Jornal Correio Braziliense

Politica

PT faz alianças incômodas para garantir palanque

Para garantir apoio a Dilma Rousseff, PT tem conversado com políticos de várias tendências, alguns com passados que não se enquadram no perfil ético que a legenda defendeu durante muitos anos

Trajetórias políticas importam pouco. A política como ela é espreita não apenas o PSDB, que corre a afagar o petebista Roberto Jefferson, em nome de alguns minutos de propaganda eleitoral gratuita. Em defesa da coligação nacional, a estrela do PT negocia no Pará com Jader Barbalho (PMDB) e no Rio de Janeiro, com o ex-governador Anthony Garotinho (PR). No Maranhão, o PT nacional implode a pretensão de aliados históricos como o deputado federal Flávio Dino (PCdoB) para apoiar a reeleição de Roseana Sarney (PMDB). A reboque adula o ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima (PMDB), candidato ao governo da Bahia, já que impossível foi forçar o governador Jacques Wagner (PT) a desistir da reeleição. Em Minas, a lógica nacional enquadra petistas e a candidatura de Fernando Pimentel (PT) em favor do ex-ministro das Comunicações e senador Hélio Costa (PMDB), ainda que petistas tentassem resistir chamando prévias partidárias.

Com o mapa da distribuição geográfica dos votos à frente, o bunker da campanha petista faz projeções que se aproximam muito daquelas estimadas pelo comitê de José Serra. No Ceará, em Pernambuco, no Maranhão, no Amazonas, no Pará, no Acre, no Rio Grande do Norte, em Alagoas e na Bahia a petista Dilma Rousseff irá disparar na dianteira do tucano. Em contrapartida, no Rio Grande do Sul, no Paraná e em Santa Catarina, o revés é do PSDB. Serra tenderá a crescer no Mato Grosso, em Goiás, no Piauí na Paraíba e em Sergipe. A vantagem que Serra deverá atingir em São Paulo, estimada em 4 milhões de votos, será compensada no Rio de Janeiro, no Espírito Santo e em Brasília. Minas Gerais é o fiel da balança. Petistas não titubearam em garantir o PMDB e contar com a intervenção nacional do presidente do PR, Alfredo Nascimento, para puxar PR de Clésio Andrade à coligação majoritária.

A polarização entre petistas e tucanos será sangrenta. Em nome dela, torna-se exótica a história do deputado federal Jader Barbalho, que está entre as 15 pessoas denunciadas pelo Ministério Público Federal no Tocantins, sob acusação de desvio de verba em um projeto da extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Jader foi citado em depoimentos na época da eclosão do caso, em 2001 como o mentor de desvios de R$ 16,7 milhões de verbas do Fundo de Investimentos da Amazônia em projeto da empresa de grãos Agroindustrial Dona Carolina. Ainda em 2001, após denúncias sobre desvios na Sudam, Jader renunciou à presidência do Senado e, mais tarde, ao seu mandato, evitando a cassação. No ano seguinte, voltou à vida pública como o candidato mais votado à Câmara em seu estado, com 344 mil votos. Para se vencer no Pará, Jader é preciso, diz o dito popular. E no Pará o PMDB de Jader lançou a candidatura própria do presidente da Assembleia, Domingos Juvenil. Juntos na disputa nacional, mas não na regional, haverá conversa só no segundo turno, na hipótese de petistas e peemedebistas não se enfrentarem.

Em função das condenações e ações em curso no Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) contra o ex-governador Anthony Garotinho, o PR poderá ter de recorrer a um ;plano B; para evitar que as alianças eleitorais com o senador Marcelo Crivella (PRB) e com Dilma Rousseff fiquem prejudicadas. A direção do PR poderá apresentar outra candidatura ao governo do Rio, caso, até 5 julho ; data limite para o registro de candidaturas ; Garotinho não tenha conseguido anular no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a decisão do TRE-RJ, que o deixou inelegível.

Rifado

A vantagem eleitoral que terá no Maranhão manteve firme o apoio do PT à família Sarney. Ao rifar Flávio Dino, a garantia dos votos pesou mais do que a lista de acusações, denúncias e processos que se acumulam desde que, em 2002, a então governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB-MA), viu naufragar a sua candidatura à Presidência da República. Na ocasião, a Polícia Federal, que investigava fraudes na Sudam, encontrou durante a operação na empresa de consultoria Lunus, do marido de Roseana, Jorge Murad, R$ 1,34 milhão. A operação policial foi atribuída a uma ação política planejada pelo então candidato tucano José Serra e executada por ordem daquele que era o ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira.

Pragmatismo político é também o mote para o sucesso eleitoral. Para não perder a aliança nacional com o PMDB, o PT entregou alguns estados, entre eles, Minas. Embora tivesse dois fortes candidatos ao governo do estado, o ex-prefeito Fernando Pimentel e o ex-ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Patrus Ananias, o acordo nacional em torno da candidatura de Hélio Costa foi selado. Depois de vencer as prévias do PT, que indicaria o candidato do partido ao governo estadual, Fernando Pimentel abriu mão da disputa para concorrer ao Senado Federal. Patrus Ananias, que seria o candidato natural ao Senado Federal, deverá ser o vice na chapa de Hélio Costa.