Baptista Chagas
Um infarto agudo do miocárdio levou o vice-presidente da República, José Alencar, a se submeter a um cateterismo ; exame invasivo que avalia as condições vasculares do coração e corrige eventuais problemas ; na noite de ontem. Internado desde 25 de outubro no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, por conta de problemas intestinais, uma consequência do tratamento de mais de uma década contra o câncer, Alencar se sentiu mal por volta das 18h. Rapidamente foi diagnosticado o infarto, mas o cateterismo não identificou obstrução arterial importante. Um dos médicos que atenderam o vice-presidente, Paulo Hoff, afirmou que Alencar está bem, acordado e conversando. ;Ele é um homem muito forte;, definiu o oncologista que, ao lado de Roberto Kalil Filho, Raul Cutait e Paulo Ayrosa Galvão, integra a equipe que cuida do vice-presidente.
Por conta do infarto, fica adiada a alta de Alencar, que estava marcada para hoje. Hoff dimensionou o problema no coração do vice afirmando que se tratou de um ;pequeno infarto;. O médico contou que Alencar ficaria em observação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Sírio Libanês durante a noite, mas hoje mesmo poderia ser transferido para um quarto especial. O tempo maior no hospital, segundo Hoff, será importante para que seja medicado e tenha alta apenas quando o coração estiver completamente recuperado. De acordo com o médico, o vice-presidente já havia recebido visitas de familiares mais próximos. Outras visitas estavam sendo evitadas, tendo em vista a necessidade de repouso do paciente.
A mulher de Alencar, Mariza Gomes da Silva, já havia saído do hospital quando o marido teve o problema cardíaco. Ela foi avisada do ocorrido depois ter chegado ao apartamento que o casal mantém em São Paulo. Preocupada, pediu para falar com Alencar ao telefone, que a tranquilizou, afirmando que ele estava sendo assistido pelos médicos e que se sentia bem. Os médicos explicaram à mulher dele que o infarto pode ocorrer em pacientes submetidos à quimioterapia devido à condição das artérias, que ficam naturalmente frágeis. Ela pretende conversar hoje com a enfermeira particular do vice-presidente, que o acompanha depois que Mariza deixa o hospital, para saber com detalhes o que ocorreu. Ela afirmou que está muito confiante e tranquila.
Hipertensão
Também ouvido ontem à noite, o oncologista Ademar Lopes, outro integrante da equipe que cuida do vice-presidente, disse que ;a ocorrência do infarto é uma condição clínica, que merece cuidados com o paciente. Mas é preciso avaliar a dimensão;. Lopes disse que os procedimentos a serem realizados vão depender de avaliação por parte do cardiologista Roberto Kalil. Ele lembrou ainda que em julho o vice-presidente foi submetido a um outro cateterismo, depois de passar por um quadro de hipertensão. Na ocasião, o paciente passou por uma angioplastia com colação de stent (espécie de aparelho para alargar a veia), procedimento feito ;com sucesso;, segundo a equipe médica.
Pelo fato de estar internado desde 25 de outubro, José Alencar não votou no segundo turno da eleição presidencial, em 31 de outubro. No dia 28, o Hospital Sírio Libanês divulgou boletim médico, informando que ele havia reiniciado a quimioterapia, a fim de reduzir os tumores. Na última segunda-feira, o hospital divulgou outro boletim, informando que o paciente permanecia internado, recebendo a quimioterapia e ;apresentando redução dos tumores e melhora da suboclusão intestinal, tenso sido reiniciada a alimentação oral;.
O vice-presidente, que completou 79 anos em 17 de outubro, enfrenta um câncer na região abdominal há mais de 13 anos. Já passou por mais de 15 cirurgias e está sofrendo com os efeitos colaterais do tratamento. Alencar chegou a iniciar um tratamento com um remédio experimental no centro especializado MD Anderson, em Houston (EUA). Mas, em setembro do ano passado, interrompeu o tratamento e retomou as sessões de quimioterapia no Hospital Sírio Libanês, pouco depois de exames terem demonstrado que os tumores abdominais haviam voltado a crescer. Naquele mesmo mês, ficou internado por três dias após apresentar níveis baixos de hemoglobina, leucócitos e plaquetas.
Gustavo Rampini/Futura Press - 28/8/09
MEMÓRIA
A saga do vice
José Alencar luta contra o câncer e complicações de saúde decorrentes do tratamento há 13 anos. Já foi submetido a pelo menos 16 procedimentos cirúrgicos
1997
Foram feitas as primeiras intervenções, quando foram retirados dois tumores, um no estômago e outro no rim direito.
2000
Foi extraído um tumor da próstata.
2004
Foi internado para extrair a vesícula.
2005
O vice-presidente foi submetido a uma angioplastia para regularizar o fluxo de sangue em uma das
artérias do coração.
2006
Em julho, foi feita a primeira cirurgia na luta contra o câncer na região abdominal, quando foi extirpado um tumor maligno de quatro centímetros de diâmetro.
Em novembro, o vice-presidente viajou até Nova York para extrair mais um nódulo do abdôme.
2007
Em 30 de outubro, Alencar retirou o terceiro tumor do abdôme no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. O tumor tinha 3,8 centímetros de diâmetro.
2008
Pouco mais de dois meses se passaram e Alencar teve que voltar ao mesmo hospital, entre 3 e 6 de janeiro, para sessões de quimioterapia por causa de um novo tumor na região abdominal. Em agosto, nova intervenção retirou três tumores. Durante as sessões de quimioterapia, Alencar começou a tomar uma nova droga, fabricada na Espanha, o Yondeles.
2009
Em janeiro, constatou-se que a quimioterapia não era suficiente e ele teve que se submeter a uma nova cirurgia no Hospital SírioLibanês, em São Paulo. Foi a mais complexa desde a descoberta da doença. Depois de 18 horas, os médicos retiraram um tumor principal, com 12 centímetros de diâmetro e nove outros tumores, uma porção do intestino delgado,
uma parte do intestino grosso e dois terços do ureter. Os médicos aplicaram ainda uma quimioterapia hipertérmica. Foram 27 dias de internação, nove deles na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
; Dois meses depois, Alencar voltou ao hospital para retirar um cateter para reconstituição do ureter.
; Durante uma sessão de acompanhamento, em 12 de maio, a equipe médica constatou que o sarcoma havia voltado e estava espalhado em 18 pequenos tumores no abdôme. Foi descartada a possibilidade de novas cirurgias
; Em 26 de maio, o vice-presidente viajou para Houston, no Texas. Num dos mais conceituados centros de tratamento do câncer, começou a tomar um medicamento,
em fase de pesquisa.
; Em 3 de julho, Alencar foi internado às pressas no hospital Sírio-Libanês, com fortes dores abdominais. Teve alta três dias depois. Na quarta-feira, 8, acabou sendo internado novamente, com obstrução intestinal. A equipe médica decidiu submetê-lo no dia seguinte a nova intervenção para desobstruir uma das alças do intestino delgado
2010
; Em julho, o vice-presidente passou por uma angioplastia ; cirurgia para desobstrução de artérias ; com colocação de stent, espécie de aparelho que alarga a veia. O procedimento foi necessário depois que um exame de cateterismo detectou uma ;obstrução grave na artéria descendente anterior;
; Em setembro, Alencar, foi internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Cardiológica do Hospital Sírio-Libanês com quadro de edema agudo de pulmão.
; Em outubro, teve a notícia de que os tumores não estavam contidos. Havia novos espalhados pelo abdôme. Voltou ao trabalho de quimioterapia
Ontem, o vice-presidente sofreu um infarto agudo do miocárdio. Dormiu na Unidade de Terapia Intensiva do hospital Sírio-Libanês. Segundo um dos médicos que o atendeu, está conversando e tem chances de ser transferido hoje
para um quarto especial.