Desde que Dilma Rousseff se recolheu na residência da Granja do Torto para traçar a composição da Esplanada, ministros com a situação incerta se dedicam a revirar hipóteses de lobby para tentar permanecer. As estratégias romperam até a barreira da política. Quem tinha trânsito suficiente pediu um agrado oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Outros correram em direção aos partidos, buscaram interlocutores privilegiados, distribuíram até currículos. Os mais agressivos partiram para cooptar apoio da sociedade, pedindo apoio de notáveis e incentivando até abaixo-assinados.
O silêncio que caracteriza a transição comandada por Dilma contrasta com o volume com que alguns ministros pleiteiam a permanência. Atualmente, o clube do lobby tem como principais expoentes Alexandre Padilha, que tenta mudar da pasta de Relações Institucionais para a de Saúde, Izabella Teixeira (Meio Ambiente), José Gomes Temporão (Saúde) e Juca Ferreira (Cultura).
Juca comprou briga com o próprio partido, o PV, para apoiar Dilma durante a campanha eleitoral. Buscou o apoio público do antigo ministro Gilberto Gil, promoveu reuniões e almoços com artistas. Recitou um par de vezes as vitórias à frente do cargo, como o aumento na parcela do orçamento federal destinado à cultura, além de projetos em fase de votação no Congresso, como o Vale Cultura.
Juca fez, ainda, esforços para ter agendas comuns com Lula ; e até conseguiu do presidente uma fala de apoio. A pressão inclui abaixo-assinados, criados na internet por apoiadores do ministro. Em um deles, o autor chega a citar que o titular da Cultura promoveu uma ;revolução; na pasta. A ideia, no entanto, não parece ter sido inédita. No mesmo portal, há abaixo-assinados pedindo a nomeação do músico Wagner Tiso e até do deputado federal Maurício Rands (PT-PE) para a pasta.
Mesmo com o esforço, a falta de apoio político deve custar a cadeira de Juca. ;O ministro até fez um bom trabalho, mas ele não é uma questão do partido e está licenciado da legenda. Nossa posição é de não pedir a permanência dele nem qualquer outro cargo no governo Dilma;, diz o deputado federal Alfredo Sirkis (PV-RJ).
Seguindo parte do modelo utilizado por Juca, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, tentou ter o apoio público de entidades ambientalistas ; as mais tradicionais não se animaram. Sem apoio partidário, já que sequer é filiada a uma legenda, a atual titular do MMA tem o lobby capitaneado pelo ex-ministro Carlos Minc. Enumera conquistas à frente da pasta, ainda que esteja há oito meses no cargo, e teve o lobby chancelado por Lula no fim do mês passado.
O apoio político que falta a Juca e Izabella é o triunfo de Padilha para tentar assumir o ministério da Saúde. Nome emergente no PT, o médico sanitarista se movimenta em silêncio, mas intensamente. Já buscou apoio da classe média, incluindo o cardiologista de Dilma, Roberto Kalil Filho, e não hesita em distribuir o currículo a quem pode contribuir para a causa. Depois do recuo na escolha do secretário de Saúde fluminense, Sérgio Cortes, voltou à carga, mirando a cota ministerial da bancada petista na Câmara dos Deputados.
Toalha de Temporão
Outro lobby, ainda que tímido, na disputa pela Saúde, é o do atual titular da pasta, José Gomes Temporão (PMDB). Ele até se despediu do cargo em público, mas ainda alimenta esperanças de permanecer. Para isso, tentou ser incluído na cota de ministros da bancada peemedebista da Câmara dos Deputados, sem sucesso.