Ao desembarcar em Brasília com a disposição de fechar hoje a composição do primeiro escalão de seu governo, a presidente eleita, Dilma Rousseff, encontrará uma série de movimentos em prol de nomes para os ministérios pendentes. O PT, por exemplo, decidiu cerrar fileiras em favor da transferência do atual ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, para a Saúde e conta ainda com o apoio de instituições ligadas ao setor. ;O único nome que não está contaminado com a proposta de desconstrução do Sistema Único de Saúde (SUS) é Padilha. Por isso, tem o nosso apoio. Está provado que os grandes cardeais não foram solução para consolidar o SUS;, comenta o presidente do Conselho Nacional de Saúde, Francisco Batista Júnior, que se refere ao ministro como alguém aberto ao diálogo e com trânsito suficiente para conversar com a ponta do sistema ; o atendimento municipal.
Da mesma forma que o PT se mexe por Padilha e também para indicar o futuro ministro das Relações Institucionais, o presidente do PP, senador Francisco Dornelles (RJ), aguarda um chamado da presidente eleita para dizer que a indicação da bancada para o Ministério das Cidades é mesmo o deputado Mário Negromonte (PP-BA). O nome de Negromonte é alvo de críticas por parte do PT e de movimentos sociais. O atual ministro, Márcio Fortes, conta com a simpatia do PT e de Dilma, sua antiga colega de ministério no governo Lula, mas não tem o aval da bancada.
Além dos partidos, Dilma está cuidando ainda da distribuição regional dos cargos. O Rio de Janeiro, que perdeu espaço, está prestes a receber o Ministério do Meio Ambiente. É que Dilma tende a nomear Marilene Ramos, que responde hoje pela Secretaria do Ambiente fluminense. Apesar do lobby do presidente Lula pela manutenção de Izabella Teixeira na pasta, a própria ministra anunciou ontem, numa solenidade, que, em 2011, estará de férias.
Marilene é doutora em engenharia ambiental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em gestão de recursos hídricos. Ela atuou como gestora do novo modelo de saneamento básico e planejamento de bacias hidrográficas. Ex-presidente da Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (Serla), substituiu Carlos Minc no órgão quando ele foi convocado pelo presidente Lula para ser ministro. O anúncio sobre o Meio Ambiente deve ser feito hoje, ao lado de outros nomes que devem assumir cadeiras na Esplanada. A escolha de Marilene, além de agradar a bancada do Rio, não deixa de ser um afago ao governador do estado, Sérgio Cabral (PMDB), que perdeu a oportunidade de indicar o ministro da Saúde.
Ciro Gomes
Dilma pretende anunciar ainda hoje a cota para o PSB. Ela vai conversar com o deputado Ciro Gomes (PSB-CE), ex-titular da Integração Nacional, que volta ao Planalto com todos os ex-ministros do atual governo para participar da solenidade de balanço dos oito anos da gestão Lula. Ontem, o presidente da Câmara e do PMDB, deputado Michel Temer (SP), disse que, se Ciro quiser mesmo voltar à Esplanada, terá que adotar a ;cautela verbal; ; a forma educada que o vice-presidente eleito adotou para dizer que não vai tolerar um ministro de Estado falar mal de seu partido dentro do governo do qual o PMDB não só participa, como chefiará durante as viagens de Dilma ao exterior.
Ciro vem para a conversa como uma incógnita. Por telefone, ele disse a Dilma que teria todo o interesse em ajudar o futuro governo, o que foi entendido como um sinal de que estará na equipe. Ele, entretanto, aguarda o que será oferecido ; Saúde está fora e, quanto aos aeroportos, Dilma cogita entregar a missão de consertá-los ao ex-presidente do Banco do Brasil Rossano Maranhão, ligado ao PT. Nesse caso, resta mesmo a Integração Nacional, onde Ciro já esteve e não vê muitos desafios. Mas o ministério é o braço do governo mais afeito ao Nordeste, em especial ao Ceará, governado por seu irmão, Cid Gomes (PSB). O problema agora é que, neste caso, Dilma atende Ciro, mas frustra o PSB, que já havia resolvido a sua vida, deixando a Integração para indicação do presidente do partido e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a bancada ficaria com a Secretaria de Portos. É nesse clima que se dará a conversa.
Sombra de Minc
Durante reunião da bancada do PT na sede do partido ontem, petistas distribuíram um documento intitulado A sombra de Minc no MMA, no qual acusa o ex-ministro do Meio Ambiente de tentar manter sua influência na pasta por meio da permanência de Izabella Teixeira ou da nomeação de Marilene Ramos. A sugestão é que a pasta seja comandada pelo líder petista na Câmara, Fernando Ferro (PE). O parlamentar pernambucano, no entanto, minimizou o texto e disse que a pressão para ele se tornar ministro veio tarde demais.
PT-MG BATE O PÉ POR DULCI
Juliana Cipriani
Patrícia Aranha
Belo Horizonte ; O PT de Minas Gerais aposta na indicação do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Luiz Dulci, para tentar emplacar mais um nome do estado na equipe de Dilma Rousseff. Com a possibilidade de ter de se contentar com apenas um ministério, visto como da cota pessoal de Dilma, e cobrando a fatura pelo fracasso eleitoral dos mineiros nas urnas, aliados trataram de convencer Dulci ; que chegou a anunciar não ter a intenção de voltar à Esplanada ; a ficar no governo. Agora, é um dos nomes cotados para Cultura.
As costuras para tentar estancar as feridas do PT mineiro, que se rebelou contra a Direção Nacional, não são simples. Depois de oito anos como braço direito do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Luiz Dulci não queria integrar o governo Dilma. No entanto, o PT de Minas Gerais está exigindo mais um ministro.
Até agora, o único mineiro previsto na equipe de Dilma é o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, para a pasta de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Para os integrantes do partido, Pimentel não representa todo o PT mineiro. ;Dulci sempre foi indicação nossa e, se for para o ministério, Minas será contemplada com um bom nome para a área da cultura;, comentou o presidente do PT mineiro, deputado federal Reginaldo Lopes.
RECURSOS VERDES CONTINGENCIADOS
Leandro Kleber
Especial para o Correio
O futuro titular do Meio Ambiente assumirá uma pasta problemática. Responsável pelas licenças ambientais de importantes obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o ministério sofre pressões tanto de setores desenvolvimentistas ; alguns do próprio governo ; interessados em fomentar o desenvolvimento do país, quanto de ambientalistas preocupados com os impactos desse crescimento. O orçamento da pasta é um dos que apresenta o maior volume de contingenciamento de recursos da Esplanada, e o próprio órgão se queixa de não ter pessoal suficiente para realizar fiscalizações das áreas de preservação ambiental do país.
;É evidente que o contingenciamento interfere nos trabalhos dos órgãos ambientais. Não se faz conservação sem recursos. Mas o ministério está preocupado com essa questão e discute com o governo para ver o que pode ser feito. Vale lembrar que a verba ambiental não vem apenas do Orçamento da União. Temos outras fontes;, minimiza o secretário de Biodiversidade e Florestas da pasta, Bráulio Dias.
Para 2011, de acordo com a proposta orçamentária que tramita no Congresso Nacional, o Ministério do Meio Ambiente, no qual estão vinculados o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), terá quase R$ 3 bilhões. No entanto, R$ 831 milhões estarão ;congelados; na chamada reserva de contingência, espécie de fundo usado pelo governo para ajudar as metas de superavit primário.