Jornal Correio Braziliense

Politica

Petistas e tucanos já discutem eventual 'esfriamento' da campanha presidencial

Isto caso as pesquisas se confirmem e seis dos oito maiores colégios eleitorais elejam governadores em 3 de outubro

A possibilidade de pelo menos seis dos oito maiores colégios eleitorais do país decidirem a eleição para governador ainda em primeiro turno deixou o comando das campanhas presidenciais em estado de alerta. Pelo menos cinco deles são aliados da ministra Dilma Rousseff (PT) e só Geraldo Alckmin, de São Paulo, faz dobradinha com José Serra. No entanto, os dois grupos se preocupam com o quadro. Nos estados em que o partido aliado tende a apressar a decisão regional, os articuladores políticos temem o esfriamento da participação do candidato vitorioso em um eventual segundo turno da eleição para presidente. Nas regiões em que é o grupo adversário aparece liderando a disputa, os candidatos a governador que estão em desvantagem temem que o candidato a presidente ajude a consolidar o cenário eleitoral desenhado pelas atuais pesquisas.

As coordenações de campanhas que temem o efeito das decisões estaduais já em 3 de outubro têm com o que se preocupar. O Correio analisou o resultado das últimas pesquisas divulgadas pelo Datafolha e pelo Ibope e constatou que a tendência apontada de vitórias já no primeiro turno envolve nada menos do que o universo de 53,7% do eleitorado em seis dos oito maiores colégios eleitorais do país.

Petistas e tucanos têm avaliado os cenários de um eventual segundo turno na disputa presidencial se o pleito for mesmo decidido no primeiro round nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e Ceará. E os tucanos já se mostram preocupados, em especial em Minas Gerais, onde Serra estará esta semana ao lado de Antonio Anastasia, e Hélio Costa ; o líder nas pesquisas em dobradinha com o PT ; tem servido de alavanca para Dilma Rousseff.

Embora a preocupação exista, os integrantes do DEM e do PSDB disfarçam. De público, dizem apostar que as pesquisas regionais não interferem no cenário nacional. Além disso, repetem que os levantamentos divulgados refletem apenas o momento e não uma tendência consolidada. Mas, na dúvida, costumam dizer que se os candidatos aliados de Dilma levam a disputa de primeira, podem relaxar e esfriar a participação no eventual segundo turno. ;É tudo uma coisa de momento. Não acreditamos na interferência considerável da política local no cenário nacional. Mas, a depender da visão, a decisão rápida pode até atrapalhar. Acho que preocupação mesmo seria se a decisão nacional acontecesse em primeiro turno. Isso sim iria interferir nos estados;, opina o deputado do Claudio Cajado (DEM-BA). Na Bahia, as pesquisas apontam vitória do petista Jaques Wagner em primeiro turno.

O PT, por enquanto, prefere a cautela: ;A eleição presidencial tem uma lógica própria e independente da definição dos estados;, avaliou o presidente do PT, José Eduardo Dutra.

A eleição presidencial tem uma lógica própria, independente da definição nos estados;
José Eduardo Dutra, presidente do PT

O número
13
Total de multas recebidas por Serra e Dilma por propaganda eleitoral antecipada. A petista tem uma a mais do que o tucano

Incertezas de votos

Alguns políticos acreditam que ainda é cedo para dizer que seis grandes colégios eleitorais vão escolher seus governadores no primeiro turno. ;Salvo raríssimas exceções, é impossível ter essa certeza antes do horário eleitoral gratuito de rádio e TV, quando os votos são consolidados. Eu, pessoalmente, acredito que em muito desses locais em que hoje os institutos indicam decisão em primeiro turno podem terminar em dois. O eleitor gosta de dois turnos. É como se ganhasse mais tempo para decidir;, afirma o deputado Márcio França (PSB-SP), um estudioso dos números e resultados.

Um dos desfechos mais emblemáticos citados pelos políticos para desprezar as pesquisas que indicam céu de brigadeiro para alguns candidatos é o da eleição para governador de Goiás em 1998. O Ibope indicava uma vitória tranquila de Íris Rezende (PMDB) no primeiro turno, uma vez que ele aparecia com 20 pontos de vantagem na pesquisa. Em 4 de outubro, entretanto, o primeiro lugar coube ao então deputado Marconi Perillo (PSDB).

Perillo terminou vitorioso no segundo turno. Fernando Henrique Cardoso, candidato a presidente reeleito no primeiro turno à época, não foi considerado entretanto o principal fator pró-Perillo. A vitória foi atribuída às andanças do candidato pelo interior acompanhado de ;Nerso da Capitinga;, um personagem humorístico da TV.(DR e IT)

O número
53,7%

Percentual do eleitorado em seis dos maiores colégios eleitorais do país que podem ter a eleição definida no 1; turno