O senador Álvaro Dias (PSDB-PR), convidado para ser o vice de José Serra (PSDB) na disputa presidencial, abriga em seu escritório de apoio no Paraná funcionário lotado no gabinete, mas que dá expediente no Partido da República (PR) do estado. A exemplo do que acontece no gabinete do senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), que manteria em seu escritório de apoio funcionários suspeitos de serem fantasmas, o servidor Adilson Bernert não trabalha as 40 horas semanais determinadas pela diretoria-geral do Senado.
Lotado como motorista, o assessor de Álvaro Dias foi encontrado pelo Correio na sede do PR, no estado. No escritório de apoio, a atendente informa que Bernert não é motorista, mas um ;assessor normal; e que vai ;às vezes; ao local e poderia ser localizado pelo celular. O próprio senador confirma que o assessor não trabalha no gabinete. ;Ele é nomeado como motorista e cumpre a função de motorista. É contador, também, cumpre horário e depois realiza seus trabalhos;, afirma o senador. ;Eu estou em Brasília, então ele não tem função. Ele tem essa liberdade de trabalhar. Ele se apresenta (no escritório de apoio) e, não tendo trabalho no momento, é liberado;, explicou Álvaro Dias.
De acordo com a Secretaria de Comunicação do Senado, os comissionados têm que cumprir ;oito horas de trabalho e qualquer funcionário que esteja trabalhando em outra função nesse horário em tese está cometendo ilícito;. As atividades paralelas só seriam permitidas ;à noite, se a jornada não coincidisse; com o trabalho.
A movimentada rotina de contador do assessor de Dias supera o trabalho no gabinete. O suposto motorista do tucano foi tesoureiro da campanha de Álvaro Dias na disputa pelo governo do Paraná em 2002, trabalhou para o tucano em 2006 e agora cuida das finanças do PR no estado. Só em 2006, seus trabalhos de contabilidade renderam mais de R$ 75 mil apenas para sete clientes, entre eles o senador, que pagou R$ 31 mil pelos serviços. Apesar do volume de trabalho, Bernert afirma que é contador autônomo e que acumula as funções de motorista e responsável pela contabilidade do PR, sem prejuízo de nenhuma das funções. ;Sou motorista dele (Álvaro Dias) e contador autônomo. Trabalho para o senador Álvaro Dias. O profissional não pode se ater a vínculos partidários. Sou motorista mesmo e contador. Hoje em dia a gente tem que ser polivalente;.
Consulta
De acordo com norma interna que rege a contratação de funcionários, os gabinetes só podem nomear como motorista um funcionário, com salário de aproximadamente R$ 3 mil. Para manter o motorista que o serve em Brasília, o gabinete tem que usar o recurso de contratar um terceirizado com a verba de gabinete. Dias afirmou que fez consulta à direção do Senado para saber se há algo irregular na contratação do suposto motorista.
Inquérito contra Efraim no STF
O presidente do inquérito da Polícia Legislativa do Senado que investiga a contratação de funcionários fantasmas no gabinete de Efraim Morais (DEM-PB), Everaldo Bosco, entregou no início da tarde de ontem no Supremo Tribunal Federal o resultado das investigações contra o parlamentar. O número do inquérito envolvendo Efraim é o 2.987. Nas 740 páginas reunidas em quatro volumes, as autoridades policiais do Senado apresentaram relatos de servidores e documentos que mostram indícios que podem responsabilizar Efraim pelo suposto esquema de funcionários fantasmas.