Depois de traçar um ministério com o maior número de mulheres da história, a presidente eleita, Dilma Rousseff, direcionou o rápido discurso de diplomação, ontem, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para as brasileiras. Ao receber o documento, das mãos do presidente da Corte, Ricardo Lewandowski, Dilma prometeu ;honrar; o gênero e fazer um governo de união. ;Recebo este diploma com alegria e disposição para empenhar todo o meu esforço, para honrar as mulheres, cuidar dos mais frágeis e governar para todos. Neste momento em que recebo o diploma mais alto da democracia, quero reparti-lo com cada brasileiro e cada brasileira, conto com todos e todas, e todos podem contar comigo;, disse a presidente. Ao contrário de Lula, que chegou a soluçar no ombro do ex-presidente do TSE Nelson Jobim, ao receber o diploma presidencial em 2002, Dilma fez um discurso contido, mas lembrou-se do antecessor.
O texto foi elaborado pela própria presidente, sem contribuição de nenhum auxiliar. Na cerimônia ocorrida no plenário do TSE, compareceram 100 pessoas, das quais 34 convidadas de Dilma. O destaque ficou para a família, que Dilma sempre tratou de preservar. Dilma Jane, mãe da presidente eleita; a filha, Paula, acompanhada do marido; todas bastante cumprimentadas. Outras que chamaram a atenção foram Marcela, esposa do vice-presidente eleito, Michel Temer, e a governadora Rosalba Ciarlini, eleita pela oposição (DEM) no Rio Grande do Norte. ;Vim prestigiar a Dilma;, disse.
O discurso de Dilma durou seis minutos ; tempo suficiente para pincelar prioridades e, indiretamente, convocar o apoio feminino, ao afirmar que a vitória nas urnas encheu as mulheres de orgulho. ;Esse fato rompe com preconceitos, desafia limites e enche de esperança um povo sofrido e também de orgulho as mulheres brasileiras;, disse. ;Estes mesmos sentimentos de mudança e avanço fizeram o povo eleger uma presidenta. Para além da minha pessoa, isso demonstra uma crescente maturidade da nossa democracia;, emendou.
Dilma citou educação, segurança e saúde como prioritárias e voltou a pregar estabilidade econômica e liberdade de imprensa. ;Cuidarei da estabilidade e do investimento. Defenderei sempre a liberdade de manifestação da imprensa, mas reafirmo que nenhuma estratégia é efetiva se não se refletir concretamente na vida de cada trabalhador, cada empresário, cada família;, afirmou.
Dose
Ela ressaltou que a expectativa em cima de seu governo deve-se à gestão com recorde de popularidade de seu mentor. ;Sei da responsabilidade de suceder um governante da estatura do presidente Lula. Vamos descobrir uma força absoluta, que a cada dia se renova, a força da união do nosso país, de nossa nação;. Depois da cerimônia, Dilma seguiu para o Itamaraty, onde o presidente Lula ofereceu um coquetel em sua homenagem.
A diplomação e a festa foram restritas a autoridades e a convidados. No TSE, diferentemente do que ocorreu na diplomação de Lula, a imprensa nem sequer teve acesso ao interior do prédio. No Itamaraty, os jornalistas tiveram acesso ao salão, no térreo, enquanto o coquetel transcorria no terraço. Dilma chegou por volta das 19h30, acompanhada de Temer, Lula e da primeira-dama, Marisa Letícia. No salão, filas se formaram para cumprimentá-los. Dilma se permitiu bebericar meia dose de uísque, com bastante gelo e água. Foi mesmo um encontro de amigos, uma confraternização entre os que saem e os que chegam. Clara Ant, por exemplo, se despede. Vai para São Paulo cuidar do instituto de Lula. Fernando Pimentel, ex-prefeito de Belo Horizonte, chega como ministro. (leia sobre a composição do ministério na página 3).
A festa durou menos de duas horas. O senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), futuro ministro da Previdência, deixou o coquetel pouco antes da presidente eleita. Ele contou que Lula chegou a comentar que estava cansado por causa da extensa agenda de fim de governo. O presidente voltou ontem da reunião da Cúpula do Mercosul, em Foz do Iguaçu (PR), e seguiu direto para o Itamaraty. Ele não esteve na solenidade de diplomação da presidente eleita. Ele e Dilma deixaram a festa por volta das 20h30.
MERCADANTE, O DOUTOR
Uma prestigiada banca de doutorado no Instituto de Economia da Unicamp reuniu ontem o senador Aloizio Mercadante, que defendia uma tese de 519 páginas sobre a política econômica do governo Lula, e um time de avaliadores formado por Delfim Netto, Luiz Carlos Bresser Pereira e Ricardo Abramovay. Mais de 200 pessoas se espremeram num auditório lotado para acompanhar o debate. O texto de Mercadante, confirmado como ministro de Ciência e Tecnologia de Dilma, sustenta a ideia de que o governo Lula estabeleceu um novo modelo de crescimento econômico, com a política social tendo prioridade sobre a área econômica. A tese recebeu várias críticas da banca, mas foi aprovada.