Os interesses do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, ontem em Brasília foram muito além dos reforços na área de segurança e no combate ao tráfico de drogas. Desde que foi apontado como ;padrinho; do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, o governador fez chegar à equipe de transição seu interesse em manter um ministério do Rio de Janeiro indicado por ele, nem que seja na área de segurança, onde começa a montar a sua plataforma política. Na hipótese de a presidente eleita, Dilma Rousseff, não aceitar um nome do Rio nem nessa área nem na Saúde, os peemedebistas ligados ao governador se mostram dispostos a brigar por um ministério de igual peso ; caso, por exemplo, da pasta das Cidades, para onde o vice-presidente eleito, Michel Temer, gostaria de ver indicado o ex-deputado Moreira Franco, seu fiel escudeiro durante a campanha presidencial.
Nesta segunda-feira, Cabral chegou a Brasília disposto a dizer a Dilma que Moreira não é um nome indicado pelo Rio. A reunião entre os dois não havia terminado até o fechamento desta edição, por volta das 23h. Entre os peemedebistas, há quem diga que Cabral inclusive teria vetado o nome de Moreira para a pasta das Cidades. O governador não quer deixar crescer em seu território alguém que faria política no seu partido, mas longe do governo estadual. Há um temor que Moreira e o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) se unam para tentar tirar de Cabral o protagonismo político no estado. Essa é hoje uma das brigas internas do PMDB (leia mais abaixo).
Projeção
Cabral passou o dia com ares de vitória. Afinal, conseguiu desta vez uma projeção que não obteve em 21 de abril de 2008, durante uma invasão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) ao Complexo do Alemão. Naquele dia, a polícia entrou no morro, mas, passados alguns meses sem uma ação efetiva do Estado, os traficantes voltaram e ainda torturaram moradores que delataram seus esconderijos. Agora, a presença da TV e a transmissão ao vivo deram ao governador a imagem da ordem dentro e fora do Brasil. Ontem, por exemplo, ele foi citado pelo jornal espanhol El País como possível candidato à Presidência da República em 2014.
O governador, o PMDB e o PT estão cientes dos reflexos políticos do combate ao tráfico no Rio de Janeiro. E, se Cabral conseguir impedir a volta do tráfico ao local ao longo dos próximos quatro anos, há no PMDB quem o considere um forte candidato. A operação do último fim de semana começou a ser trabalhada há dois anos, com serviços de inteligência e obras do PAC no Alemão.
Investimentos
Enquanto Cabral veio a Brasília para o encontro com Dilma Rousseff, o vice-presidente eleito, Michel Temer (PMDB), afirmou a investidores do mercado financeiro que eles não devem ter dúvidas quanto ao compromisso do governo petista em buscar bons resultados das contas públicas a partir de 2011. ;Não desconfiem do governo, o governo estará muito atento;, disse, durante o 9; Congresso Brasileiro da Construção, na sede da Fiesp, em São Paulo.
Na opinião de Temer, a meta da nova gestão é seguir o processo de continuidade das mudanças: ;Temos muito Brasil pela frente e muito a ser feito;. E ressaltou que a meta é continuar mudando para que o setor privado seja parceiro do governo em novos investimentos. Ele prometeu, ainda, que o governo continuará fazendo as desonerações necessárias para atrair o capital privado, mas não entrou em detalhes. O vice-presidente eleito elogiou ainda o atual presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que está se despedindo do cargo depois de ficar à frente da instituição nos oito anos do governo do presidente Lula. ;Seguramente, ele deve merecer o aplauso do novo governo.;