Decidida a não manter Henrique Meirelles no comando do Banco Central, a presidente eleita, Dilma Rousseff, praticamente já escolheu Alexandre Tombini, atual diretor de Normas da instituição, como o futuro comandante da instituição. Com bom trânsito no Ministério da Fazenda, ele é considerado ideal, pois, além de sinalizar a continuidade da condução da política monetária, poderá fazer a integração entre o banco e a pasta comandada por Guido Mantega. Corre por fora o secretário de Política Econômica da Fazenda, Nelson Barbosa, visto com ressalva pelo mercado financeiro, por indicar mudanças bruscas nos rumos das taxas de juros. Barbosa, por sinal, esteve ontem com Dilma e será importante no governo, podendo, inclusive, ser nomeado para um ministério.
É quase certo que o próximo presidente do BC não terá status de ministro, prerrogativa dada a Meirelles para ter foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal (STF), diante das acusações ; depois arquivadas ; de sonegação fiscal e evasão de divisas. Com Tombini ou Barbosa, o BC terá autonomia para decidir sobre os juros e deverá trabalhar em conjunto com a Fazenda para conter os estragos provocados na economia brasileira pela guerra cambial no mundo.
;Meirelles só não ficará no Banco Central porque fez a aposta errada;, comenta um integrante da equipe de transição, ao avaliar que o atual presidente do BC jamais poderia ter imposto condições à futura presidente para permanecer à frente do BC. Por meio da imprensa, Meirelles disse que já havia sido convidado para continuar no cargo, o que Dilma desmentiu, e condicionou a sua permanência à frente da autoridade monetária à manutenção da autonomia que Lula lhe deu para manejar a política monetária. A imposição de Meirelles veio logo depois de Dilma confirmar Guido Mantega para o Ministério da Fazenda.
Ontem, no encontro com Dilma, Barbosa disse que falou mais sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do Minha Casa, Minha Vida. Mas, na verdade, eles trataram de reflexos da economia sobre os investimentos do governo em infraestrutura . Na reunião estava ainda Miriam Belchior, citada como futura ministra do Planejamento. Há quem diga que ela já foi inclusive convidada. Hoje, é a secretária executiva responsável pelo PAC. Foi citada para ministra da Casa Civil quando Erenice Guerra sucumbiu em meio a uma avalanche de escândalos envolvendo tráfico de influência.
Apostas
Tombini vem sendo cotado para a presidência do BC desde o início do ano, quando Meirelles cogitou deixar o BC para ocupar a vaga de vice na chapa presidencial liderada por Dilma. Mas o PMDB, partido ao qual se filiara pouco antes, o descartou. Na mesma ocasião, Nelson Barbosa apareceu na lista de apostas. O certo é que, mesmo que não emplaque no BC, Barbosa terá lugar de destaque na área econômica. Ele tem bons serviços prestados à presidente eleita, ao licenciar-se da Fazenda para se dedicar à campanha da candidata e ajudar na formulação do plano de governo. Além do BC e do Planejamento, também é cogitado para a presidência do BNDES, em substituição a Luciano Coutinho, que seria indicado para a presidência da Vale.
Escolhidos os principais cargos da equipe econômica, Dilma passará a se dedicar ao grupo palaciano. É dada como certa a colocação de Giles Carriconde Azevedo na chefia de gabinete da presidente eleita. O atual ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, também é considerado nome forte. Não se sabe, entretanto, em que cargo. Nos últimos dias, a presidente eleita tem dito que deixar Bernardo no Planejamento seria ;cara de continuidade;. E, para Dilma, é preciso dar um ar de novidade e de renovação.
Os pires estaduais
Enquanto Dilma escolhe a equipe econômica para anunciar nos próximos dias, governadores eleitos e reeleitos trazem para Brasília uma pauta de reivindicações. Uma delas é do gosto do governo: a derrocada da PEC 300, aquela que cria um piso nacional para o salário dos policiais e bombeiros. Os governadores dirão que as realidades locais não permitem a aprovação da emenda constitucional em tramitação no Congresso. A outra pauta, entretanto, é considerada mais indigesta aos olhos da área econômica. Eles querem a permanência das compensações da lei Kandir, que prevê subsídios às exportações. São, pelo menos, R$ 7,2 bilhões a mais no Orçamento de 2011, que o governo ainda não garantiu pagar.
Hoje, eles vão se reunir com o vice-presidente eleito, Michel Temer, e os ministros de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e do Planejamento, Paulo Bernardo, além de líderes partidários, para cobrar a aprovação das compensações e sua inclusão no Orçamento de 2011. Foram chamados governadores da oposição ; como Geraldo Alckmin, de São Paulo, e Antonio Anastasia, de Minas Gerais ; e da base governista, casos de Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro; Eduardo Campos, de Pernambuco; e Jaques Wagner, da Bahia. O encontro será na residência oficial da Câmara dos Deputados, onde mora o vice-presidente eleito. Os governadores vão pedir ainda a aprovação do Fundo Nacional de Combate à Pobreza, um texto que está pronto para ir ao plenário. A reunião está marcada para as 11h. (DR)