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Fichas-sujas lançam parentes para não ficar fora da eleição

A aprovação do projeto Ficha Limpa fez surgir um novo personagem para as eleições de 2010: o candidato reserva. Com medo de ficar fora da disputa, concorrentes ao pleito de outubro que podem ser barrados pela nova legislação lançaram parentes para disputar o mesmo cargo ao qual competem. A artimanha tem explicação: caso sejam realmente impedidos de se candidatar pela Justiça Eleitoral, entra em cena o filho, a mulher ou a irmã para tentar manter a herança política da família. Pesadelo de políticos encrencados com a Justiça, a Lei Ficha Limpa impede candidaturas de condenados em decisões colegiadas.

Embora o Ministério Público Eleitoral (MPE) já tenha apresentado impugnação para conter os chamados fichas-sujas, a Justiça Eleitoral ainda não deu posição final sobre as representações. Pela legislação, os pedidos de candidatura poderão ser julgados até 5 de agosto. Mesmo os impedidos de se candidatar pela nova lei têm direito de apresentar defesa.

Inelegível por compra de votos e impugnado por ausência de quitação eleitoral (multa não paga), a forma caseira encontrada pelo deputado estadual Pinduca Ferreira (PP) para evitar o risco de não disputar nova eleição para a Assembleia foi acionar a mulher, a dona de casa Sônia do Pinduca (PP). O herdeiro natural seria o filho, o vereador por Betim Leo do Pinduca (PP), cassado por compra de votos. Pai e filho, no entanto, brigaram com direito a boletim de ocorrência da delegacia da cidade, reduto eleitoral da família. Pinduca pai ganhou fama por causa de arsenal assistencialista, que inclui frota de ambulâncias, serviços de translado para velório e futebol, distribuição de verduras, churrasco, pipoca, refrigerante, entre outros.

O deputado Pinduca, inelegível, recorreu à mulher, Sônia do Pinduca - ( Jair Amaral/EM/D.A Press)
O deputado Pinduca, inelegível, recorreu à mulher, Sônia do Pinduca
O também deputado estadual ficha-suja Irani Barbosa (PMDB), que luta na Justiça para se manter no cargo, sacou o filho, o vereador por Belo Horizonte Iran Barbosa (PMDB), para resguardar a disputa da família por vaga na Assembleia. O deputado foi condenado por não cumprir intimação judicial em processo que figurava como testemunha. O parlamentar é investigado por crime de corrupção passiva no Inquérito número 2660/2007, que corre no Supremo Tribunal Federal (STF). No processo, Irani é acusado pela Procuradoria Geral da República de cobrar propina de R$ 700 mil da empresa Minasterra Empreendimentos Imobiliários Ltda. Em troca do dinheiro, conseguiria na Prefeitura de Ribeirão das Neves a renovação de alvará para construção de um cemitério na cidade.

Cassado do cargo por ter negociado votos em troca de sopa, o 1; vice-presidente da Câmara Municipal de BH, Wellington Magalhães (PMN), é outro político encrencado com a Justiça que já deixou de sobreaviso um consanguíneo para tapar o buraco. Magalhães escolheu a irmã, a professora de ensino médio Arlete Magalhães (PMN), para tentar despejar seus votos.

Pedir anulação de registro de candidatos com ficha suja
Na eleição de 2008, ele foi reeleito com a segunda maior votação da capital. Na véspera do pleito, para alavancar sua candidatura, o então vereador conseguiu autorização e fechou parte de uma via pública onde patrocinou um showmício com a presença do cantor sertanejo Eduardo Costa, cujo cachê não sai por menos de R$ 50 mil. Na época, Magalhães alegou que estava comemorando seu aniversário.

Para o professor Luiz Fernando Abrúcio, da Fundação Getulio Vargas (FGV) de São Paulo, a proliferação do ;candidato reserva; representa, na realidade, mais uma repercussão positiva da lei do Ficha Limpa. ;Isso mostra que os políticos problemáticos estão amedrontados. Desesperados, eles vão tentar eleger os parentes, o que não é ilegal do ponto de vista jurídico. Apesar de ter sido enfraquecido nos últimos anos, esse fenômeno do familismo ainda pode ser notado no período eleitoral;, explicou.

Outro lado

Indagado por qual motivo vai disputar contra o próprio filho, o deputado Irani Barbosa (PMDB) reagiu com ironia: ;Você acha isso curioso? Então continua com a sua curiosidade;, declarou, antes de encerrar a rápida entrevista por telefone. Em seguida, durante pronunciamento no plenário da Assembleia Legislativa, o parlamentar peemedebista, num momento de sinceridade, admitiu que foi cassado por determinação do TRE.

Apesar da decisão, Irani insiste na tese de que não é ficha-suja. ;Sou deputado, sou candidato e tenho a ficha limpa;, assinalou. Procurado, o deputado estadual Pinduca Ferreira não retornou contato da reportagem. O vereador Wellington Magalhães não foi encontrado para comentar a candidatura da irmã.