Antes mesmo de ser comunicado oficialmente o lugar que ocupará no primeiro escalão do futuro governo, o ex-ministro da Fazenda e médico Antonio Palocci avisou à presidente eleita, Dilma Rousseff, para onde não quer ir: o Ministério da Saúde. Palocci ponderou com Dilma e Lula que, se fosse para essa área, não teria como participar do centro nervoso do governo, como, por exemplo, as reuniões diárias da coordenação, uma vez que a área da Saúde é complexa demais para que o ministro absorva outras funções. Desde então, Dilma passou a cogitar a presença de Palocci no Ministério das Comunicações, que hoje é da cota do PMDB de Minas.
Absolvido do caso da quebra de sigilo do caseiro Francenildo em agosto do ano passado, Palocci tem confidenciado a amigos que não gostaria de um cargo de exposição total, que pudesse trazer tudo à tona. Nem tampouco algo que lhe deixe fora da coordenação do governo que ele está ajudando a montar. Dilma ainda não bateu o martelo, mas a tendência é entregar a Palocci a tarefa de montar o serviço de banda larga, a reestruturação da Telebras e, em conjunto com essas tarefas, um assento na coordenação.
Se esse desenho for mantido até 15 de dezembro, Comunicações será um ministério incluso no segundo bloco de cargos, dentro do cenário de três fases que Dilma montou com Lula no início da semana: o primeiro inclui aqueles que não entram na cota partidária, como a área econômica e os cargos palacianos. O segundo bloco entra na cota dos partidos, mas ficam naquele lusco-fusco, em que o ministro é mais da cota da presidente eleita do que propriamente indicação partidária. É nesse contexto que cabe a indicação de Palocci e a de José Eduardo Cardozo, cotado para a Justiça, e ainda o Ministério de Desenvolvimento Social. O terceiro bloco é aquele de livre indicação pelos partidos.
Mesmo nos cargos onde os partidos vão indicar, a presidente eleita está mesmo disposta a fazer um rodízio na Esplanada. A ideia é evitar os ;feudos; a que já se referiu o presidente do PT, José Eduardo Dutra, em entrevistas, como uma espécie de aviso aos interessados. Dilma pretende oxigenar, trocando equipes que estão na mesma seara há anos. Caso do Ministério dos Transportes, que tem Alfredo Nascimento como ministro desde 2004. Em 2006, ele saiu para concorrer ao Senado e, eleito, voltou ao cargo. Agora, derrotado para o governo estadual, não deverá ter a mesma sorte, até porque nomear quem perdeu a eleição abre um precedente que Dilma pretende evitar. Se Fernando Haddad deixar o Ministério da Educação, será mais por esse critério do que pelo Enem. Isso sem contar a pressão do PT paulista para abrigar Marta Suplicy ou mesmo Aloizio Mercadante.
Outros aliados que devem colocar as barbas de molho e não esperar muito são o PP e o PTB. Ambos ficaram fora da coligação de Dilma e isso será considerado, avisam os integrantes da equipe de transição. O PP só teve parte da bancada apoiando a petista. O PTB deu, oficialmente, suporte a José Serra (PSDB). Sendo assim, será bem recebida a indicação do senador eleito Armando Monteiro Neto (PE) para ministro de Indústria e Comércio, mas a pasta do Turismo ficou mais distante.
Técnicos
Setores como Correios e Infraero também terão capital aberto. A ideia de Dilma é colocar uma gestão mais profissional, assim como nas agências reguladoras de vários setores ; Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), de Petróleo e Gás (ANP), de Telecomunicações (Anatel), Transportes Terrestres (ANTT), Águas (ANA) e Vigilância Sanitária (Anvisa). Mas essa é outra etapa, até porque, no caso das agências, todos têm mandato.
MEMÓRIA
Ministério estratégico
Denise Rothenburg
O Ministério das Comunicações foi, por dois momentos na história recente do país, um porto de grande peso político na Esplanada. O primeiro foi ainda no governo do então presidente José Sarney, quando era comandado pelo baiano Antonio Carlos Magalhães. O segundo foi no governo Fernando Henrique Cardoso. O paulista Sérgio Motta saiu da coordenação da primeira campanha de Fernando Henrique, em 1994, para assumir o ministério em 1995.
De lá, ajudava na coordenação de governo e, não raro, criava problemas. Numa entrevista em 1997, gerou uma crise com o PFL ao dizer que quem mandava no governo era o PSDB e que os pefelistas tinham papel secundário. Luís Eduardo Magalhães, então líder do governo na Câmara, pediu demissão e o caso só foi contornado depois que Fernando Henrique Cardoso desceu à sala de briefing do Palácio do Planalto e desautorizou o ministro das Comunicações.
Ali, foi responsável pela montagem de todo o processo de privatização das empresas de telefonia, inclusive pela elaboração dos projetos que resultaram na quebra do monopólio estatal. Não pôde concluir o trabalho porque morreu em 1998, antes da campanha pela reeleição. Luís Eduardo faleceu logo depois, vítima de infarto. Agora, se Palocci vier a ocupar mesmo o Ministério das Comunicações, terá a tarefa de fortalecer a Telebras que Motta pretendia ver extinta. A diferença é que é muito mais discreto e, avaliam alguns, não criará problemas com o PMDB, como Motta criou com o PFL. Pelo menos essa é a aposta de hoje.