Aprovar o nome do deputado Michel Temer para vice-presidente na chapa da petista Dilma Rousseff deixou de ser a única opção para os filiados do PMDB que participam hoje da convenção do partido. Confiante na indicação tranquila do presidente da Câmara, a Executiva Nacional da sigla aceitou a inscrição da pré-candidatura à Presidência do ex-governador do Paraná Roberto Requião. A opção estará expressa numa cédula em que constará ainda a indicação de um peemedebista desconhecido, Antônio Pedreira, do PMDB do DF. A escolha ; ao menos no campo teórico ; ficará entre Temer para vice e Requião ou Pedreira para presidente.
Depois da ameaça de Requião de contestar a convenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), caso sua postulação não fosse aceita, os caciques do partido se encontraram ontem, num almoço, e concordaram com a indicação do ex-governador para a disputa pela candidatura à Presidência. A avaliação da Executiva é que não há a menor chance de Requião ser o escolhido do partido. Assim, haverá duas cédulas: em uma, constará a indicação de Temer como vice de Dilma; na outra, a escolha entre Requião e Pedreira. Os convencionais podem escolher em qual das duas cédulas vão votar.
Ao que tudo indica, a decisão de incluir as duas pré-candidaturas na pauta não resultou em alteração do edital que convocou os peemedebistas para a reunião, como queriam Requião e o senador Pedro Simon (PMDB-RS). A mudança, na verdade, teria sido registrada em ata, documento que não havia sido encaminhado à defesa jurídica do ex-governador do Paraná até o fim da tarde de ontem. ;A Executiva Nacional nos comunicou que a inscrição foi acolhida. Eles ficaram de nos repassar a ata;, afirmou o advogado gaúcho Milton Cava Corrêa, para quem Requião, por procuração, conferiu poderes para acionar a Justiça.
Segundo Milton, o pré-candidato desistiu de contestar a convenção no TSE. ;Isso só ocorreria se o nome dele não fosse colocado na convenção. Ele cumpriu todas as determinações para ter o nome submetido a apreciação.; O registro da pré-candidatura foi feito na quarta-feira, dia 9, depois de outras três tentativas. Pelo regimento interno, a inscrição deve ser feita 48 horas antes da convenção, o que foi cumprido por Requião. Certa de que não haveria pré-candidato à Presidência, a Executiva Nacional do PMDB publicou no último dia 2 o edital que convoca o encontro. O objetivo exclusivo da reunião, conforme o edital, seria a aprovação do nome de Michel Temer à vice-presidência na chapa de Dilma.
Baixas
A convenção do PMDB terá início às 9h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília. Têm direito a voto 569 convencionais, num total de 804 votos (alguns têm direito a mais de uma manifestação). Por causa da aprovação no Senado da emenda que redistribui os royalties do petróleo para todos os municípios e estados brasileiros, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, o prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes, e o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, devem boicotar a convenção. Eles, que encabeçam estados produtores de petróleo, se sentiram ;traídos; pela emenda de autoria de um senador do mesmo partido, Pedro Simon. O projeto, na prática, reparte a fatia do bolo que hoje é dos produtores com todos os estados, num prejuízo estimado em R$ 10 bilhões anuais ao Rio e R$ 3 bilhões para o Espírito Santo.
; Memória
Discórdia no DNA
A iniciativa de Roberto Requião de tumultuar a convenção e o racha do PMDB às vésperas da escolha das candidaturas do partido não são novidades. Em 2002, na disputa que se desenhou entre José Serra (PSDB) e Lula (PT), a indicação da peemedebista Rita Camata, do Espírito Santo, para vice de Serra, causou muito protesto e confusão. O PMDB ocupou o vácuo deixado pelo antigo PFL (hoje DEM) e se aliou aos tucanos.
A convenção do partido foi marcada por quebra-quebra e pancadaria, um protesto da ala jovem do PMDB contra a indicação de Rita Camata. Roberto Requião, então senador pelo Paraná, contestou na Justiça o resultado da convenção e se colocou como pré-candidato à Presidência. Em 2006, coube ao PMDB indicar nomes para a coordenação da campanha pela reeleição de Lula e, depois, cobrar e assumir cargos no governo.