; Denise Rothenburg
; Diego Abreu
; Igor Silveira
; Tiago Pariz
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está levando a sério a história de fazer campanha para a candidata do PT ao Palácio do Planalto, Dilma Rousseff. Mesmo pedindo desculpas, voltou a citar os feitos de sua pupila, dessa vez na frente do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Ricardo Lewandowski. E justificou a frase pela ;obrigação moral; de reconhecer o trabalho de Dilma como ex-ministra.
;Não tenho por hábito desafiar nem o mais humilde dos brasileiros, quanto mais uma legislação que nós mesmos criamos no Congresso;, disse Lula(1), durante a 4; Cúpula Brasil e União Europeia, arrancando um sorriso sem graça de Lewandowski. Mas reconheceu a escorregada: ;Cometi um erro político e peço desculpas, mas a intenção era apenas fazer o reconhecimento histórico de quem trabalhou para concluir uma coisa;, afirmou, em referência ao papel que sua ex-ministra teve no projeto do trem-bala que liga São Paulo ao Rio de Janeiro.
Ao justificar-se, voltou a citar o papel da candidata e escorregar no mesmo erro: ;Fiquei quase que na obrigação moral de dizer que quem tinha começado a trabalhar na questão do trem-bala, a iniciar o projeto, a discutir, tinha sido a companheira Dilma;, disse. ;Mas o dado concreto é que vocês, como jornalistas, sabem que foi ela quem começou, foi ela quem trabalhou, foi ela quem organizou, foi ela quem fez todo o trabalho para que a gente pudesse, ontem, publicar o edital do trem-bala;, emendou, na entrevista oficial do evento, ao lado do presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso.
O clima eleitoral parece ter contagiado outras esferas do governo. Em outro evento com a participação de Lula, a presidenta da Caixa Econômica Federal, Maria Fernanda Ramos Coelho, também citou os feitos de Dilma. Ela lembrou à plateia formada por funcionários da instituição que a então ministra-chefe da Casa Civil atuou ativamente para que a instituição atingisse bons resultados nos últimos anos.
As derrapadas do presidente preocupam o PT. Integrantes da área jurídica da legenda avaliam que novas ações eleitorais podem surgir a partir do discurso pró-Dilma. Os juristas aproveitam para passar um pente-fino na legislação e sondar limites da atuação do principal cabo eleitoral da corrida presidencial em prol da pupila.
O objetivo inicial é blindar Dilma juridicamente das investidas de Lula. A cúpula do partido avalia que a mera citação do nome da ex-ministra durante evento oficial não renderá prejuízos. O presidente do PT, José Eduardo Dutra, classificou como ridícula e despropositada a repercussão do caso e disse que a frase passaria despercebida se não fossem as manchetes dos jornais. ;Agora ele (Lula) e qualquer ministro vão ter que ficar se policiando nos eventos que tenham alguma relação (com a candidata);, afirmou, em tom de ironia.
Outros estrategistas da campanha disseram que a hipótese de dano está descartada, uma vez que a candidata não pediu ao presidente que falasse das suas realizações no governo em solenidades oficiais. A maior preocupação está centrada na figura de Lula, multado seis vezes pela Justiça Eleitoral, no valor total de R$ 42,5 mil. A avaliação do PT é a de que inicialmente não deve haver problemas, uma vez que o presidente citou a ex-ministra e não pediu votos. ;O presidente conhece bem as regras e não vai transgredir em nenhum momento;, afirmou o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), coordenador da área jurídica da campanha de Dilma Rousseff.
Lisura
A oposição pretende capitalizar a escorregada de Lula por entender que pode se caracterizar como crime eleitoral. Para o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), o fato de Lula ressaltar os feitos de Dilma Rousseff no governo prejudica a lisura das eleições. ;Essa repetição de erros cria, inclusive, uma antipatia nos eleitores. O presidente precisa ficar atento a isso. Agora, as sanções do TSE não vão se resumir a multinhas. Os partidos de oposição vão tomar medidas contra esse tipo de atitude;, afirmou o senador.
Ricardo Penteado, coordenador jurídico da campanha do candidato do PSDB, José Serra, disse que estuda entrar com ação. O partido solicitou as gravações do evento para analisar a fala do presidente. A sanção, segundo a legislação, vai de multa à cassação do diploma do candidato eleito e à inelegibilidade do ocupante do cargo público.
1 - Agora, oficialmente
Lula vai pedir votos oficialmente para a sua candidata amanhã, no Rio de Janeiro. Ele participará de um comício na Cinelândia, zona central da cidade, com Dilma, Sérgio Cabral, candidato à reeleição, e os candidatos ao Senado, Lindberg Farias (PT) e Jorge Picciani (PMDB). Antes, a petista participa de uma caminhada da Igreja da Candelária até o local do ato eleitoral. No sábado, Dilma segue para Jales (SP), onde terá um ato em conjunto com Michel Temer (PMDB-SP), seu candidato a vice na chapa.