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Politica

Biografia traz histórias pessoais e políticas do vice-presidente

Ao anunciar o balanço de seu governo, ontem, o presidente Lula contou que teve muita sorte por ter um vice leal como José Alencar. E por pouco ele perdeu o parceiro quando José Dirceu, então presidente do PT, e Valdemar Costa Neto, do PL, decidiram rachar a chapa pela Presidência. Os detalhes da crise estão no livro José Alencar amor à vida ; a saga de um brasileiro, da jornalista Eliane Cantanhêde, que será lançado hoje, em Brasília, a partir das 19h, na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi. A jornalista entrevistou políticos, médicos, assessores, amigos e familiares de Alencar para fazer a biografia. Internado, ele não virá ao lançamento, mas mandou seis garrafas de cachaça da sua fazenda.

Foi um desafio muito grande escrever sobre alguém que é uma unanimidade?
É um superdesafio porque você poderia fazer um livro só sobre o José Alencar empresário: aquele menino que saiu de casa aos 14 anos, que só estudou até o primeiro ano ginasial e se emancipou aos 18 para abrir a primeira lojinha e vira um dos maiores empresários do país. Um outro livro seria o líder sindical patronal. Ele participou das associações comerciais desde muito novinho, foi presidente da Fiemg (Federação das Indústrias de Minas Gerais), vice da CNI (Confederação Nacional da Indústria). E tem outro que é o do cara que entrou na política aos 60 anos. A primeira candidatura foi para o governo de Minas. Perdeu em 1994 e ganhou em 1998 para senador sem nunca ter sido vereador, deputado, nada. E que depois vira vice-presidente da República. Ele que vem da direita, do lado patronal, vira vice-presidente de um operário. E tem a parte toda da luta contra o câncer, que é um livro à parte.

Qual o ponto mais delicado, além, é claro, da luta contra o câncer?
Houve um em que o José Dirceu e o Valdemar da Costa Neto, que eram os presidente do PT e do PL, chegaram a redigir uma nota cancelando a aliança e a inclusão do nome do Zé Alencar na chapa como vice. Eles já iam chamar a imprensa para distribuir a nota. Chamaram Lula para apagar o incêndio e a nota foi rasgada.

E qual foi o motivo?
Eles não se acertavam quanto ao dinheiro. Tinha que arrecadar e depois distribuir. Quem arrecadava, quem distribuía, quais os critérios para isso. Quase que a chapa não deu certo.

No evento de balanço do governo, no Planalto, Lula contou que, na festa em que conheceu o Alencar, soube que tinha encontrado o seu vice. O livro conta que foi assim mesmo?
O primeiro capítulo chama-se ;A festa;. E relata a festa de 50 anos de atividades empresariais do José Alencar em Belo Horizonte. Ele convidou mais de mil pessoas, inclusive os presidentes de partidos. Lula não queria ir. E o José Dirceu dizia: ;Você tem que ir, você tem que ir para a cova dos leões;, ou melhor, a cova dos patrões. Dirceu foi como presidente do PT e Lula, como presidente de honra do partido. Chegou lá, Lula ouviu aquele discurso do Zé Alencar muito coloquial. Lula, quando saiu da festa, bateu a porta do carro e disse pro Zé Dirceu: ;Encontrei o meu vice;.

E a saúde dele?
São vários capítulos. O primeiro sobre o câncer que ele descobriu em 1997. Ele teve um câncer de rim. Chegou para a moça que fazia o exame e perguntou se pegava também o estômago. Ela disse que não pegava imagem das vísceras ocas. Ele chegou para o médico e disse que queria fazer um exame que pegasse as vísceras ocas porque queria saber do estômago. O médico disse que ele não tinha nada no estômago. Ele sentia uma dorzinha e os médicos diziam que era torresmo, comida, bebida. Mas ele, teimoso, disse que só faria operação se vissem o estômago. Conclusão: ele tinha câncer no estômago.

CONFIRA
O lançamento do livro será hoje, a partir das 19h, na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi.