Jornal Correio Braziliense

Politica

Lançamento da campanha de Serra começa com saia justa

Caciques tucanos se reúnem sem o presidenciável do partido e definem que a campanha precisa ser descentralizada urgentemente, inclusive com a indicação do vice. Em outra frente, democratas reivindicam posto de número dois na chapa

Ezequiel Fagundes

O lançamento da candidatura de José Serra (PSDB) à Presidência da República já começa com uma saia-justa. O local escolhido, Salvador (BA), deveria marcar o pontapé inicial da ofensiva tucana na Região Nordeste. Mas esbarrou na briga paroquial entre o ex-governador Paulo Souto (DEM) e o ex-líder do PSDB Jutahy Magalhães. O tucano, adversário histórico dos aliados do falecido cacique Antônio Carlos Magalhães, vetou o discurso de Paulo Souto, pré-candidato do DEM ao governo do estado. Embora pareça distante, esse tipo de descuido acendeu o sinal de alerta da cúpula tucana. Jutahy é aliado de primeira hora de Serra.

Em reunião realizada na quarta-feira em São Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso encontrou-se com o ex-governador Aécio Neves, com os senadores Sérgio Guerra ; presidente do partido ;, e Tasso Jereissati ; um dos cotados para vice na chapa ;, e com o ex-ministro das Comunicações Pimenta da Veiga. Na oportunidade, a cúpula do tucanato chegou à conclusão de que é grande o risco de desgaste na demora da escolha do candidato a vice.

Preocupado com os rumos da campanha, especialmente depois da ascensão da presidenciável do PT, Dilma Rousseff, nas pesquisas de opinião pública, Fernando Henrique Cardoso determinou que Serra abandone sua rotina ;solitária; de articulação.

Além de cobrar informações sobre o andamento da campanha, FHC expôs a importância de abrir nova frente de diálogo com aliados nos estados. O ex-presidente entende que Serra está cada vez mais restrito aos conselhos do marqueteiro Luiz González, que há 16 anos presta serviços ao PSDB.

Especula-se, nos bastidores, que a aproximação exagerada do pré-candidato com González se deu depois da divulgação das últimas pesquisas eleitorais, que colocaram Serra empatado com Dilma na corrida pelo Palácio do Planalto. Depois de analisar os números, Serra teria ficado abatido com o resultado.

Postura
Sem a presença de Serra, a cúpula tucana se reuniu para propor correções no rumo da pré-campanha presidencial. O encontro informal tratou também da escolha do candidato a vice. Depois de mais de três horas de conversa, a reunião terminou com uma certeza: que é necessário mudar a postura do candidato. Apesar da resistência de Serra, existe um movimento muito forte para emplacar o senador Francisco Dornelles, presidente do PP do Rio de Janeiro, na chapa liderada por Serra. O argumento é que o PP pode agregar segundos preciosos além do tempo de que a coligação PSDB, DEM e PPS já dispõe na TV. O PP tem direito a um minuto e vinte segundos.

Entretanto, outros nomes foram apresentados na reunião, entre eles, dois do DEM: o senador José Agripino Maia (RN) e o deputado federal José Carlos Aleluia (BA), sendo que o último teria maiores condições de abocanhar a vaga. Sem Aécio no páreo, a formação de uma chapa puro sangue sofre pressão dos democratas.

Lembrando que seu partido detém praticamente o mesmo tempo de TV que o PSDB, o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia voltou a reivindicar ontem a vaga de vice para os democratas. ;Somos o segundo maior partido da oposição e achamos natural formar a chapa majoritária com o ex-governador José Serra;, afirmou.

Pré-candidato na missa

; José Serra participou ontem da missa de Corpus Christi no Santuário do Terço Bizantino, zona sul de São Paulo. O presidenciável tucano estava ao lado do prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab (DEM). Havia cerca de 15 mil pessoas no local, e o

pré-candidato do PSDB foi aplaudido quando sua chegada foi anunciada. O convite foi feito pelo padre Marcelo Rossi e pelo bispo dom Fernando. O tucano, que rezou e comungou, foi convidado a ler um trecho da Bíblia, do livro do Gênesis, e foi embora sem falar com a imprensa.

Guerra não quer a vice

Josué Nogueira

Recife ; O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), descartou ontem a possibilidade de ficar com a vice de José Serra, pré-candidato do partido à Presidência da República. ;Não há condição alguma;, frisou. Ele adiantou que as discussões sobre o complemento da chapa estão suspensas por enquanto. ;Firmamos um acordo com os presidentes do DEM e do PPS para que só voltemos a colocar isso em pauta na próxima segunda-feira. Rodrigo Maia (DEM) e Roberto Freire (PPS) já sinalizaram para isso. Combinamos que só voltaremos a falar (sobre o assunto) na segunda;.

Coordenador nacional da campanha de Serra, o pernambucano aparece ao lado do senador Tasso Jereissatti (PSDB-CE) na lista dos que entendem que a entrada de um nordestino na chapa poderia diminuir a rejeição do pré-candidato na região.

Quando começaram a surgir as especulações sobre o nome de Guerra, alguns de seus aliados em Pernambuco chegaram a afirmar que ele poderia aceitar a missão. Disseram que o senador conciliaria as obrigações de coordenação da campanha com a candidatura. Ontem, porém, Guerra afirmou que o trabalho tem sido extenuante e incompatível com a tarefa de assumir a vice.

Projeto nacional
Ao explicar, mais uma vez, por que não concorrerá a novo mandato ao Senado, optando por tentar cadeira na Câmara dos Deputados, Guerra enfatizou que fez uma opção pelo projeto nacional do partido. Disse que a dedicação exigida na disputa de senador é incompatível com a agenda de coordenador da campanha de Serra e de presidente nacional do PSDB. Lembrou, inclusive, que o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, e o deputado federal Antonio Palocci (SP) desistiram de se candidatar para terem mais tempo para a campanha da ex-ministra Dilma Rousseff , pré-candidata petista à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Sérgio Guerra chegou ao Recife por volta das 3h de ontem. No início da tarde, seguiu para Campina Grande (PB), a fim de preparar o terreno para a visita que Serra fará hoje à Paraíba.