmo, entretanto, não vale para a Câmara, onde há diversos projetos polêmicos na fila de votação e, ainda, o risco de candidaturas avulsas para enfrentar Marco Maia, presidente da Câmara desde que Michel Temer renunciou ao cargo para assumir a Vice-Presidência. A sucessão da Câmara foi tema do encontro. ;A presidente me perguntou como estavam os debates. Disse a ela que estou conversando com os partidos, tendo o cuidado e o empenho de ouvir todos os deputados, inclusive os de oposição. E que vamos compor uma chapa garantindo a proporcionalidade e a pluralidade. Dilma afirmou que estava tranquila e certa de que o resultado será o melhor para a Câmara;, contou Marco Maia.

Piso
A conversa com os políticos vai esquentar a partir de fevereiro, com a posse da nova Legislatura, que terá uma pauta extensa de projetos indesejáveis ao Executivo, caso da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 300, que cria o novo piso nacional de salário para os militares, e, ainda, o plano de carreira do Judiciário, que eleva os salários dos servidores. No caso do mínimo, Dilma terá adversários poderosos na hora de discutir a medida provisória: as centrais sindicais. Durante a campanha, elas pediram um aumento maior do mínimo e o candidato da oposição, José Serra, aproveitou o embalo para prometer R$ 600. (DR)