Em nenhum outro lugar do país, a briga interna entre DEM e PSDB é tão latente quanto na Bahia. A 50 dias das eleições, políticos baianos dos dois principais partidos que sustentam a candidatura do tucano José Serra não sentam à mesma mesa, não pedem votos em conjunto e até ignoram os ;aliados; em materiais gráficos de campanha. O grau de tensão chegou a tal ponto, que se um dos dois lados riscar um fósforo, periga de a aliança inteira ir pelos ares, segundo relato de um deputado federal do DEM-BA. A crise obrigou até a atuação do presidenciável José Serra (PSDB) como bombeiro ; o tucano esteve ontem em Salvador para lançar um programa de segurança pública. Do lado governista, os candidatos de PT e PMDB só ficam lado a lado se for para disputar aos cotovelos a melhor imagem ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O presidenciável tucano marcou agenda para a Bahia pela segunda vez em duas semanas, com o intuito de promover a paz entre o PSDB e o DEM locais. Os dois principais alicerces da campanha serrista se dividem na Bahia desde os tempos do antigo cacique Antônio Carlos Magalhães (DEM). Ao morrer em 2007, o ex-senador deixou uma longa tradição de embates com os tucanos locais. Herdeiro do carlismo, o candidato ao governo Paulo Souto (DEM) não recebe qualquer ajuda de Jutahy Magalhães, João Almeida ou Antônio Imbassahy, os três principais candidatos a deputado federal pelo PSDB.
Para tentar melhorar a relação entre os pseudoaliados, Serra tentou a troca do coordenador local da campanha à Presidência. Substituiu Imbassahy pelo candidato a vice-governador Nilo Coelho (PSDB), e instalou a estrutura de campanha dentro do comitê de Souto. ;Eles (tucanos) têm muita dificuldade em fazer campanha casada com o Souto, que sempre foi carlista. A maioria só vai aos eventos de Souto em que Serra está;, reclama um político do DEM baiano.
Acusações
Entre os apoiadores de Dilma Rousseff (PT), o clima também não é leve. Desde que os partidos romperam no pleito para a Prefeitura de Salvador, em 2008, o governador Jaques Wagner (PT) e o deputado federal Geddel Vieira Lima (PMDB) não se cansam de trocar acusações. Ex-ministro da Integração Nacional, o parlamentar foi figura-chave na eleição de Wagner no primeiro turno em 2006. Agora adversário, Geddel pode levar a definição para a disputa em segundo turno entre o atual governador e Paulo Souto. ;Se a eleição tem alguma chance de ir para o segundo turno, isso se deve ao racha que o Geddel promoveu;, acusa o deputado federal Zezéu Ribeiro (PT-BA).
No primeiro mês de eleição, tanto Wagner quanto Geddel disputaram a melhor imagem ao lado de Lula e Dilma. Para evitar constrangimentos, o presidente deve ter participação discreta no pleito. A presidenciável subirá nos dois palanques. Pela última pesquisa Ibope, divulgada no início do mês, o petista levaria a eleição no primeiro turno, com 46% dos votos, contra 19% de Souto e 11% de Geddel. Para o Senado, o levantamento aponta César Borges (PR) com 38%. A segunda vaga é disputada por Lídice da Mata (PSB), que tem 25%, e Walter Pinheiro (PT), com 23%.
Propostas para a segurança
Com vários pontos já anunciados em agendas anteriores, o candidato à Presidência da República José Serra (PSDB) apresentou ontem, em Salvador, o seu plano de governo para a área de segurança pública. Além da criação do Ministério da Segurança Pública e do reforço no combate à entrada de drogas pela fronteira com a Bolívia, o tucano pretende informatizar todos os processos policiais e investir na construção e melhoria dos presídios. Inicialmente, o plano tem sete pontos.
O presidenciável tucano escolheu a capital baiana para apresentação do plano por conta dos altos índices de criminalidade no estado. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia, o número de homicídios no estado cresceu 49,6% entre 2006 e 2009. Municiado pelos números, Serra criticou o baixo investimento do governo federal em segurança. ;O orçamento do governo federal destinado à segurança, por exemplo, é de apenas 0,5% do orçamento nacional, isso reflete a falta de intenção efetiva do governo de lidar com o problema;, afirmou Serra.
Um dos carros-chefes do plano será a criação de políticas de apoio jurídico e psicológico às vítimas de crimes e suas famílias. De acordo com o candidato, o Brasil teria 45 mil mortes violentas por ano e um deficit prisional de 200 mil vagas. Para cobrir as fronteiras do país contra a atuação do tráfico de drogas, o tucano pretende criar uma força policial permanente, que também ficaria responsável por prevenir crimes ambientais.
Um dos pontos mais abordados pelos candidatos à Presidência, o combate ao crack, também consta no plano, que prevê ações de prevenção contra as drogas. ;Temos de ter cursos, para crianças inclusive, para mostrar os malefícios das drogas e do álcool e, ao mesmo tempo, oferecer escolhas para a juventude, por meio dos ensinos técnicos e profissionalizantes, do investimento em esportes e cultura;, apontou Serra. Outras propostas previstas pelo programa de segurança incluem a criação de um controle nacional de identificação de veículos e de pessoas e o aumento de investimento para qualificação e remuneração adequada aos profissionais da área. (II)