A transição de fato entre os governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff começa a partir de hoje. Até a semana passada, os coordenadores do processo trabalhavam para levantar dados técnicos e as reivindicações de aliados para a composição dos futuros ministérios. A partir desta terça-feira, a presidente eleita receberá representantes de entidades civis, que levarão sugestões para setores como meio ambiente e direitos humanos para os próximos quatro anos. Ela ainda analisará os pedidos de partidos e de aliados por pastas na Esplanada dos Ministérios.
Um dos coordenadores da transição, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, entregou a Dilma, no início da noite de ontem, a lista com os pleitos de todos os presidentes das legendas alinhadas ao Palácio do Planalto. Pouco depois foi a vez de o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) chegar à Granja do Torto. Segundo o parlamentar, que também integra a equipe de transição, ele foi ;apenas visitar; Dilma, e não tratar de assuntos oficiais.
A presidente eleita chegou a Brasília na tarde de ontem, depois de viajar à Coreia do Sul para a reunião do G-20; a São Paulo, onde visitou o vice-presidente José Alencar; e a Porto Alegre, para encontrar familiares. De carro, foi pela primeira vez à residência oficial da Granja do Torto e não falou com a imprensa. Ela morava em uma casa no Lago Sul e a nova residência dividirá com o Centro Cultural Banco do Brasil o posto de quartel-general de Dilma até a posse, em 1; de janeiro. Além dos assessores que a acompanhavam desde o aeroporto, a presidente eleita recebeu somente a visita de Dutra, perto das 19h30, que foi entregar o relatório sobre os postos disputados por aliados.
Sem pressa
Dilma deve se reunir hoje com o presidente do PT, além de outros coordenadores da transição, como o vice eleito, Michel Temer, e os deputados federais José Eduardo Cardozo e Antonio Palocci (PT-SP). Os dois últimos já estiveram com Dilma desde que ela voltou da reunião do G-20, no sábado, e atualizaram a petista sobre questões técnicas e as negociações em torno do Orçamento de 2011. O relatório da proposta orçamentária deve ser votado pela Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional durante a semana.
Assessores próximos da presidente acreditam que ela deve esperar pelo menos mais uma semana para anunciar os primeiros nomes de um futuro ministério. Tido como uma das pastas cortejadas pelo PV, o Meio Ambiente pode não sofrer alterações. A atual ministra, Izabella Teixeira, ganhou força no cargo nos últimos dias por dois fatores: conta com a simpatia de Dilma e é mulher, o que ajudaria na intenção da presidente de manter uma cota mínima de ministérios para as pessoas do sexo feminino.
Residência temporária
; Inicialmente, Dilma Rousseff ocupará a residência oficial da Granja do Torto até a posse, em 1; de janeiro. Os móveis da presidente eleita foram transportados da casa na QI 7 do Lago Sul para o endereço temporário na última sexta-feira. O local já foi utilizado como endereço oficial do presidente da República por João Goulart, por João Batista Figueiredo e também por Luiz Inácio Lula da Silva na transição, em 2002, e durante uma reforma no Palácio da Alvorada, entre 2004 e 2006. Assim que assumir o mandato e se mudar para o endereço definitivo à beira do Lago Paranoá, a nova chefe do Executivo federal terá a companhia da mãe, Dilma Jane, e de uma tia. (II)
Votos no tucano e fé na petista
; Luiz Ribeiro
Belo Horizonte ; Moradores de Taiobeiras, cidade com 30 mil habitantes, a 695 quilômetros de Belo Horizonte, depositam as fichas na presidente eleita, Dilma Rousseff, para que, no seu governo, seja finalmente concluída a Barragem de Berizal, iniciada há 13 anos e que está parada há quase oito. A obra é considerada a redenção do município, tendo em vista que objetiva resolver em definitivo o problema do abastecimento da cidade e garantir a geração de milhares de empregos. Por outro lado, a população de Taiobeiras fica apreensiva devido a uma situação peculiar: foi o único município do norte de Minas ; uma das regiões mais pobres do estado ; onde o candidato José Serra (PSDB) superou a petista nos dois turnos da última eleição.
No primeiro turno, Serra ganhou a disputa em Taiobeiras com 7.709 votos (47,31% dos votos válidos) contra 7.044 votos (43,43%) de Dilma, enquanto Marina Silva (PV) teve 1.434 votos (8,82%). No segundo turno, o candidato do PSDB voltou a vencer na cidade, ficando com 8.839 votos (52,63%), contra 7.957 (47,37%) dados à presidente eleita. Na eleição presidencial, Taiobeiras se tornou uma ;ilha tucana; no norte de Minas por causa da liderança do prefeito Denerval Cruz (PSDB). Ele, por uma questão de fidelidade ao seu partido e atendendo a pedidos do ex-governador e senador eleito Aécio Neves (PSDB) e do governador reeleito Antonio Anastasia (PSDB), apoiou o ex-governador paulista. ;Além disso, o projeto político do Serra agradou mais, não somente a mim, mas também à população;, acrescenta.
De qualquer modo, Denerval assegura que o município vive uma grande expectativa de que, ao tomar posse, a sucessora de Luiz Inácio Lula da Silva venha retomar a construção da barragem e que a cidade não sofra nenhum tipo de retaliação pelo fato de a maioria dos seus eleitores ter votado em Serra. ;A eleição ficou para trás. Agora, o que tem que prevalecer é a grandeza do governo;, diz o prefeito de Taiobeiras. ;Espero também que as lideranças do PT ligadas a ela (Dilma) não venham atrapalhar ou prejudicar o processo de retomada da obra;, observa Denerval.
De acordo com o secretário de Obras de Taiobeiras, Jaime Wilson Lucas Peninha, além de regularizar o abastecimento da cidade, a barragem vai gerar cerca de 10 mil empregos e aumentar a produção agrícola, podendo irrigar cerca de 8 mil hectares. Assim, vai proporcionar a convivência do homem do campo com a seca, que historicamente castiga o norte de Minas. De acordo com dados da Prefeitura de Taiobeiras, já foram gastos cerca de R$ 150 milhões na obra e, para a sua conclusão, seriam necessários investimentos adicionais da ordem de R$ 100 milhões. Ainda conforme a prefeitura, em torno de 60% da construção já foram feitos e há o risco de prejuízos, tendo em vista que os serviços realizados e os materiais usados passam por depreciação pela ação do tempo.
Licença
A barragem foi iniciada em 1997 ; no governo Fernando Henrique Cardoso ;, no Rio Pardo, em área que pertence atualmente ao município de Berizal (emancipado de Taiobeiras em janeiro de 1997). Ela fica localizada a 45 quilômetros de Taiobeiras, mas o Rio Pardo passa a apenas 10 quilômetros da cidade. Cinco anos depois de iniciada, a construção foi interrompida por falta de licença ambiental, motivo que provocou o seu embargo pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Também foram enfrentados problemas para o reassentamento de famílias da área a ser inundada, já resolvidos.