Passados mais de dois anos da publicação da súmula antinepotismo, o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) renomeou a prima Adriana Crivella para um cargo em seu gabinete com salário de R$ 3,7 mil. Ela tinha sido exonerada em setembro de 2008, um mês depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu proibir a contratação de parentes em cargos comissionados. O ato de contratação da assessora do parlamentar foi assinado em 29 de outubro de 2010 pela diretora-geral adjunta Andréa Valente da Cunha, mas só foi publicado no Diário Oficial de 4 de novembro.
Quando exonerou Adriana, há dois anos, o senador ; reeleito em 3 de outubro passado ; negou que ela fosse parente e até ironizou as acusações, afirmando que o sobrenome Crivella é tão comum entre os descendentes italianos como é Silva entre os brasileiros. Na ocasião, chegou a dizer até que era coincidência ter uma assessora com o mesmo sobrenome. Mas a estratégia de negar o parentesco não resistiu a uma análise sobre os ascendentes do senador. O Correio falou com familiares de Crivella e apurou que Adriana é filha de Vicenzo Crivella, primo do pai do senador, Múcio Crivella. Vicenzo tem uma empresa de reformas de ônibus em Nova Iguaçu (RJ) e seus funcionários conhecem bem o parentesco entre o patrão e o parlamentar. ;Eles são primos. A Adriana é secretária do senador;, afirma uma funcionária da empresa.
A própria servidora do Senado admite o parentesco, antes negado pelo senador. ;Somos realmente primos. Mas somos distantes. Nossos pais nem cresceram juntos;, diz. Adriana só não consegue explicar direito qual é a sua função na equipe do primo. ;Não sou secretária, não. Faço serviços para ele aqui no Rio. Projetos em geral;, afirma Adriana.
Idas e vindas
Após ser exonerada do cargo que exercia no Senado, logo depois que a Justiça proibiu a contratação de parentes, Adriana Crivella morou no exterior. Segundo ela, fez ;outras coisas;. Voltou a frequentar o escritório político do parlamentar no Rio de Janeiro durante a campanha deste ano e há pouco mais de um mês voltou a exercer o cargo de confiança no Senado. Mas não tem aparecido por lá, segundo pessoas que trabalham no gabinete.
O sumiço da prima do senador é percebido também na página da transparência da Casa. Adriana não aparece na lista de servidores, apesar de ter sido nomeada no início do mês. Segundo a assessoria da Casa, seu nome só passa a fazer parte do sistema depois que ela entregar um termo de exercício ao Departamento de Recursos Humanos. Nesse documento, a servidora se compromete a exercer a função para a qual foi nomeada. A exigência foi adotada depois dos escândalos envolvendo a contratação de servidores fantasmas. O senador Marcelo Crivella não retornou os telefonemas feitos pela reportagem.