São Paulo ; A demora do PSDB em escolher o vice do presidenciável José Serra custou noites em claro. Para o tucano, que é notívago, não é nada. Para políticos do DEM, que estavam exaustos desde segunda-feira, o passo decisivo foi a reunião com a presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, no Hotel Emiliano, na terça-feira à noite, na badalada Rua Oscar Freire, em São Paulo.
O encontro foi uma extensão da reunião de segunda. Nela, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), resolveu pôr as mangas de fora. Disse aos tucanos que, sem o seu apoio direto, Serra perderia votos em seu maior reduto eleitoral. Os tucanos argumentaram que a saída do Democratas da aliança traria prejuízos em estados cujo apoio do PSDB era fundamental para eleger políticos do DEM.
Na reunião, Fernando Henrique mais ouviu do que falou. A cúpula do PSDB já conhecia a sua opinião. FHC sempre achou que uma chapa puro-sangue só valeria a pena se o vice fosse o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves. O ex-presidente também nunca simpatizou com a escolha do senador Álvaro Dias para o posto. Depois do encontro, FHC telefonou para Serra e Sérgio Guerra, presidente nacional da legenda, e disse que era a hora de jogar a toalha.
Na tentativa de conter a fúria do DEM, Serra chegou a telefonar para Aécio Neves. Pediu que ele participasse da reunião de terça-feira, que ocorreu na casa de Gilberto Kassab, e do encontro no Hotel Emiliano. O governador mineiro preferiu ficar fora da confusão e, pelo telefone, sugeriu aos tucanos ligados diretamente ao imbróglio que acatassem a exigência do DEM e trocassem Álvaro Dias por Índio da Costa.
Ainda na reunião de quarta, os tucanos procuraram uma forma de fazer a substituição sem prejudicar o prestígio de Álvaro Dias. Chegou-se a cogitar que o senador poderia abrir mão do posto de vice publicamente alegando que não poderia ficar em palanque oposto ao do irmão, senador Osmar Dias (PDT-PR), já que há um pacto de família nesse sentido.
Diálogo
Até o último minuto do segundo tempo, Serra ainda estava em dúvida se aceitava o nome de Índio da Costa. ;Foi uma longa negociação. Horas e horas de diálogo com Serra e Aécio. Conseguimos convencê-los de que o deputado é jovem, tem uma atuação no Rio de Janeiro muito expressiva e trabalhou de forma muito correta no projeto Ficha Limpa. Está todo mundo convencido de que é um nome que vai agregar muito;, ressaltava o presidente do DEM, Rodrigo Maia, nos diálogos com caciques tucanos.
Nos raros momentos em que não foi centralizador, Serra ouviu muitas opiniões. Recebeu em casa na madrugada de ontem o presidente do PPS, Roberto Freire, que sugeriu a aceitar Índio como vice. O argumento foi simples: Índio não tem nada que o desabone e o vice de Dilma, Michel Temer (PMDB), também. Até aí há um empate. Índio tem pouca experiência na vida pública. Dilma também. O candidato do DEM tem ainda uma característica que Serra adora: se eleito, Índio será um vice discreto, como o tucano sempre sonhou. Nesse último quesito, Dias não se encaixava de jeito nenhum.
A cronologia da confusão
Os problemas com a escolha do vice de José Serra começaram logo depois que ele foi oficializado candidato à Presidência da República. Ele esperava que o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves fosse aceitar o posto. O político mineiro declinou do convite e vai disputar uma cadeira no Senado.
# Para enfrentar a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Nordeste e o crescimento de Dilma Rousseff entre as mulheres, o PSDB cogitou escolher um vice de Pernambuco ou da Bahia ou uma candidata do sexo feminino.
# Na sexta-feira passada, o PSDB fez uma reunião com partidos aliados e descartou o DEM. No encontro, os tucanos batem o martelo e escolhem o senador Álvaro Dias para ser o vice de José Serra.
# No mesmo dia, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) divulga na internet a escolha e atropela o anúncio oficial. Ao saber da informação, o Democratas ameaça sair da aliança caso Serra não indique um vice da legenda.
# No sábado, o PSDB disse que manteria Dias na chapa. Serra defendeu o nome do senador para eliminar o palanque que o PT estava montando no Paraná, no qual Dilma ficaria ao lado do senador Osmar Dias (PDT-PR), irmão de Álvaro. O DEM engrossou as ameaças.
# O fim de semana passado foi marcado por inúmeras reuniões que tiraram o sono tanto do DEM quanto dos tucanos. O impasse só foi resolvido na madrugada de ontem, quando o PSDB resolveu trocar Dias por Antônio Índio da Costa (DEM-RJ).