Os prefeitos montaram uma estrutura gigantesca para ouvir as propostas de três presidenciáveis. Mas o que marcou o encontro ontem foi o que deixou de ser mostrado pela Confederação Nacional de Municípios (CNM). A pedido da coordenação de campanha de Dilma Rousseff, pré-candidata do PT, foi vetada a apresentação de um filme de três minutos. Temiam-se as críticas à falta de ação do governo para ajudar nas finanças municipais. Mas o que espanta no vídeo é a defesa sem pudores de prefeitos envolvidos em desvios de recursos públicos e ataques à Polícia Federal.
A produção, que ganhou os holofotes no penúltimo dia do encontro que reuniu 4 mil pessoas, aponta a burocracia do governo federal como razão para prefeitos cometerem crimes como desvio de recursos de obras públicas, fraudes em licitações e liberações irregulares de verba, que levaram administradores para a cadeia nos últimos anos. Trinta e três operações, entre elas Sanguessugas, Pasárgada, Navalha, Vidas Secas, são citadas no vídeo feito pela CNM. O diretor da PF, Luiz Fernando Corrêa, que viu rapidamente as cenas, reagiu de pronto: ;As dificuldades não autorizam extrapolar os limites da lei;, rebateu. ;Se fosse assim, todo cidadão teria isso como regra;, rebateu.
O vídeo tem como mote a via-crúcis de um prefeito com o ;pires na mão; pela liberação de verbas na capital federal. Entretanto, com a última parcela do recurso retida pela União, o chefe do Executivo municipal ;desesperado; paga com recursos do orçamento as dívidas com empreiteiras. O resultado da ;boa ação; dos prefeitos brasileiros é a prisão. A história em quadrinhos mostra o personagem no camburão e agentes federais recolhendo computadores. Em seguida, a manchete de um jornal e a lista de operações em que prefeitos foram presos.
O filme seria exibido como introdução à última pergunta feita aos três principais pré-candidatos ao Palácio do Planalto. O descontentamento dos petistas com o filme da CNM foi explicitado durante reunião com assessores de Dilma, Marina Silva (PV) e José Serra (PSDB). A assessoria da ex-ministra da Casa Civil considerou o vídeo ofensivo ao governo federal e sustentou que não condiz com a verdade. Segundo participantes da reunião, os petistas chegaram a ameaçar excluir a participação de Dilma ontem e do presidente Luiz Inácio Lula Silva na cerimônia de encerramento hoje. Oficialmente, porém, a assessoria da pré-candidata negou ter feito a ameaça. A decisão final ficou a cargo da assembleia da CNM, composta por 31 integrantes, que optaram por excluir a produção do evento.
Defesa
Em entrevista coletiva, Dilma disse não ter assistido ao vídeo e defendeu a relação do governo federal com os prefeitos. ;Antes, recebiam os prefeitos com cães e cassetetes. Não recebemos ninguém com pires nas mãos. Eles se referiam às emendas parlamentares individuais;, tergiversou Dilma.
Especialmente irritados com a exclusão do vídeo da agenda de debate, os tucanos classificaram a manobra petista como ;autoritária;. O pré-candidato José Serra ironizou o receito dos assessores de Dilma em exibir a filmagem. ;Eu não vi o vídeo. Me disseram que eu ia assistir e comentar, mas ele não passou não se sabe por que. Com ou sem vídeo, os prefeitos andam de pires na mão por Brasília. Em São Paulo e quando fui ministro da Saúde, eles não andavam com o pires na mão`, afirmou Serra.
Colaborou Edson Luiz