Menos de 24 horas. Esse foi o tempo que a presidente eleita, Dilma Rousseff, levou para desmontar o plano do PMDB de formar um bloco com partidos mais conservadores para garantir os espaços no governo. Seu primeiro passo foi, por intermédio de seus mais fiéis escudeiros na Câmara e num café da manhã com o vice-presidente eleito, Michel Temer, mandar o seguinte recado a todos: ;Quem quer uma convivência pacífica e parceria de fato não começa fazendo exigências nem isolando aliados. Nosso governo é de parceria;. Para bons entendedores, estava claro: Dilma não irá montar o ministério tomando por base os pedidos de blocos parlamentares. Conversará com os partidos aliados isoladamente, a começar pelos maiores, PT e PMDB. E tudo estará anunciado até 15 de dezembro.
O primeiro a pular fora de um bloco para levar Dilma a manter espaços de poder foi o PP. ;Somos parceiros da presidente e o bloco será para conquistar espaços na Câmara. Governo é com ela;, disse o líder do partido, João Pizzolatti, que, no início da tarde, depois de uma conversa com o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves, voltou a dizer que participará do bloco, mas só no ano que vem, ;em busca de espaços na Câmara;. No plenário da Casa, entretanto, houve quem dissesse que o PP deixou o bloco porque recebeu o seguinte recado da equipe de transição: a presidente Dilma está satisfeita com o desempenho do PP no Ministério das Cidades, mas não negocia nada na base da chantagem.
Temer saiu do café da manhã com Dilma direto para a Câmara, onde se reuniu com os líderes do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN) e Cândido Vaccarezza (SP), pré-candidatos à Presidência da Câmara. Ali, foi dito que, se o PT quiser fazer parte do bloco, será bem-vindo. E também ficou acertado que o ;centrão; será para conquista de espaços no parlamento, não no governo. ;Nosso objetivo é parlamentar;, disse Henrique Alves, num tom diferente daquele adotado na terça-feira. A declaração foi feita assim que o líder peemedebista saiu do encontro com João Pizzolatti (SC).
Àquela altura, já no fim da manhã, o tabuleiro que o PMDB tentou montar estava desfeito. O anunciado bloco não foi oficializado e, se sair, será depois de definido o ministério. O próprio presidente Lula ajudou a desmontar. ;A política é como um leito de rio. Se a gente não for desmancha-ambiente, se a gente deixa a água correr, tudo vai se colocando de acordo com o que é mais importante. Se as pessoas tentam de forma conturbada mexer na política, pode não ser muito bom;, disse o presidente, quando se referiu ao bloco como algo que não ocorreu. Sendo assim, a reunião dos aliados mais à esquerda ; PSB, PDT, PCdoB , e, ainda, PRB e PV ; avaliou que o momento de cautela (veja abaixo). E também deixaram para tratar disso depois da montagem do Ministério. Agora, avaliam os interlocutores de Dilma, o governo mostrou força. Mas a relação política, se continuar nesse ritmo, não será das melhores.
ACENO AO PT
Em meio à batalha partidária por cargos no novo governo, a presidente eleita, Dilma Rousseff, decidiu marcar presença na reunião do diretório nacional do PT, amanhã, em Brasília. ;Ela fará uma saudação ao partido;, disse um dos coordenadores da transição, o deputado federal José Eduardo Cardozo (PT-SP). Ele participou de reunião com a presidente eleita e o deputado federal Antonio Palocci (PT-SP) ontem à tarde, na Granja do Torto. Segundo ele, foram repassadas a Dilma novas informações sobre o processo de transição. Hoje, a equipe de transição reunirá especialistas para um debate sobre formas de erradicar a miséria até 2014.
A esquerda se mobiliza
Tiago Pariz
Numa reação aos movimentos do PMDB, os partidos de esquerda, capitaneados por PSB e PDT, ensaiam a formação de um bloco para rivalizar com as intenções do líder peemedebista Henrique Eduardo Alves (RN). Representantes de PSB, PDT, PCdoB, PV e PRB reuniram-se ontem num primeiro passo para se tornarem a segunda maior força da Câmara. Se a aliança sair, serão 100 deputados congregados num único grupo. Os partidos querem também incluir os quatro parlamentares eleitos do PMN e os 88 do PT para chegar a 192 congressistas e servir como contraponto ao centrão, composto por PMDB, PP, PRB, PTB e PSC, que reúne 202 parlamentares.
A movimentação visa enfraquecer as articulações de Henrique Eduardo Alves e fortalecer essas legendas nas negociações sobre a composição da próxima Mesa Diretora da Câmara. ;Sozinhos, esses partidos têm pouca influência. Juntos, somos uma força a ser respeitada;, afirmou o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP). O líder do PSB na Câmara, Rodrigo Rollemberg (DF), anfitrião do encontro, disse que as conversas ainda são iniciais, mas afirmou que o grupo será uma força importante para servir como contraponto ao centrão.
Nas contas do deputado do PSB, eleito senador, se a Presidência da Câmara for decidida pelos blocos, quem conseguir atrair os 11 deputados que completam os outros partidos aliados da Câmara sai na frente. O parlamentar do PDT afirmou que as conversas foram antecipadas por uma precipitação do PMDB. Para ele, é importante o PT aderir ao bloco de esquerda. ;Vai ser uma briga boa;, previu Paulo Pereira da Silva.
O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), nome mais forte entre os petistas para disputar a Presidência da Casa, limitou-se a dizer que é contra a formação de blocos e pregou entendimento com o PMDB. Os partidos de esquerda acreditam que a movimentação liderada por Henrique Alves foi antecipada por um temor do PMDB de ver seu poder de barganha reduzido nas negociações sobre o futuro ministério. Isso dentro do contexto de que o PT quer retirar o Ministério da Saúde da cota peemedebista e conquistar, ainda, uma pasta de infraestrutura.
AS NOVAS CADEIRAS
O PSB foi a bancada que mais cresceu na eleição de 2010 entre os partidos de esquerda. Ganhou sete parlamentares e terá 34.
O PDT elegeu quatro a mais do que em 2006 e contará com 28 deputados a partir de 2011. O PV conquistou mais duas cadeiras e terá 15. A bancada do PRB na Câmara será formada por 8 congressistas. O PMN elegeu três em 2006 e, a partir de fevereiro, chegará a quatro.