Jornal Correio Braziliense

Politica

A devastação na guerra eleitoral

Política ambiental para Amazônia é questionada por esquecer outros biomas. Reduzir destruição será desafio para o próximo presidente

A decisão política do atual governo de perseguir a redução do desmatamento da Amazônia, o maior e mais importante bioma brasileiro, custou o esquecimento e o avanço da devastação nos outros biomas que compõem a biodiversidade nacional. Até o ano passado, União e estados não sabiam a extensão das perdas, no cerrado e na caatinga, o que começou a mudar ; tardiamente ; com o monitoramento via satélite da destruição nos dois biomas, a exemplo do que é feito na Amazônia desde 1988.

Entretanto, permanece na promessa a divulgação dos primeiros dados oficiais atualizados sobre as perdas na Mata Atlântica, no Pantanal e nos Pampas gaúchos. O foco quase exclusivo no território amazônico gerou críticas à então ministra do Meio Ambiente, a senadora Marina Silva (PV-AC), e gera expectativa sobre qual será a postura dos candidatos à Presidência. Ao criticar o discurso do atual governo, o tucano José Serra deve, numa só tacada, atacar Marina e a petista Dilma Rousseff.

;O governo Lula deixa muito a desejar na questão ambiental. A atuação se faz de uma forma muito localizada, sem uma estratégia maior;, critica o deputado federal oposicionista Arnaldo Jardim (PPS-SP), titular da Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas. O parlamentar ressalta a necessidade de uma política de desenvolvimento sustentável para a Amazônia e maior atenção a biomas como o da caatinga e do pantanal.

Levantamento do Correio mostra que a redução do desmatamento da Amazônia implicou na devastação dos outros biomas, que passaram a abrigar a expansão da pecuária e das novas fronteiras agrícolas. Entidades do terceiro setor que atuam na defesa ambiental reforçam que a demora para fazer o monitoramento de todos os biomas brasileiros é ;conveniente; ao governo, uma vez que se alia a expansão agropecuária à redução do desmatamento da Amazônia.

Entre 2002 e 2009, a perda de vegetação amazônica caiu mais de 65%, conforme os levantamentos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Ainda assim, a Amazônia encolheu 131,4 mil km2 entre 2002 e 2008: a devastação equivale a quase 23 áreas do tamanho do Distrito Federal. No mesmo período, o desmatamento consumiu 115,3 mil km2 no cerrado, na caatinga, na Mata Atlântica e no Pantanal.

A prioridade na área ambiental do governo Lula, ao longo dos sete anos transcorridos até agora, foi a redução do desmatamento da Amazônia. O governo obteve êxito na iniciativa, apesar de as perdas elevadas persistirem. Marina Silva esteve à frente desse projeto ; ela foi ministra do Meio Ambiente entre 2003 e 2008 ; e comprou as principais brigas em sua gestão em razão desse objetivo.

A saída de Marina Silva despertou críticas. ;Nós monitorávamos apenas a Amazônia;, afirmou o então ministro Carlos Minc, substituto de Marina, um ano após assumir a pasta, em maio de 2009. A sucessora de Minc, Izabella Teixeira, declarou ao Correio, em entrevista publicada em 1; de maio, que Marina ;trouxe muito de uma regionalização para a Amazônia;. ;As questões ambientais no Brasil, muitas vezes, são tratadas só a partir da Amazônia. Todos nós sabemos que não são limitadas a apenas isso;, disse a ministra.

ONGS PREENCHEM LACUNAS

; A ausência do Estado no monitoramento dos biomas brasileiros é parcialmente preenchida por centros de pesquisa e por entidades do terceiro setor, como a S.O.S Mata Atlântica. Desde 1985, a organização não governamental (ONG) acompanha a evolução do desmatamento do bioma, o mais devastado do país. Restam apenas 7% de Mata Atlântica. E as perdas continuam. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) prepara a divulgação de dados oficiais sobre o bioma, o Pantanal e os pampas gaúchos. O monitoramento do cerrado e da caatinga já foi divulgado. Mata Atlântica e Pantanal, conforme levantamentos de ONGs, perderam 4,7 mil quilômetros quadrados de vegetação entre 2002 e 2008. (VS)