Morreu ontem, de falência múltipla de órgãos, aos 79 anos, o senador Romeu Tuma (PTB-SP). Ele estava internado no Hospital Sírio-Libanês desde o mês passado e chegou a sofrer uma cirurgia para a implantação de um coração artificial. Tuma completaria seu segundo mandato este ano e disputaria novamente uma vaga no Senado, mas, por causa da internação, não pôde participar da campanha.
Apesar de ter feito carreira nos quadros policiais, incluindo o conturbado período de ditadura militar, Romeu Tuma era conhecido por ser um homem tranquilo, de fala mansa e cordial. Ele foi o primeiro ; e, até hoje, o único ; corregedor do Senado, onde também exerceu a Presidência da Comissão de Ética e Decoro Parlamentar. ;Ele tinha que ser sacerdote, bispo ou pastor, tinha tudo para ser um homem voltado à atividade social. Era um policial, um policial do bem;, afirma seu colega Pedro Simon (PMDB-RS).
A carreira pública de Tuma começou em 1951, quando ingressou na carreira policial, aos 20 anos. Três décadas depois, como delegado, durante o regime de exceção, teve o primeiro contato com o atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Em 1980, na época de sindicalista, Lula estava preso e foi autorizado por Tuma a visitar a mãe em um hospital. Naquele ano, Tuma atuava no extinto Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Dops), onde Lula estava preso. Para que a mãe do sindicalista não soubesse que o filho estava preso, Tuma mandou dois policiais disfarçados de trabalhadores para acompanhá-lo. Depois de deixar o Dops, exerceu outros cargos na Polícia Civil paulista e, posteriormente, na Superintendência da Polícia Federal, onde tornou-se diretor-geral da corporação.
Naquele período, ganhou o apelido de Xerife, graças à atuação no início do Plano Cruzado, quando José Sarney era o presidente da República. Na época, Tuma usou a PF para confiscar bois que estavam sendo retidos nos pastos para provocar aumento no preço da carne. Logo depois, acumulou sua função com a de secretário da Receita Federal. ;Tuma demonstrou grande competência e habilidade na década de 1980, como diretor da Polícia Federal. Ajudou-me a conduzir a sensível questão da segurança no difícil trânsito entre um ambiente marcado pela exceção para outro, plenamente democrático e de respeito aos seres humanos;, afirmou Sarney ontem, em nota de pesar. ;A admiração pessoal há longa data converteu-se em amizade, e essa extrapolou também para nossas esposas e nossos filhos;, acrescentou o presidente do Senado.
Pessoa emotiva
Apesar do apelido, Tuma era uma pessoa emotiva. ;Não foram poucas as vezes que o vimos transbordar lágrimas quando tratava de questões que atingiam sua alma;, relata o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). Tuma chegou ao Senado pela primeira vez em 1994 e, seis anos depois, disputou a prefeitura de São Paulo, ficando na quarta colocação, retornando ao Congresso em 2002.
Em nota, Lula lamentou a morte do delegado que um dia o prendeu: ;Romeu Tuma dedicou grande parte da vida à causa pública, atuando de forma coerente com a visão que tinha do mundo e, por isso, merece o reconhecimento e o respeito dos brasileiros;, diz comunicado emitido pelo Palácio do Planalto.
O corpo do senador, que era casado com a professora Zilda Dirane Tuma, foi velado na Assembleia Legislativa de São Paulo. Ele tinha quatro filhos ; entre eles os ex-deputados Robson Tuma e Romeu Tuma Júnior ; e nove netos. Seu suplente é o secretário de Relações Institucionais da Prefeitura de São Paulo, Alfredo Cotait Neto, que ocupará o cargo até 1; de fevereiro de 2011.
Linha do tempo
Conheça um pouco da história do senador Romeu Tuma (PTB-SP)
1931
Em 4 de outubro, nasce, em São Paulo, Romeu Tuma
1951
Depois de se formar em direito na PUC de São Paulo, Tuma entra na Polícia Civil do estado
1977
Ingressa no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), no qual permaneceu por cinco anos
1980
Autoriza o então sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva, que estava preso sob sua custódia, a visitar sua mãe, hospitalizada
1982
É nomeado superintendente da Polícia Federal em São Paulo
1985
Torna-se diretor-geral da Polícia Federal
1992
Ainda na PF, é nomeado para comandar também a Receita Federal
1994
É eleito senador pelo PL de São Paulo
2000
Concorre à Prefeitura paulista, mas não é eleito
2002
É reeleito senador
2007
Deixa o PL e filia-se ao PTB
2010
Em setembro, é internado em decorrência de problemas cardíacos e morre um mês depois