Jornal Correio Braziliense

Politica

Michel Temer diz ser o único porta-voz do PMDB

Após um café com Dilma, Temer falou com caciques do PMDB para fechar a postura do partido na transição
Para estancar um atrito iminente entre o PT e o PMDB, o vice-presidente eleito, Michel Temer (PMDB-SP), enquadrou caciques do partido. Colocou-se como o único porta-voz das intenções peemedebistas no governo da futura presidente Dilma Rousseff e pediu o fim das cobranças públicas por espaço na Esplanada dos Ministérios.

Depois de reunir-se com a presidente eleita para um café da manhã, Temer encontrou-se com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), os senadores Renan Calheiros (AL) e Romero Jucá (AP), os deputados Henrique Eduardo Alves (RN) e Eduardo Cunha (RJ), além do senador Eunício Oliveira (CE). O discurso repetido foi o seguinte: Dilma está dando tratamento privilegiado ao PMDB, não há atritos com o PT e não é hora de fazer uma lista de demandas.

Temer quer evitar que recados cheguem à equipe da futura presidente em forma de mensagem cifrada. Na segunda-feira, peemedebistas reclamaram que estavam se sentindo escanteados das primeiras reuniões com Dilma. O presidente do PT, José Eduardo Dutra, e o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) alegaram que as insatisfações não foram externadas nas conversas entre eles.

Mesmo assim, está cristalizada uma desconfiança do PMDB em relação ao PT. A campanha de Dilma, ao contrário do que alega o vice-presidente eleito, não deu tratamento privilegiado aos peemedebistas. Depois de eleita, Dilma sequer lembrou de Temer para colocá-lo na equipe de transição. O nome surgiu somente depois da cobrança pública de parlamentares aliados do vice.

Michel Temer passou uma borracha nessas insatisfações. E, apesar de a maioria do partido só estar interessada em qual fatia do bolo público terá direito a partir de 2011, quer tentar limpar a imagem de que o partido só está interessado em cargos. ;Não vamos tocar em assunto de mudança de ministério. Toda vez que se toca nesse assunto, parece que o PMDB está atrás de cargos. E não é isso. Falo aqui mais como membro do governo, vice-presidente, do que como presidente do PMDB;, afirmou Temer, dizendo que a relação entre o PT e o PMDB está pacificada.

O vice disse que ainda não há nomes para compor o futuro governo e pregou que todos os partidos tenham representação. ;Ainda não há nomes de ministros. Nós apenas dissemos que todos os partidos terão participação, assim como ocorre hoje no governo Lula. Será uma espécie quase de sequência do governo. Vamos trabalhar nessa direção, sem nomes e sem definição de ministros por enquanto;, sustentou.

Recado foi entendido
O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, juntou-se a Michel Temer para a pacificação com o PT. Ele prega que a harmonia entre os dois partidos é mais importante no governo de Dilma Rousseff do que no de Luiz Inácio Lula da Silva.

O argumento é de que Lula tem capital político suficiente e jogo de cintura para contornar crises e insatisfações. A Dilma, por outro lado, falta o traquejo da negociação. Por isso, ela vai precisar se escorar nos aliados para conduzir conversas com o Congresso Nacional.

O recado de Temer foi entendido entre parlamentares. Mendes Ribeiro Filho (PMDB-RS) disse que não haverá rebelião ou queda de braço do partido com o futuro governo. ;O PMDB vai fazer o que Dilma disser;, afirmou o parlamentar gaúcho.
Para evitar novos atritos, ficou acertado que a discussão sobre a Presidência da Câmara será retomada em janeiro. O único acerto é que PT e PMDB farão um rodízio, sem saber ainda quem indicará o terceiro nome da República para o primeiro biênio.

Dirceu à disposição
; Sem dizer que papel poderia exercer no novo governo, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu disse, ontem, em entrevista à Rádio Bandeirantes, que vai estar à disposição da presidente eleita Dilma Rousseff depois que for julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). ;Eu dei provas todos esses anos de que sirvo ao meu país, ao meu partido, ao PT, e ao presidente Lula em qualquer situação;, disse. Agora, segundo Dirceu, suas energias estão concentradas na comprovação de sua inocência. Ele é acusado de ser o articulador do mensalão, um esquema de corrupção de parlamentares e de agentes públicos revelado em maio de 2005.

Senado pode ser o destino de Dutra

; Ivan Iunes


Um dos principais coordenadores da campanha de Dilma Rousseff (PT) à Presidência da República, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, pode ter como destino político uma volta ao Senado Federal. Enquanto os outros dois responsáveis pela campanha vitoriosa da petista ; os deputados federais José Eduardo Cardozo (PT-SP) e Antônio Palocci (PT-SP ; devem desembarcar na Esplanada dos Ministérios a partir de janeiro, Dutra voltaria à Casa onde exerceu mandato até 2002 e acumularia a função de senador com a de presidente do partido.

O retorno de Dutra ao Senado seria possível por meio da costura política entre o PT e o PSB. Como é suplente do senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), ele assumiria o cargo caso o titular fosse nomeado para alguma pasta na Esplanada ou no governo de Sergipe, do governador Marcelo Déda (PT-SE). Em princípio, a volta ao Senado seria um caminho mais natural para Dutra do que a Esplanada, já que, no Executivo, ele teria de renunciar ao posto de presidente do PT. No Senado, as duas funções são compatíveis.

Em viagem oficial aos Estados Unidos até o fim da próxima semana, Valadares ainda não foi sondado sobre a possibilidade de assumir um posto no Executivo Federal, mas companheiros de partido admitem a possibilidade de o xadrez político entre o PSB e o PT passar pelo nome do parlamentar sergipano. ;O senador Valadares é um nome forte dentro da legenda por ser senador e ter sido governador, mas há outros que também poderiam ser indicados para compor o futuro governo Dilma. Mas as negociações ainda estão no início e não há nenhum convite formalizado até aqui;, diz o deputado federal Rodrigo Rollemberg (PSB-DF).

Integração
Ontem à noite, Dutra e o presidente do PSB, Eduardo Campos, deram início às negociações sobre a participação do partido no futuro governo Dilma. O resultado da conversa será debatido pela executiva nacional socialista hoje de manhã. A principal pasta cortejada pelos socialistas na Esplanada é a da Integração Nacional, que já foi ocupada pelo deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) no primeiro governo Lula.

Como o partido foi a legenda da base alinhada ao governo federal com o maior número de governadores eleitos, os socialistas pretendem ocupar um espaço maior do que o atual Ministério da Ciência e Tecnologia, e a Secretaria Especial de Portos. Pelo cálculo, a Integração Nacional seria preponderante para a legenda, já que, dos seis governadores eleitos pelo PSB, quatro estão no Nordeste ; Pernambuco, Ceará, Piauí e Paraíba.

Tradicionalmente, a região é a que mais recebe recursos da pasta por conta de projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) tocados no estados nordestinos e das obras de transposição do Rio São Francisco. Outro ministério visto com bons olhos pelo partido é o das Cidades, também por ter uma atuação regional forte e tocar projetos importantes, como o Minha Casa, Minha Vida e obras de saneamento. ;Por termos a maior parte dos governadores no Nordeste, a pasta da Integração Nacional é uma das que mais atrai o partido, até para que os recursos chegassem com mais facilidade a esses estados. Mas tudo ainda está em discussão, não há uma posição fechada;, explica Rollemberg (PSB-DF).