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Após denúncias contra Padilha, Dilma pausa processo de escolha de ministros

Diante do tiroteio em que se viu envolvido o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, a presidente eleita, Dilma Rousseff, inverteu o processo de escolha dos ministros e decidiu esperar mais uns dias para definir se o transfere para a Saúde ou o mantém onde está. Ontem, ela se dedicou a avançar nas negociações com o PSB. Depois de jantar com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, na noite de quarta-feira, ela recebeu ontem, na Granja do Torto, além de Eduardo, o vice-presidente do partido, Roberto Amaral, e o governador do Ceará, Cid Gomes. A presença de Gomes foi a novidade e a certeza de que Dilma quer o deputado Ciro Gomes integrado ao governo. ;Se ele não for ministro, será um dos responsáveis pela indicação;, disse ao Correio um dos integrantes da equipe de transição (veja ao lado).

A ideia de Dilma é fechar a composição dos aliados neste fim de semana para anunciar na segunda-feira um lote maior de ministros e, na quarta, concluir o desenho de pastas como a Saúde e demais ministérios da área social, a maioria destinada ao PT. No caso de Padilha, avisam integrantes da transição, ele continua como curinga da presidente eleita. Ontem, ele convocou entrevista para responder à reportagem do jornal O Estado de S. Paulo. O jornal estampou um documento com a suposta assinatura de Padilha para respaldar uma empresa de fachada na liberação de recursos no Ministério do Turismo.

;Jamais assinei esse documento, que destoa totalmente dos documentos daqui. Quero que a Polícia Federal apure até o fim quem colocou uma assinatura minha, escaneada, nesse documento, que apresenta sinais inequívocos de falsificação;, disse Padilha, que apresentou vários pontos de fraude na declaração, datada de 22 de março. Um deles no texto, que começa com a formalidade de ;eu, Alexandre (;) Padilha, declaro (;) que a Inbrasil ; Instituto Brasil de Arte, Esporte, Cultura e Lazer ; vem funcionando nos últimos 3 anos de forma regular prestando relevantes serviços à população;.

Escrito em suposto papel timbrado da Secretaria de Relações Institucionais, traz telefones e e-mails incorretos ; além de padrão gráfico diferente do utilizado pela SRI. O RG do ministro está errado. O CNPJ da empresa aparece como inválido. A assinatura, diz Padilha, foi escaneada. ;Há diversos documentos assinados por mim na internet. Sou o principal interessado em saber quem montou esse documento, uma vez que não há registro de sua entrada ou saída da SRI;, diz Padilha. Uma ex-assessora da SRI, Crisley Lins, disse na reportagem de O Estado de S.Paulo que pediu ao ministro para assinar o documento em favor do Inbrasil. Hoje, trabalha com o deputado Paulo Cesar (PR-RJ), que destinou parte de suas emendas ao instituto para eventos. ;Não há registro desse documento aqui na SRI;, disse Padilha, que, além de procurar a PF, abriu sindicância interna e aguarda o resultado.

Litígio
Padilha passa por esse tiroteio num momento em que é tido como um dos nomes próximos à presidente. Ele tirou férias para se dedicar à campanha e acalmar a guerra entre aliados em alguns estados. Não deixa de estar cotado para a Saúde, mas Dilma tem sobre a mesa o nome do secretário da Saúde da Bahia, Jorge Solla. E não desistiu de prestigiar o governador baiano Jaques Wagner. Para o Desenvolvimento Social, além de Teresa Campelo, que integra a Casa Civil, Dilma analisa o nome de Lúcia Falcon, secretária de Planejamento de Sergipe, que tem o nome em análise para o ministério encarregado do Bolsa Família, programa que tem maior apelo no Nordeste.

O senador eleito Wellington Dias (PI) voltou a ficar com as ações em baixa na bolsa de ministeriáveis porque Dilma não deseja sacar nenhum senador eleito do PT para compor o governo. Precisa da bancada intacta para não perder força e nem comissões técnicas.

O PRESTÍGIO DOS GOMES
Os Ferreiras Gomes continuam com prestígio diante da presidente eleita, Dilma Rousseff. Depois de um jantar fechado entre ela e o presidente do PSB, Eduardo Campos, o governador do Ceará, Cid Gomes, voou para Brasília ontem apenas para participar da reunião com Dilma, Campos e o vice-presidente do partido, Roberto Amaral. No encontro, ela ofereceu ao PSB os ministérios da Integração Nacional e a Secretaria de Portos. A secretaria continuará sob o domínio do Ceará, a quem caberá apresentar o ministro. A Integração deve ficar com Pernambuco, terra de Lula, governada por Eduardo Campos. E não está descartado um ;algo mais; para atender Ciro Gomes e, no futuro, o Ministério da Pequena e Micro Empresa. O desfecho das duas horas de conversa entre socialistas e Dilma ficou para este fim de semana.

Eduardo Campos, Cid Gomes e Roberto Amaral chegaram juntos ao aeroporto de Brasília, pouco antes das 19h, vindos da Granja do Torto. Os deputados Beto Albuquerque (RS) e Márcio França (SP) aguardavam no saguão. Eduardo e Cid não tiveram tempo de passar todos os informes da reunião, porque tinham compromissos em seus estados. A tarefa ficou para Roberto Amaral, que se reuniu com os dois por quase meia hora. Saíram todos com cara de poucos amigos, especialmente Márcio França. O deputado, ex-prefeito de São Vicente (SP) e ex-líder do partido na Câmara, recebeu o aval dos colegas congressistas para assumir a Secretaria de Portos, com status de ministro. Agora, vê o cargo ficar sob o comando do Ceará.

O problema é que uma parte do PT paulista considera França tucano demais. E, para tirá-lo do páreo, Dilma decidiu prestigiar os Ferreiras Gomes. Afinal, ela gosta de Ciro, ainda que ele tenha insistido em ser candidato à Presidência da República contra ela. O PSB só abortou a candidatura numa votação no diretório. Pouco antes de embarcar para Fortaleza, Cid avisou a Eduardo Campos que entraria em contato tão logo tivesse definido o quadro com Ciro. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) está fora dessa composição porque Dilma já confirmou Luciano Coutinho no cargo. (DR)