Os três principais candidatos à Presidência da República deram início oficial a uma corrida paralela durante a semana: a busca por doações de campanha. Para traduzir as simpatias do empresariado em cifras, Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) mapearam os setores mais propícios a abrir o cofre e elaboraram estratégias diferenciadas. Embora cada um priorize seduzir uma parcela específica do empresariado, nenhum deles dispensará os doadores tradicionais, como as empreiteiras. Prestes a despejarem milhões na corrida oficial ao Planalto, os partidos ainda mantêm turvos os gastos da pré-campanha. Apenas Marina aceitou revelar quanto custou o período ;informal; em busca dos votos: R$ 6 milhões.
O prazo para registro dos comitês financeiros de campanha termina amanhã, mas os setores já foram constituídos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). As legendas trouxeram como responsáveis Rubens Novelli, pela campanha de Marina; José Eduardo Dutra, pela de Dilma; e José Gregori, pela de Serra. Caberá a eles coordenar a arrecadação e a prestação de contas das três candidaturas. Para fisgar possíveis doadores, contudo, os nomes escalados são outros. Ex-diretor do banco Itaú, o economista Sérgio Freitas recebeu a incumbência do próprio candidato tucano, de quem é amigo de longa data. No caso dos petistas, a tarefa será dividida entre o coordenador da campanha presidencial, Antônio Palocci, e o tesoureiro, José de Fillipi. A candidata verde é quem formou o time mais numeroso. Atuam junto ao empresariado o coordenador da campanha, João Paulo Capobianco, o vice, Guilherme Leal e o colaborador Álvaro de Souza. Cada núcleo de arrecadação trabalha com um perfil mapeado de potenciais doadores.
A campanha de Dilma Rousseff acredita que os setores mais propícios a descarregar recursos na candidatura são os das indústrias naval, de infraestrutura, de tecnologia da informação e as ligadas à produção do etanol. De acordo com o presidente do PT, José Eduardo Dutra, o comitê espera ainda receber doações de pessoas físicas, por cartão de crédito. ;As doações ainda são pequenas, estamos nos estruturando. O que percebemos até aqui é que o volume de doações para os partidos será maior do que aos candidatos. A responsabilidade por dividir os recursos entre as candidaturas deve ficar a cargo do próprio partido;, afirma.
Segundo Dutra, essa tendência reside no fato de as empresas estarem evitando a tradicional via crúcis de candidatos com pires à mão. Doando para o partido, essa distribuição passa a ser responsabilidade da legenda. Até o pleito de 2006, a prática também facilitava a defesa de matérias de interesse dos doadores por deputados ou senadores, o chamado lobby, já que não havia como provar a ligação de uma empresa com um candidato específico. Naquele ano, as doações para o PT, que acabaram repassadas para as eleições estaduais e do Distrito Federal, atingiram R$ 76,7 milhões, quase o mesmo volume recebido pela campanha à reeleição do presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, que foi de R$ 81 milhões. Para este ano, as normas impostas pelo TSE exigem que as legendas discriminem a origem do dinheiro recebido e como e por qual candidato ele foi usado.
Berço
Se os arrecadadores de Dilma miram os setores ligados às indústrias que mais cresceram no governo Lula, o foco principal da campanha de Serra são as instituições financeiras, berço do arrecadador informal, Sérgio Freitas. ;O Sérgio tem grande autoridade, tradição e respeito na área financeira;, explica Gregori. O comitê financeiro da campanha tucana ainda faz os últimos ajustes, principalmente a prestação de contas, para começar a trabalhar em todos os setores. ;Estamos colocando essa estrutura de pé para que não saia nenhum tostão sem a devida documentação. O desafio que se tem é montar essa máquina de maneira que todos os pagamentos sejam justificados e os recibos de contribuição, também. A tendência é que a auditoria das prestações de contas seja mais dura nessas eleições;, revela Gregori.
Rede
A equipe de arrecadação de Marina Silva tem a lupa focada sobre o chamado empresariado verde que, naturalmente, teria maior simpatia por uma campanha pautada na sustentabilidade. Além disso, o PV entende que tem o maior potencial de doação na internet, já que reúne um eleitorado de classe média e alta, em geral. ;Nós temos um nicho mais vocacionado de doadores, que são os empresários com visão mais próxima às nossas teses, que dão valor à questão ambiental. Fora eles, esperamos arrecadar das instituições e empreiteiras que, tradicionalmente, contribuem com todas as candidaturas, além das pessoas pela internet, que podem ser nosso diferencial;, aposta Capobianco.