Jornal Correio Braziliense

Politica

Dilma inicia a função de presidente recebendo líderes de vários países

Nas conversas, promessas de parcerias tecnológicas e comerciais

No primeiro dia de trabalho como presidente da República, Dilma Rousseff recebeu, na manhã de ontem, representantes da Espanha, de Portugal, do Uruguai, do Japão, da Coreia do Sul, de Cuba e da Palestina. Um encontro facilitado pela presença dos líderes internacionais na capital do país para prestigiar a posse da petista. Na conversa travada reservadamente com cada um deles, a presidente negociou futuras parcerias econômicas e troca de conhecimentos tecnológico e científico. O ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, acompanhou o evento. Incumbência encarada antes mesmo de ele participar da sua cerimônia de transmissão de cargo, ocorrida na tarde de ontem.

O primeiro a se encontrar com a presidente Dilma foi o príncipe das Astúrias, Felipe de Bourbon, atual herdeiro da coroa espanhola. O príncipe entregou à presidente uma carta escrita por seu pai, o rei Juan Carlos da Espanha. Segundo o ministro Patriota, a agenda bilateral entre a Espanha e o Brasil, e a organização dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro foram os principais assuntos da conversa. Em seguida, Dilma recebeu o presidente do Uruguai, José Mujica, com quem conversou sobre a intenção de manter a frequência de visitas ao país, além de ampliar e intensificar as relações internacionais entre as duas nações.

Logo depois, foi a vez de Kim Hwang-Sik, primeiro-ministro da Coreia do Sul. Ele falou com a presidente sobre o interesse do país em negociar um acordo de livre comércio com os integrantes do Mercosul. Em contrapartida, a presidente comunicou ao primeiro-ministro que pretende equilibrar a balança comercial, que hoje favorece a Coreia. Eles falaram também sobre possíveis parcerias relacionadas à alta tecnologia em setores como petróleo, indústria naval e energia nuclear, e sobre a licitação do trem de alta velocidade que deve ser construído entre as capitais do Rio de Janeiro e de São Paulo, projeto de interesse do país asiático.

Espaço na ONU
O quarto a se encontrar com a presidente foi o primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates. O representante lusitano destacou o crescimento da participação do Brasil no cenário político e econômico internacional, e disse apoiar o pleito brasileiro de conquistar espaço na Organização das Nações Unidas ; o Brasil tenta lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. ;Portugal apoia o Brasil para conquistar o seu espaço no Conselho das Nações Unidas, tanto na questão geopolítica, quanto na geoeconômica;, disse.

O premiê disse ainda que, de acordo com a nova política externa do país, o Brasil tornou-se prioridade e também destacou a importância de se ampliar as parcerias entre empresas brasileiras e portuguesas. Questionado sobre a possibilidade do Brasil comprar títulos da dívida pública portuguesa, ele disse que não tratou sobre esse tema com a presidente Dilma, mas recomendou o investimento. ;Este é um assunto que compete aos ministros de finanças. Mas comprar títulos portugueses é um ótimo investimento, que recomendo a todos vocês;, disse.

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, o primeiro vice-presidente de Cuba, José Ramóm Ventura, e o ex-primeiro-ministro do Japão, Taro Aso também se reuniram individualmente com a presidente Dilma Rousseff na sala de audiências do Palácio do Planalto.

Taxas reduzidas
O Mercosul ; formado atualmente por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai ; já assinou acordos de livre comércio com Israel e Egito e, desde 2005, mantém negociações com a União Europeia. O livre comércio é um acordo entre países que possibilita a circulação de mercadorias nacionais com taxas alfandegárias diferenciadas e reduzidas. A Venezuela tenta desde 2006 entrar no Mercosul, mas ainda depende de aprovação do parlamento paraguaio ; os congressos nacionais dos demais países da América do Sul já concordaram com a sua participação.

Ligações para Lula
; Em sua cerimônia de posse, o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, contou que Dilma ligou para perguntar se ele já tinha telefonado para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva um dia depois de o petista deixar a Presidência. É o dever de casa que a presidente Dilma Rousseff propõe aos seus novos ministros. Depois da revelação, os ministros presentes na cerimônia de posse de Carvalho começaram a ser indagados sobre a tarefa.

Funcionários teriam facilitado lobbies arquitetados por Erenice Guerra
A sindicância interna que apurava a participação de servidores da Casa Civil no escândalo envolvendo a ex-ministra Erenice Guerra chegou ao fim sem prever punições. O relatório final só indica a abertura de um processo administrativo disciplinar para apurar um convênio firmado, em fevereiro de 2005, na gestão do então ministro José Dirceu, com a empresa Unicel, representada pelo marido de Erenice, José Roberto Camargo Campos.

A decisão foi tomada pelo ex-ministro Carlos Eduardo Esteves Lima. O ministro interino passou o cargo ao novo chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, ontem. Esteves Lima foi nomeado depois que a ex-ministra Erenice Guerra pediu demissão motivada pelas denúncias de tráfico de influência na pasta.

O prazo da comissão já tinha sido prorrogado duas vezes, sendo que a última delas teve como único objetivo não coincidir com a semana final da campanha presidencial. A expectativa era de que o resultado só fosse divulgado em abril.

Dois ex-funcionários foram investigados: Vinicius Castro e Stevan Knezevic. De acordo com a Casa Civil, não houve comprovação de que Castro estava envolvido com o esquema comandado pelo filho de Erenice, Israel Guerra, de quem era amigo. Já a situação de Knezevic será decidida pelo Ministério da Defesa, já que ele é servidor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Castro deixou o governo logo no início do escândalo e Knezevic voltou para o órgão de origem.

O procedimento interno de investigação não tem poderes para punir Erenice. A Comissão de Ética Pública, ligada à Presidência da República, é quem está com o caso da ex-ministra. Uma cópia do relatório final da sindicância será remetida ao órgão e outra ao Ministério da Defesa. A apuração do caso Erenice ainda segue no âmbito da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU). Ao deixar o cargo, a ex-ministra pediu que os dois órgãos fizessem a investigação das denúncias.

Viagens aos vizinhos
Apesar de a agenda de viagens internacionais da presidente Dilma Rousseff ainda não ter sido divulgada oficialmente, já se sabe que os primeiros destinos da petista serão a Argentina e o Uruguai. Depois, ela deverá ir aos Estados Unidos e à China. Os indicativos foram dados ontem pelo novo ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, durante a sua posse, e por Marco Aurélio Garcia, assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, mas nenhuma saída do Brasil tem data definida.

;Conversei com a Dilma a respeito de um programa de viagens presidenciais para os próximos meses, que incluirá visitas aos países vizinhos e a alguns de nossos principais parceiros econômicos e comerciais, como os Estados Unidos e a China;, afirmou Patriota, em seu discurso.

Garcia confirmou que as viagens deverão ser iniciadas pelo Uruguai e pela Argentina e que, depois, Dilma deve ir à Bulgária, onde nasceu seu pai. Em abril, é praticamente certo que a presidente irá a Pequim participar da cúpula dos Brics, grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, China e futuramente pela África do Sul. Hoje, está prevista uma reunião de coordenação de Dilma para definir a agenda dos seus primeiros dias.