Jornal Correio Braziliense

Politica

Serra volta a subir o tom contra Lula

Em debate na Confederação Nacional da Agricultura, tucano contraria tática inicial de poupar o presidente dos ataques eleitorais

Sem concorrentes à mesa e com o público sintonizado à sua posição política, o presidenciável tucano, José Serra, deixou claro ontem que é o candidato da direita à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que um eventual governo do PSDB, a partir de janeiro de 2011, tratará com mais rigor organizações como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Na sede da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), no evento programado para ser um debate entre os presidenciáveis, Serra ficou à vontade para engrossar o discurso contra Lula e contra a candidata petista, Dilma Rousseff. As três horas de falas de Serra indicam claramente que o tucano deve partir para o confronto na campanha, contrariando a tática inicial de poupar o popular presidente Lula dos ataques eleitorais. Nem Dilma nem a candidata Marina Silva (PV) compareceram ao debate da CNA. Durante a fala inicial de 35 minutos e as respostas às 10 perguntas formuladas ao candidato, que consumiram mais duas horas de explanação, José Serra intercalou exatos 19 pontos críticos do governo Lula e da candidatura de Dilma, conforme interpretação do tucano. A acusação mais grave e melhor recebida pelo público de grandes proprietários de terras foi o financiamento do governo ao MST, por meio de entidades não governamentais ligadas ao movimento e que podem receber recursos do governo federal para programas de capacitação, por exemplo. ;O MST diz ser um movimento de reforma agrária, mas é um movimento de revolução socialista. Ao governo não compete dar dinheiro a movimentos de forma disfarçada;, disse Serra, na primeira das quatro referências ao MST durante toda a sua permanência na CNA. Para o tucano, seus adversários do PT devem ter mais clareza sobre o apoio dado ao MST. ;Uma hora eles põem o boné, outra hora, escondem o boné.; Tanto Lula quanto Dilma, em discursos públicos, já usaram o boné do movimento. ;É muito fácil falar que é contra invasão (de terras) e vestir o bonés dos invasores logo em seguida;, criticou Serra. ;Estatizar; A defesa pelo direito da propriedade, como forma de minimizar a insegurança jurídica no campo, foi cobrada pela presidente da CNA, senadora Kátia Abreu (DEM-TO), no início do evento com o presidenciável. Foi a senha para José Serra martelar o discurso contrário a invasões de terra e criticar o governo Lula. ;O MST tem toda a liberdade para pregar suas ideias, mas não pode fazer isso com dinheiro público e desrespeitando as ordens existentes.; Uma das falhas do governo Lula apontadas por Serra, que perpassam por razões ideológicas ; insistentemente citadas pelo tucano ;, é o confronto entre os ministérios do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura. O primeiro atende os pequenos agricultores, o segundo, os grandes, de acordo com o candidato do PSDB. ;O ministério para a pequena propriedade é de esquerda. Para a grande propriedade, de direita. Para a média, deveria haver um ministério de centro;, ironizou. Serra disse que todas as estatais brasileiras e as agências reguladoras foram ;apropriadas; por partidos e sindicatos durante o governo Lula e que, por isso, é preciso ;estatizar o Estado brasileiro;. ;Eu criei a Anvisa, e ela foi loteada para políticos que ficaram sem mandato. Os Correios estão arrasados. Viraram um ponto de ônibus.; O tucano criticou ainda os juros altos, a carga tributária, os investimentos governamentais, a moeda valorizada, as condições dos portos brasileiros, a inoperância das parcerias público privadas (PPPs), as concessões no transporte, a ;anárquica; defesa agropecuária, as condições do crédito rural e a cobertura de saneamento básico. Falou em corrupção e falta de planejamento. Ao longo de suas falas, o ex-governador de São Paulo José Serra pontuava os cargos públicos que já ocupou, de presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), na década de 1960, a ministro de Planejamento e de Saúde, entre 1995 e 2002, durante os mandatos de Fernando Henrique Cardoso. A quem lhe fazia perguntas na CNA, o candidato pedia para ser chamado de Serra, ou de Zé. ;Não se vende um candidato como se vende um iogurte. Tem candidato evitando até entrevista;, disse Serra, em crítica a Dilma Rousseff.
Ouça trechos da entrevista com o candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra
Índio e as amantes O candidato a vice-presidente na chapa do PSDB, deputado Índio da Costa (DEM-RJ), bocejou algumas vezes enquanto seu parceiro na disputa eleitoral, José Serra, atacava insistentemente o governo Lula, em um discurso longo, burocrático e repetitivo. Índio despertou quando foi citado, e citações um tanto quanto íntimas. O tucano, em meio ao discurso proferido aos grandes produtores rurais, falou das amantes de Índio. ;Ele é namorador, e me disse por telefone: ;Não tenho amantes;. Eu respondi para o Índio: ;Não exagera;.; No trato às amantes, Serra pediu para seu vice ser discreto. ;Não estou pregando para pularem a cerca no casamento.; O primeiro dia de Índio como candidato oficial a vice-presidente começou no Twitter (veja ao lado), onde postou frases de até 140 caracteres provocativas à candidata petista Dilma Rousseff e ao presidente Lula. Foi pego de calças curtas pouco tempo depois de chegar com José Serra à sede da CNA, pelo próprio Serra. Nem o tucano deixa de externar as impressões sobre a vida amorosa do deputado, o assunto mais comentado desde o anúncio de Índio pelo DEM, na quarta-feira. ;Índio é um homem jovem, de 40 anos, preparado, com experiência. Vai crescer muito;, começa Serra, depois de uma breve primeira referência ao deputado, num assunto um pouco mais árido ; a redução dos repasses do Fundo de Participação de Municípios (FPM) para o Rio de Janeiro. Passou a falar da vida amorosa de Índio, que é solteiro. O tucano se mostrou irritado com as informações publicadas pela imprensa sobre seu vice, que seria genro do ex-banqueiro Salvatore Cacciola. ;Eu perguntei se era verdade e ele me disse que havia namorado uma filha do banqueiro.; Durante todo o discurso de Serra, Índio permaneceu na primeira fila do auditório. Às 13h30, quando terminou a sabatina, juntou-se ao candidato na mesa central do palco. O candidato a vice decidiu evitar conversar com os jornalistas, muito mais interessados em declarações de Índio do que de Serra. Quando o tucano respondia às perguntas dos repórteres ; ;Não vou falar dessa história de vice, eu preciso fazer campanha; ;, o vice reaparece. Fica atrás de Serra, não fala nada, apenas se posiciona na direção das câmeras de TV. Depois, a dupla deixa o auditório ciceroneada pela correligionária de Índio, senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da CNA. (VS) Tuitadas do Índio No primeiro dia como candidato a vice, o deputado Índio da Costa usou o Ttwitter para duelar com a candidatura de Dilma: "Lula diz que não me conhece. Esqueceu que tentou barrar o Ficha Limpa, mas não conseguiu" "Dilma fugiu do debate com Serra na CNA. Se ela preferir debater comigo, estou à disposição" "Tem petista que diz que sou inexperiente. Tenho mais experiência que a Dilma. Muito mais!" Dilma contra os factoides Em Campinas, onde participou de encontro com prefeitos do interior de São Paulo, a candidata do PT ao Palácio do Planalto, Dilma Rousseff (PT), disse que não fugiu de nenhum debate. Sem citar nomes, atribuiu a falta de discussão consistente sobre programas de governo a ;factoides;. A ex-ministra da Casa Civil também se recusou a rebater as críticas do deputado Índio da Costa, vice de Serra, pelo Twitter. Ele também acusou a petista de fugir do debate. ;Não tenho o prazer de conhecer o deputado Índio da Costa. Quanto às demais questões, eu não vou comentar porque não é apropriado.; Durante o encontro com os prefeitos, Dilma disse ainda que as obras de implementação do trem de alta velocidade, conhecido como trem-bala, que ligará Campinas ao Rio de Janeiro, passando por São Paulo, estão previstas para começar no ano que vem. Informou ainda que o governo federal estuda a expansão da linha para dois novos trechos, que constam no Plano Nacional de Viação. ;A obra deve começar em 2011 e, além desse trem, o governo estuda dois novos trechos: de Campinas a Belo Horizonte e de Campinas ao Triângulo Mineiro.; Ontem, o Tribunal de Contas da União (TCU) autorizou a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) a dar início à licitação para a concessão do serviço de transporte. Tráfico A petista também defendeu a necessidade de o governo federal investir em tecnologia no combate ao tráfico de drogas. Na opinião de Dilma, é ;muito grave; a entrada de drogas pelas fronteiras do país e constatou não ser suficiente a fiscalização física. ;Nossa fronteira é muito extensa, não sendo possível colocar guardas em toda ela.; Ao término do evento, Dilma deu ainda um pitaco para o jogo de hoje do Brasil contra a Holanda, pelas quartas de final da Copa da África do Sul. ;Espero que o placar seja 3 a 0, mas acredito que será 2 a 0;, chutou. O que foi dito Durante o encontro na CNA, José Serra abusou das frases irônicas, quase todas direcionadas ao presidente Lula e à candidata Dilma Rousseff, do PT. Confira:
  • ;Os ossos de (Karl) Marx devem estar tremendo no túmulo.
  • Esse pessoal se considera de esquerda e repudia o avanço e o progresso técnico. Marx defendia isso;
  • ;Em investimento de governo, o Brasil é lanterninha ; sabe, lanterninha, aquela coisa de futebol? Só está à frente do Turcomenistão, que, sinceramente, eu nem sei o que é;
  • ;Toda vez que o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) publica alguma coisa crítica, como foi essa pesquisa sobre a situação dos portos, pode saber que é tão verdadeiro quanto a Bíblia;