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Reforma política deve ser prioridade do novo presidente da República, destacam especialistas

Rio de Janeiro - A reforma política deve ser uma das primeiras medidas de governo do candidato que se eleger presidente da República, defendeu nesta terça-feira (4) o economista Paulo Guedes durante o debate O Estado que Queremos - o Papel e os Limites do Estado Brasileiro, realizado no Rio de Janeiro.

Para Guedes, as mudanças no sistema eleitoral e político brasileiro podem alterar o tom de denuncismo que hoje predomina nas relações do Congresso Nacional, minimizar a desmoralização dos políticos por parte da sociedade e tornar o sistema mais operacional.


;Se você tiver uma votação massiva de um partido é melhor do que comprar voto a voto no varejo, como acontece hoje no Brasil. Isso é um absurdo! Com duas coisas que é a votação em bloco e a fidelidade partidária você resolve 80% dos nossos problemas e acaba com o balcão de negócios;, afirmou o economista.

O sociólogo Demétrio Magnoli lamenta que algumas questões não estejam sendo colocadas pelos candidatos, como o debate sobre o número de cargos comissionados, e lembra que os partidos só vão agir se forem pressionados. Para Magnoli, a realização das reformas necessárias para o país depende de uma mudança na relação entre eleitos e eleitores.

"Me parece que é um problema de quebrar uma série de mecanismos pelos quais a elite política se torna autônoma em relação aos eleitores, aos que a elegem e passam a funcionar como um sindicato dela mesma. Ou seja, a elite política não defende os interesses de seus eleitores, mas defende seus próprios interesses;, lamentou o sociólogo.


Demétrio Magnoli defende ainda que o debate sobre as mudanças no sistema político e eleitoral brasileiros aconteçam imediatamente, mesmo em um cenário eleitoral delineado pelo que classificou de ;falso bipartidarismo;.

;Esse falso bipartidarismo faz com que se crie grandes pólos de interesse entre dois pólos de poder e não se distinguem as propostas. Não há, por exemplo, nenhum candidato nessas eleições que seja um candidato de centro-direita. É estranho para a democracia. Você tem dois candidatos de centro-esquerda. A Dilma [Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência da República] e o [José] Serra [pré candidato do PSDB à Presidência da República] podem ser classificados assim;, afirmou Magnoli.

Para o especialista, é preciso que as correntes político-ideológicas sejam definidas de forma clara para o eleitor.


Essa também é a defesa do cientista político Eduardo Viola, que aponta a legislação política eleitoral brasileira como um dos principais gargalos em relação à governança no país. Para ele, que cita modelos do sistema político eleitoral dos países da União Europeia e do Chile como exemplos, o Brasil promove o personalismo na política.

;Ele [o candidato] que é o político. Ele não está em um partido. Não tem uma plataforma. Ele olha apenas o crescimento do seu interesse político pessoal e de sua rede de influências. Ou seja, esse é o personalismo na política. Isso é o oposto da construção de uma República moderna que se constrói com instituições. As pessoas passam. O fundamental são as instituições. Ter dois, três ou quatro partidos com programas diferentes, que são instituições e não um troca-troca seguindo interesses pessoais;, explicou Eduardo Viola.

Viola ainda criticou o atual papel do Estado que, segundo ele, ;não é eficaz e não é eficiente e não governa predominantemente a favor do bem público;. Ele defende que a solução para uma atuação eficaz é construir mecanismos para tornar esse Estado um promotor do interesse do povo.

Para o advogado Paulo Uebel, que coordenou o debate, é preciso discutir, para as próximas eleições, como evitar que certos grupos com interesses próprios exerçam papel relevante sobre a definição política do Brasil.

;Todos os grupos de interesse querem ganhar sua parcela, seu privilégio, seu benefício. Isso acaba gerando uma distorção muito grande na democracia. A gente não elege mais os políticos que são melhores para a sociedade, mas, sim, aqueles políticos que têm apoio de grupos de interesse. Depois esses políticos vão ter que pagar essa conta. Isso é péssimo para a democracia brasileira;, alertou Uebel.