A senadora Marina Silva inaugurou ontem uma nova fase na campanha à Presidência da República. Em palestra para estudantes na Universidade Católica de Santos (UniSantos), Marina tinha como tema Meio Ambiente e Educação. Mas, em seu discurso, a senadora adotou o caminho dos afagos ao governo do presidente Lula e tentou descolar sua imagem da ex-ministra chefe da Casa Civil Dilma Rousseff. Cerca de 200 pessoas acompanharam as palavras da candidata.
A mudança, aparentemente de ordem estratégica, teria sido resultado de uma reunião no fim de semana. Partidários envolvidos na campanha teriam identificado que a estagnação de Marina abaixo dos 10% nas pesquisas que medem os índices de intenção de voto estaria relacionada à identificação do eleitorado da candidata como oposição ao presidente Lula, dono de um índice de aprovação recorde entre a população.
;Lula provou que é possível crescer e distribuir o bolo ao mesmo tempo. Ele fez muito, mas é preciso fazer mais;, disse. Ao fim da palestra, a senadora fez referência ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a principal bandeira de Dilma. ;Se existe um programa que precisamos acelerar é o da educação;, defendeu, acompanhada do candidato do PV ao governo de São Paulo, Fabio Feldman.
Em coletiva à imprensa, já na Associação Comercial de Santos, a senadora negou que haja uma mudança de rota em sua campanha e afirmou que seu discurso é o mesmo de quando deixou o governo e se filiou ao Partido Verde. Segundo Marina, sua candidatura é na verdade uma alternativa ao embate entre tucanos e petistas. ;Estamos à frente, não somos opositores.;
Questionada sobre a possibilidade de angariar votos do ex-governador e candidato do PSDB, José Serra, Marina respondeu que espera conquistar os eleitores que já votaram nos dois partidos e desejam um governo suprapartidário.
Marina estava acompanhada da filha, que passa férias na cidade, e dos sogros, que moram em Santos. Segundo assessores, a senadora assistiu ao jogo com os familiares, após seus compromissos políticos. Em sua visita, Marina lembrou ainda que chegou a morar na região por um ano e oito meses, quando passou por tratamento médico.
SEM PERGUNTAS, NADA DE CNA
No fim da tarde, Marina ameaçou não ir a uma sabatina com presidenciáveis promovida pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), prevista para quinta. Alegando desconfiar das regras, a senadora exigiu que as perguntas fossem previamente submetidas a ela para evitar ;pegadinhas;. A CNA é presidida pela senadora Kátia Abreu (DEM-TO), líder da bancada ruralista e aliada de Serra. ;Se não mudarem as regras, não iremos. Sabemos que há certa proximidade da CNA com o PSDB. Por isso, pode pairar dúvida;, afirmou. Dilma Rousseff, candidata do PT, já avisou que não estará no evento.
;Não sou um poste;
Roberto Stuckert Filho/Flick
Antes da entrevista ao Roda Viva, Dilma assistiu ao jogo com Palocci
O principal compromisso de campanha de Dilma Rousseff, do PT, ontem, foi a participação no programa Roda Viva, da TV Cultura. No início da entrevista, a ex-ministra da Casa Civil negou que não tenha experiência suficiente para disputar as eleições para o Palácio do Planalto e refutou as comparações com o ex-governador de São Paulo, seu adversário José Serra (PSDB). ;Acho que não pareço ser um poste, não é? Acho que fazem uma confusão deliberada entre experiência eleitoral e experiência administrativa;, comentou. ;Eu conheço o governo e o Brasil porque não gerimos somente de Brasília. Experiência administrativa tenho bastante. Presidi o conselho da Petrobras nos últimos sete anos e meio. Conheço os problemas dos municípios. Mas concordo que eu não tenho experiência eleitoral;.
Sobre as comparações com o presidenciável tucano, José Serra, Dilma disse que o período eleitoral servia para deixar à mostra as distinções entre propostas. ;Em eleição a gente deixa claras as nossas diferenças, mas é preciso governar para todos os brasileiros. Eu acho que é possível governar com todos os partidos, até porque é essa a realidade quando se pensa nos estados e municípios. Temos diferenças, não somos todos iguais. Reconheço o esforço para sairmos do processo inflacionário (feito durante o governo FHC), mas fomos bem adiante;, ressaltou.
Antes de se dirigir à emissora, Dilma assistiu ao jogo da Seleção Brasileira ao lado do ex-ministro Antonio Palocci.