Os candidatos a deputado milionários estão financiando do próprio bolso quase a totalidade de suas campanhas. Considerando os 34 mais ricos, com patrimônio declarado superior a R$ 5 milhões (cada um deles), a arrecadação total já atinge R$ 5,3 milhões. Desse valor, R$ 3,17 milhões saíram da conta bancária dos próprios candidatos. O total de despesas declaradas por eles até agora soma R$ 3,14 milhões, o que significa que os recursos próprios seriam suficientes para cobrir as despesas de campanha. A arrecadação própria ainda está longe de abalar o patrimônio desses 34 candidatos, que chega a um total de R$ 1,4 bilhão. As autodoações representam 0,2% do valor.
O candidato a deputado Odílio Balbinotti (PMDB-PR) recebeu apenas R$ 9 mil de doações, mas nem por isso a campanha travou. Ele meteu a mão no bolso e sacou R$ 1 milhão. No primeiro mês de campanha, gastou R$ 414 mil. A maior parte (R$ 260 mil) custeou a impressão de materiais publicitários. E gastou mais R$ 58 mil com publicidade em jornais e revistas. Ele tem o nono maior patrimônio entre os deputados que tentam a reeleição, com bens declarados de R$ 16 milhões.
O deputado Wilson Picler (PDT-PR), que também tenta a reeleição, recebeu doações de R$ 102 mil, mas os gastos chegaram a R$ 516 mil no primeiro mês. A maior parte (R$ 195 mil) está contabilizada em despesas ;diversas a especificar;, mas também aparece o gasto de R$ 124 mil em publicidade por placas, estandartes e faixas. Foram consumidos mais R$ 60 mil em publicidade por carro de som e R$ 25 mil com publicidade em jornal e revistas. Para cobrir tantas despesas, Picler colocou R$ 432 mil de recursos próprios na campanha. Nada que vá abalar o patrimônio de R$ 23 milhões.
Concessões
O maior milionário da Câmara, Marcelo Almeida (PMDB-PR), com patrimônio declarado de R$ 683 milhões, está tendo uma campanha que pode ser considerada modesta. Gastou R$ 146 mil até agora. A maior parte (R$ 114 mil) se refere a ;serviços prestados por terceiros;. Ele gastou mais R$ 23 mil em ;despesas com pessoal;. Por enquanto, ele financiou 100% da própria campanha. A autodoação de R$ 200 mil representa 0,03% do seu patrimônio. Marcelo é filho do legendário empresário Cecílio do Rego Almeida, dono da empreiteira CR Almeida, além de concessões de rodovias, agropecuárias e indústrias químicas. A maior parte do patrimônio do deputado resultou da partilha de bens após a morte do pai.
Outro candidato milionário que tem sido econômico nesta eleição é Vadão Gomes (PP-SP). Com patrimônio de R$ 192 milhões, destinou R$ 100 mil para a própria campanha. E até agora não declarou nenhum gasto.
Brecha para ocultar
O sistema de registro de contribuições eleitorais no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deixa uma brecha para doações ocultas feitas a candidatos ao Senado. Isso ocorre porque os candidatos a suplentes de senador também podem receber contribuições de campanha, mas a declaração é feita de forma conjunta com o titular. Assim, não é possível saber quem exatamente recebeu a doação, se o suplente ou o titular. A prestação de contas do candidato a suplente Antônio Carbonari (PTB-SP), por exemplo, remete para a conta de campanha do titular Romeu Tuma (PTB-SP). Ali, aparece uma autodoação de R$ 500 mil. Tuma afirmou ao Correio que a doação foi feita por Carbonari. ;De onde eu ia tirar isso?;, brincou o senador.
Na prestação de contas do senador Heráclito Fortes (DEM-PI), candidato à reeleição, aparecem contribuições num total de R$ 465 mil, sendo R$ 312 mil de doações de recursos próprios. É impossível saber se o dinheiro partiu do bolso do senador ou dos suplentes. Um deles, Valter Alencar (DEM-PI), tem patrimônio de R$ 14,4 milhões. Heráclito disse à reportagem que os recursos saíram da sua conta bancária. A mulher do senador é empresária.
O candidato ao Senado com campanha mais cara (R$ 2 milhões), Delcídio Amaral (PT-MS), afirmou que não recebeu ajuda do suplente, Pedro Chaves (PSC). ;O Correio diz que a campanha milionária é a minha. Só tem um detalhe: a minha é por dentro. Outros números são um ;engana que eu gosto;. Aqui no estado tem candidato que gastou R$ 67 mil na campanha;, ironizou, referindo-se à matéria publicada na edição de ontem. ;No fim, vão dizer que as campanhas estão mais caras. Não é que tenham ficado milionárias, é que passaram a declarar mais do que no passado.;
Financiadores
A realidade da campanha, às vezes, transforma candidatos em doadores. É o caso do deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA), candidato à reeleição. Ele declarou doações de R$ 630 mil. Desse total, R$ 401 mil foram direcionados para ;outros candidatos;. O dinheiro foi repassado a candidatos a deputado estadual que apoiam o líder tucano. Jutahy calcula que precisará de cerca de R$ 2 milhões para custear a sua campanha e a dos aliados. O milionário Wilson Picler (PDT-PR) recebeu R$ 534 mil e repassou R$ 36 mil a outros candidatos. Mário Heringer (PDT-MG) repassou a aliados R$ 50 mil dos R$ 260 mil que recebeu em contribuições eleitorais.
Entre as declarações feitas ao TSE, chama a atenção o gasto de R$ 395 mil em locação de veículos, feito pelo candidato a deputado Felipe Maia (DEM-RN). Milionário, com patrimônio de R$ 7,4 milhões, ele recebeu apenas R$ 124 mil em doações, mas já gastou R$ 504 mil. Sobre os gastos com aluguel de carros, apresentou a sua justificativa. Disse que foram locados 20 carro de passeio, três kombis, uma caminhonete Silverado e uma van Sprinter para transporte de funcionários da campanha. Alugou, ainda, mais um trio elétrico para divulgar a candidatura.
Reportagem do Correio mostrou, há três semanas, que 317 deputados candidatos à reeleição têm um patrimônio total de R$ 1,75 bilhão. Os bens dos 20 candidatos a suplentes de senador mais ricos somam R$ 2,33 bilhões. Milionários, eles aguardam uma possível vaga no Senado sem fazer muito esforço. Muitos apenas colaboram financeiramente com a campanha do titular.