Sem conseguir convencer os peemedebistas a aceitarem um rodízio para a Presidência do Senado, o PT está mesmo decidido a ficar com a da Câmara no primeiro biênio do governo Dilma Rousseff. Só tem um problema: falta encontrar um candidato que reúna todos os ingredientes capazes de levar a sigla à vitória. Dos quatro nomes do PT que se apresentaram ao grid para concorrer ao cargo, dois queimaram a largada: João Paulo Cunha e Arlindo Chinaglia, ambos de São Paulo. Restam o líder do governo, Cândido Vaccarezza (SP), com mais chances dentro do partido do que fora dele, e o atual primeiro vice-presidente da Casa, Marco Maia (RS), que tem mais simpatia entre os parlamentares que não são do PT.
Na primeira avaliação feita pelos petistas, a conclusão foi a de que se João Paulo Cunha não estivesse enroscado no escândalo do mensalão petista com saque de dinheiro no Banco Real, seria o melhor nome. João Paulo tem prestígio no PT e é querido pelo chamado baixo clero da Casa. Arlindo Chinaglia, embora seja o melhor nome para o público externo, por causa da gestão austera, já foi presidente e teria hoje dificuldades em convencer os colegas e até mesmo o PT.
Vaccarezza, embora tenha chances de vencer a disputa interna, é citado na Casa como o ;Greenhalgh II;, uma referência à candidatura do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), que concorreu à Presidência da Câmara em 2005 e perdeu para Severino Cavalcanti (PP-PE). Nos bastidores, grupos de deputados já começam a se movimentar para buscar uma candidatura alternativa caso Vaccarezza seja o postulante ao cargo pelo PT. Idêntico ao processo que terminou por resultar na derrota de Greenhalgh.
Na reunião do bloco PSB, PCdoB e PDT esta semana, houve quem alertasse para esse risco e a dificuldade de controle das bancadas, em caso de uma profusão de candidaturas. No encontro, os comunistas chegaram a cogitar que, talvez, os petistas pudessem ceder esse espaço a um outro partido. Mas a ideia foi prontamente descartada porque o PT não cogita abrir mão de presidir a Câmara, da mesma forma que não há a hipótese de o PMDB ceder a Presidência do Senado.
Na Câmara, os peemedebistas sabem que dificilmente conseguirão emplacar o seu líder, Henrique Eduardo Alves (RN), no comando da Casa nos próximos dois anos. O primeiro movimento nessa direção ; a formação do superbloco com partidos mais conservadores ; foi abortado esta semana pelo presidente Lula. A única hipótese seria afrontar o PT, o que ninguém aposta na largada de um governo que obteve 55% dos votos. Até porque o PMDB, como parceiro da vitória de Dilma e com Michel Temer no papel de vice-presidente da República, não deseja esse rompimento.
Paulistas
Ocorre que, enquanto o PMDB tem apenas um candidato, dentro do PT a disputa prossegue. A intenção dos paulistas do partido é demonstrar força e fazer de um dos seus presidente da Câmara. Da mesma forma que, na campanha presidencial, houve um sentimento antipaulista, principalmente no Nordeste, há na Câmara uma expectativa de mudança quanto à origem do presidente da Casa. Afinal, desde 2003 que o presidente da Câmara é de São Paulo. É nesse cenário que o gaúcho Marco Maia pode passar de azarão a principal nome para concorrer ao comando da Casa. Afinal, a última vez que o Rio Grande do Sul assumiu a Presidência da Câmara foi nos anos 1990, com Ibsen Pinheiro, do PMDB.
Maia não está tão fora de sintonia com o futuro governo como imaginam alguns desavisados de partidos aliados. Ele tem como principal cabo eleitoral dentro do PT o governador eleito do Rio Grande do Sul, Tarso Genro. Tarso ciceroneou Dilma Rousseff nos dois turnos da eleição presidencial e é lá que a presidente eleita começou sua caminhada política. Para muitos no PT, não é pouca coisa.
Saque de R$ 50 mil
Ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP) envolveu-se no esquema do mensalão por ter aparecido como beneficiário de um saque de R$ 50 mil das contas do empresário Marcos Valério de Souza. O dinheiro foi usado para ele pagar pesquisas eleitorais nas cidades da região de Osasco (SP), sua base eleitoral. O deputado admitiu que retirou e usou os recursos, mas culpou o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, alegando que não sabia da ilegalidade. O parlamentar petista é réu no processo que tramita no Supremo Tribunal Federal. O relator do caso, ministro Joaquim Barbosa, encerrou a fase de coleta de depoimentos e caminha para a fase de diligências. A previsão é julgar o processo só no fim de 2011.