Depois de deixar insatisfeitos os integrantes do PMDB por conta da sua atuação na briga da legenda por poder no próximo governo, o vice-presidente eleito, deputado federal Michel Temer (SP), vai enfrentar novamente a fúria de parte da bancada de seu partido. Na última quarta-feira, ele anunciou informalmente que não pretende renunciar à Presidência da legenda, mas apenas licenciar-se do cargo. Com isso, ele descumpre um acordo feito com caciques da sigla em fevereiro, quando negociava apoio à reeleição. Na época, a ideia era que ele renunciasse ao comando do PMDB quando seu nome se viabilizasse como vice de Dilma Rousseff. Isso abriria espaço para o senador Romero Jucá (RR) se eleger para a função. Foi graças a esse acordo que o grupo aliado a Jucá aceitou reconduzir Temer.
A promessa de renúncia ao cargo quando assumisse uma função no Executivo rendeu ao vice-presidente eleito o apoio de lideranças da legenda como Renan Calheiros (AL) e José Sarney (AP). A dupla, apesar de ser ligada a Valdir Raupp (RO) ; que é o atual primeiro vice do Diretório Nacional do partido ;, não pretendia transformar o aliado em presidente da legenda num eventual licenciamento de Temer, já que encabeçaram o grupo que costurou o acordo em torno da futura eleição de Jucá.
O anúncio de que desistiu da renúncia e vai optar pelo licenciamento irritou os peemedebistas, que chegaram a cogitar um motim para tirar Michel Temer das articulações por cargos em ministérios. Na última terça-feira, caciques da legenda se telefonavam a todo instante.
O assunto era o mesmo: a péssima atuação do vice-presidente eleito em defesa dos interesses do partido. Segundo eles, a confusão de papéis desempenhados pelo deputado ; que ora atuava como presidente do PMDB, ora como representante do governo ; estava atrapalhando as negociações da sigla e amenizando o tom de ameaças de uma possível ruptura com Dilma Rousseff, caso os pleitos não fossem atendidos.
Os peemedebistas decidiram, no mesmo dia, tirar Temer da função de principal interlocutor da legenda nas negociações por ministérios. Mas a decisão durou apenas algumas horas. Prevaleceu a tese de que, como o novo governo ainda não começou, um racha antes da largada poderia prejudicar definitivamente futuras negociações. Decidiram, então, digerir a atuação de Michel Temer e armazenar munição para os ataques por espaço e poder a partir do próximo ano.
Com ministérios de peso menor do que os que mantiveram nas mãos nos últimos anos, os peemedebistas articulam agora a ofensiva aos cargos-chaves das estatais. Eles vão alegar que aceitaram as pastas oferecidas por Dilma, mas não pretendem engolir calados a baixa no orçamento que administram.
Motim
As pressões para que Michel Temer dê o recado e pressione a presidente eleita já começaram. A bancada do PMDB diz que a ideia agora é avaliar a forma como ele vai atuar no remendo das feridas abertas na divisão de cargos já anunciada. A depender, podem retomar o motim e tentar novamente tirar o parlamentar das negociações em nome da legenda.
Nascimento é acusado pelo MPF
; Diego Abreu
O Ministério Público Federal (MPF) no Amazonas protocolou uma representação no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do estado em que pede que senador Alfredo Nascimento (PR-AM) seja declarado inelegível, sob a acusação de que teria comprado votos na disputa eleitoral deste ano ; ele concorreu ao cargo de governador do Amazonas, mas foi derrotado por Omar Aziz (PMN). Presidente do Partido da República, o nome de Nascimento foi confirmado, na quarta-feira, pelo gabinete de transição, para voltar à chefia do Ministério dos Transportes. Ele foi indicado dentro da cota do PR, um dos partidos que apoiou a candidatura de Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto.
De acordo com a denúncia do MPF, Alfredo Nascimento teria sido beneficiado por um esquema de captação ilícita de votos a partir da oferta de combustível a eleitores feita pelo vereador do município de Humaitá (distante 680km de Manaus) Herivânio Seixas (PSB).
Então membro do comitê de campanha da coligação de Nascimento, o vereador chegou a ser preso depois de ter sido flagrado pela promotora eleitoral Simone Lima, em 21 de agosto, no momento em que distribuía combustível a eleitores. Segundo o MPF, o esquema foi confirmado por testemunhas. Uma delas disse ter recebido dois cheques do vereador, um de R$ 1,7 mil e outro de R$ 1,4 mil, ambos para colocar gasolina nos veículos de apoiadores da campanha.
;Vários carros, táxis e motocicletas estariam sendo abastecidos por orientação do vereador Herivânio para participarem de uma carreata em favor de Alfredo Nascimento, que visitaria a cidade naquele dia;, destaca trecho da representação. Ao MPF, o vereador alegou que estava no posto de combustível comprando água para levar a cabos eleitorais que aguardavam a chegada de Nascimento no aeroporto. Procurado pela reportagem, o senador negou, por meio de sua assessoria, ter praticado qualquer irregularidade.
Bloquinho promete fazer um barulhão
; Leandro Kleber Especial para o Correio
Com receio de serem engolidos pelos partidos aliados considerados grandes durante o mandato de Dilma Rousseff, os nanicos deram o primeiro passo para se unir no Congresso. Em reunião na Câmara, líderes do PRTB, do PRP, do PTC, do PSL, do PMN, do PHS e do PTdoB discutiram a formação de um ;bloquinho;. ;Queremos nos fortalecer. Separados, somos fracos. Juntos, podemos influenciar a decisão da Presidência da Casa, marcar posição na Mesa Diretora e ter maior presença nas comissões;, afirma o presidente do PRTB, Levy Fidelix, candidato à Presidência da República derrotado nas urnas em outubro.
Para não perderem espaço nos próximos quatro anos e ainda ganharem força para as eleições municipais de 2012, os sete partidos ; que terão 15 deputados federais e um senador em 2011 ; também pensam em maneiras para não serem prejudicados caso alguma proposta de reforma eleitoral seja votada.
Telma Ribeiro, secretária-geral do PMN, que elegeu quatro deputados federais e um senador para a próxima legislatura, acredita que, diante da criação dos ;blocões; no Congresso, a formação de um grupo dos pequenos é uma maneira de sobreviver. ;Claro que não dá para mudar o Legislativo, mas dessa forma ganharemos mais visibilidade e atuaremos de forma mais tranquila. A união faz a força. Da maneira como está hoje, nós nem sequer somos ouvidos na votação de matérias;, afirma. ;A ideia é ser um bloco independente, sem vínculo governamental. Mas essa adesão não pode passar por cima das posições definitivas de cada partido. Se tivermos mais em comum do que diferenças, vale a união. Caso contrário, fica muito difícil atuar;, completa.
Qualquer união entre partidos para a nova legislatura só poderá ser oficializada no fim de janeiro de 2011, dias antes da posse dos novos parlamentares, em 1; de fevereiro. Até lá, o ;bloquinho; que começa a ser formar agora poderá ficar maior. Na próxima quarta-feira, lideranças do PRB ; que terá oito assentos na Câmara ; deverão se encontrar com os representantes do grupo para discutir uma possível adesão. Assim, o bloquinho ficaria com 23 parlamentares, o que daria direito de pleitear a 4; Secretaria, responsável por supervisionar o sistema habitacional da Câmara.